Partir para os confins do mundo
Padre Geovane saraiva*
Nossa especial deferência, em agradecimento ao nosso bom Deus, aos personagens iluminados de São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeira das Missões. Ele foi uma criatura de Deus, apaixonado pelo Reino, com grande disposição interior para o trabalho missionário, com seu jeito de viver e testemunhar a fé por ele professada, ao plantar a semente do Evangelho no Oriente. Ela quer nos ensinar sempre que a oração é o sustento da nossa ação missionária, e que o sucesso do nosso trabalho depende da nossa íntima e estreita união com Deus, na qual a contemplação da face de Deus é a arma imprescindível e poderosíssima, no sentido de sensibilizar as pessoas na realização de seus sonhos e projetos. Que a Igreja, sacramento de salvação, continue, corajosamente e com grande sabedoria e ardor, a anunciar o Evangelho da salvação aos homens hodiernos, sem nunca perder de vista a essência da missão, que é partir até aos confins do mundo.
Nesse sentido é que agradecemos igualmente pelo Santo Padre, o Papa Francisco, ao realizar a 10ª Viagem Apostólica do seu Pontificado que durou nove dias, de 19 a 27 de setembro de 2015, em duas etapas: Cuba e Estados Unidos. Ele foi como “missionário da misericórdia”, referindo-se com nítida clareza e já estreitando laços com o próximo Ano Santo da Misericórdia, que terá início no dia 8 de dezembro de 2015, dia da Imaculada Conceição de Maria. Missão de partir aos confins do mundo, que entrou em toda a sua plenitude no coração e na mente do Romano Pontífice, na sua generosa preocupação com o mundo e com todos os seres vivos, sobretudo os que nele buscam a sobrevivência, tendo sempre como prioridade a vida infra-humana de milhares de irmãos.
Como é maravilhoso, neste mês de outubro, o mês das missões, pensar na generosidade, doação e renúncia do missionário da misericórdia, o Augusto Pontífice, que impulsiona a renovar o nosso chamado, à medida que refletimos sobre a vida dos Padroeiros das Missões: de um lado, São Francisco Xavier, com sua vida inteiramente apostólica; e de outro, Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua vida essencialmente de amor e contemplação, vivida a partir do mundo das famílias, bem dentro do que Francisco asseverou, no Encontro Mundial das Famílias de 22 a 25 de setembro de 2015, na Filadélfia: “O amor exprime-se em pequenas coisas, que fazem com que a vida tenha sabor de casa; abrir aos milagres do amor”.
De acordo com o pastor dos empobrecidos, Dom Helder Câmara, “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu”. É exatamente essa afirmação que nos faz refletir sobre São Francisco Xavier (1506-1552), considerado o Apóstolo do Oriente, “o gigante da história das missões”. Ele era um sonhador, cheio de ambição e vaidade! Homem talentoso e de inteligência privilegiada, estudante da Universidade de Paris, doutorou-se em 1526. Ao iniciar sua vida acadêmica em Paris, logo conheceu Inácio de Loyola, com quem estabeleceu uma sólida e estreita relação de amizade. Foi justamente essa amizade e as constantes conversas fraternas, como também uma intensa vida de oração, que o transformaram por completo, passando de sonhador e idealista para um realista, fato evidenciado na sua opção pelo projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo “não” à glória humana, às vaidades e às riquezas ilusórias.
Do mesmo modo, Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), em uma vida tão curta e com morte prematura. Como poderia se tornar Padroeira das Missões, monja de vida contemplativa, sem jamais deixar a clausura? Quais foram as realizações de Teresinha para merecer tão honroso título? Veja o que ela disse: “Quereria percorrer a terra, pregar o teu nome, implantar no solo infiel a tua cruz gloriosa, mas, ó meu Bem Amado, uma missão só não me bastaria: Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo e até nas ilhas mais longínquas”.
Como são encantadoras as palavras do Servo de Deus, Dom Helder Câmara, continuando sua assertiva: “Missão é partir, é não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até aos confins do mundo”. Foi o que fez o Sucessor de Pedro: partiu, voou bem alto, foi bem longe! Abençoou a América, sim, mas também disse diante da dor e gemido do planeta: “A experiência humana da Igreja é a dor de tantos, de muitos, que não podem mais esperar”.
Que neste mês de outubro, Deus nos dê a graça do ardor missionário, inspirados nos santos padroeiros das missões, em Dom Helder Câmara, ao dizer: “Se eu pudesse, sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados”, sem esquecer o Papa Francisco, homem de Deus, ao encantar todo o Universo, concretamente, pelos seus gestos de generosidade, doação, renúncia e entrega de sua própria vida, na abertura e respeito com o mesmo mundo, a ponto de dizer: “Quem sou eu para julgar”.
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com