A missão de construir pontes
Padre Geovane Saraiva*
Para nós, católicos, papa é sempre o nome mais comum e mais usado, quando falamos do Santo Padre, que, em grego, quer dizer: “Pai”. Pai dos amigos de Jesus e de todos aqueles que abraçam a fé, no desejo de viver e de ser coerente ao seu compromisso batismal, realizando a vontade do Pai, em uma bela e rica experiência do amor de Deus, no seguimento de Jesus de Nazaré. Mas podemos chamar o Papa de Vigário de Cristo na Terra, Pastor Universal, Romano Pontífice, Sumo Pontífice, Augusto Pontífice, Sucessor de Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Santo Padre, Sua Santidade, Chefe Visível da Igreja, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália e ainda Servo dos Servos de Deus. Aos 6 de setembro de 2015, como Francisco foi sublime, fazendo jus à sua missão, ao pedir que paróquias, religiosos, mosteiros e santuários da Europa e do mundo inteiro acolham pelo menos uma família de refugiados.
No mesmo dia, o Santo Padre, da janela de seu apartamento pontifício, dirigiu-se aos milhares de fiéis reunidos, que ansiosamente aguardavam o comentário do Evangelho do 23º Domingo do Tempo Comum, precedido sempre da tradicional oração mariana do Angelus, na Praça de São Pedro, na seguinte exortação: “O ensinamento que tiramos deste episódio é que Deus não é fechado em si mesmo, mas se abre e se coloca em comunicação com a humanidade. Na sua imensa misericórdia, supera o abismo da infinita diferença entre ele e nós e vem ao nosso encontro. Para realizar esta comunicação com o homem, Deus se faz homem: não lhe basta falar-nos mediante a lei e os profetas, mas se torna presente na pessoa de seu Filho, a Palavra feita carne. Jesus é o grande ‘construtor de pontes’, que constrói em si mesmo a grande ponte da comunhão plena com o Pai”.
As doces palavras do Romano Pontífice, na expressão-chave “construtor de pontes”, são por demais adequadas à sua própria missão, que, como sinal de amabilidade, em nosso artigo, dentro do mesmo contexto, alhures, nos referimos: Pontífice quer dizer ponte, que tem a função de ligar uma margem à outra de um rio. No caso do Sucessor de Pedro, o múnus que lhe foi confiado por Deus é o de fazer a ligação da Terra ao Céu, em uma misteriosa troca de dons, feliz circunstância em que o povo de Deus, a seu exemplo, sempre mais quer reavivar o dom da fé e avançar para as águas mais profundas, orientados pela palavra segura, fecunda e esperançosa do nosso querido Chefe Visível da Igreja, representante de Cristo aqui na Terra (cf. Lc 5, 4-7; Mt 16, 18).
A missão do Bispo de Roma, expressão dele mesmo, naquela noite de 13 de março de 2013, em um desejo ardente de viver a graça de Deus, decorrente do próprio batismo, a exemplo do Filho de Deus, que não teve medo de profetizar nem de se contaminar quando transgrediu a lei do puro e do impuro (cf. Mc 7, 31-37), toma para si, o Pastor Universal, a defesa da vida concretamente, diante da realidade dolorosa por que passa o mundo, nos imigrantes e refugiados. É assaz louvável a disposição do Sucessor de Pedro de confirmar em toda a sua plenitude os irmãos na fé, indo ao encontro dos cristãos batizados e também das pessoas de boa vontade, chamando-as a perceber as marcas da graça de Deus, associados pelo anúncio e testemunho, abraçados na mesma missão de transformar e fermentar a realidade, manifestando ao mundo os possíveis sinais de esperança e solidariedade.
O Santo Padre disse com força que o Evangelho nos convoca a atender aos mais humildes e abandonados: “Perante a tragédia de dezenas de milhares que fogem da guerra e da fome, é preciso lhes dar uma esperança concreta; não se pode apenas lhes dizer: ‘Ânimo, paciência…!’. A esperança é combativa, com a tenacidade de quem se dirige a uma meta segura”. Peçamos a graça de sempre, e cada vez mais, não só compreendermos a expressão construtor de pontes, mas de vivenciá-la no dia a dia, colocando-a como nossa, ao mesmo em que não podemos nos esquecer das palavras do Servo dos Servos de Deus dirigidas aos bispos da Europa, indicando, na sua profundidade, mais que um simples pedido e sim um apelo de oração e inexprimível súplica, deixando claro que a misericórdia é o segundo nome do amor de Deus, segundo a ordem de Jesus: “Quando fizestes a um destes meus irmãos pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40). Encerro com as palavras do Príncipe dos Apóstolos, invocando a Santa Virgem Maria: “Peçamos a Virgem Santa, mulher de escuta e do testemunho jubiloso, de sustentar-nos no compromisso de professar a nossa fé e de comunicar as maravilhas do Senhor àqueles que encontramos em nosso caminho”. Assim seja!
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com