Homilia Pe. Ângelo Busnardo-O servo sofredor(XXIV Dom. Comum)

XXIV DOMINGO COMUM

13 / 09 /2015

Is.50,5-9ª / Tg.2,14-18 / Mc.8,27-35

O Antigo Testamento anunciou o Messias como Servo Sofredor e como um Rei vitorioso:

1. Servo sofredor: 5 O Senhor Deus me abriu o ouvido, e eu não me mostrei rebelde nem recuei. 6 Entreguei minhas costas aos que me batiam, e minhas faces aos que arrancavam a barba; não escondi o rosto aos ultrajes e cuspidelas (Is.50,5-6).

2. Rei Triunfante: 9 Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta. 10 Ele eliminará de Efraim os carros e de Jerusalém os cavalos, o arco de guerra será eliminado. Ele anunciará a paz às nações. Seu domínio irá de mar a mar e do rio às extremidades da terra (Zc.9,9-10).

As profecias que anunciavam o Messias como servo sofredor deviam necessariamente se realizar antes das profecias que anunciavam Jesus como rei vitorioso, porque, depois de morrer e ressuscitar, o Messias não pode mais ser submetido ao sofrimento e à morte. Mas o ser humano tem tendência a apegar-se à possibilidade de sucesso e rejeitar a hipótese de sofrimento para alcançar o sucesso. O servo sofredor foi ignorado e o povo concentrou suas esperanças na expectativa de um Messias triunfante que aniquilaria os inimigos de Israel e criaria um reino poderoso que dominaria todos os povos.

Vendo os milagres que Jesus fazia, o povo planejava aclamá-lo rei: 14 Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aquela gente dizia: “Na verdade, este é o profeta que há de vir ao mundo”. 15 Percebendo Jesus que pretendiam levá-lo à força para fazê-lo rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte (Jo.6,14-15). O rei com poderes sobrenaturais, em caso de conflitos com reinos adversários, poderia cegar todo o exército inimigo, desarmar os soldados e mandá-los para casa de mãos vazias. Também os apóstolos que largaram tudo para seguir Jesus ignoraram as profecias que o apresentavam como o servo sofredor e esperavam ser beneficiados por cargos importantes no reino que Jesus iria fundar. Sem excluir a ressurreição, Jesus advertiu o grupo que o seguia sobre o que lhe aconteceria num futuro próximo em Jerusalém: 31 Então começou a ensinar-lhes que o Filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, que devia ser morto e ressuscitar depois de três dias (Mc.8,31). Os apóstolos ficaram surpresos e Pedro reagiu, tentando convencer Jesus que não era isto que eles e o povo esperavam: 32 E falava disso abertamente. Pedro levou-o para um lado e se pôs a repreendê-lo (Mc.8,32).

O demônio também não queria que Jesus morresse na cruz, mas que se tornasse um rei poderoso para dominar todos os povos, porque, sem cumprir todas as profecias que lhe diziam respeito, Jesus não teria colocado a salvação à disposição de toda a humanidade. Tanto assim que, nas tentações no deserto, o demônio ofereceu a Jesus todos os reinos do mundo: 8 O diabo o levou ainda a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo com sua glória 9 e lhe disse: “Tudo isso te darei se, caindo por terra, me adorares”. 10 Jesus, então, lhe falou: “Afasta-te, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás” (Mt.4,8-10). Ao tentar convencer Jesus a evitar a morte na cruz, Pedro imitou satanás na tentação do deserto. Na resposta, Jesus foi direto e advertiu Pedro que estava imitando satanás: 33 Mas Jesus voltou-se e, olhando para os discípulos, repreendeu Pedro e disse: “Afasta-te de mim, Satanás, porque não tens senso para as coisas de Deus, mas para as dos homens” (Mc.8,33). Ainda hoje falsos seguidores de Jesus arrebanham adeptos, prometendo-lhes curas, empregos e sucesso nos negócios que nunca se concretizam em troca de pagamento de dízimos, como se Jesus não tivesse vindo ao mundo para salvar, mas para solucionar problemas humanos.

A fé sem obras é morta: 14 De que aproveitará, meus irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Poderá a fé salvá-lo? 15 Se o irmão ou irmã estiverem nus e carentes do alimento cotidiano 16 e algum de vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, mas não lhes derdes com que satisfazer à necessidade do corpo, que adiantaria? 17 Assim também a simples fé, se não tiver obras, será morta (Tg.2,14-17).

A primeira obra que deve brotar da fé é a oração. Quem não tem tempo para reunir-se com a comunidade para louvar a Deus não cumpre o primeiro mandamento. O segundo mandamento não é igual ao primeiro mandamento, mas apenas semelhante: 34 Quando os fariseus souberam que Jesus fizera calar os saduceus, juntaram-se em bloco. 35 E um deles, doutor da Lei, perguntou, para o testar: 36 “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”37 Jesus lhe respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. 38 Este é o maior e o primeiro mandamento. 39 Mas o segundo é semelhante a este: Amarás o próximo como a ti mesmo (Mt.22,34-39). O segundo mandamento é infinitamente inferior ao primeiro como Adão foi criado semelhante a Deus, mas era infinitamente inferior a Ele. Tanto o pobre como o rico, se quiserem salvar-se, devem em primeiro lugar observar o primeiro mandamento. Se um pobre que não pertence à comunidade praticante precisar de ajuda deve antes unir-se aos demais membros da comunidade cristã se quiser ser socorrido.

São Tiago diz: “Se um irmão ou uma irmã estiverem nus ou carentes de alimento”. As palavras “irmão e irmã” no Novo Testamento são usadas estritamente para indicar membros da comunidade católica. Entre os católicos praticantes há pobres e ricos. Se numa comunidade católica, entre os membros praticantes, há irmãos passando necessidade, os demais membros têm obrigação de socorrê-los. Se pobres que não estão cumprindo o primeiro mandamento quiserem ajuda devem antes converter-se e começar a cumprir suas obrigações para com Deus. Ajudar pobres e deixá-los ir para o inferno não é caridade, é filantropia que para a salvação de nada serve: 3 E se repartir toda a minha fortuna e entregar meu corpo ao fogo mas não tiver a caridade nada disso me aproveita (1Cor.13,3). Na carta aos romanos, São Paulo diz que Abraão foi salvo pela fé e não pelas obras: 1 Em vista disso, que vantagem diremos ter obtido Abraão, nosso pai segundo a carne? 2 Pois, se Abraão foi justificado pelas obras, terá motivos de se gloriar mas não diante de Deus. 3 Ora, o que diz a Escritura? Abraão teve fé em Deus e lhe foi creditado como justiça. 4 O salário não é gratificação mas uma dívida devida ao trabalhador. 5 Mas quem sem obra alguma tem fé naquele que justifica o ímpio, a fé lhe é imputada em conta de justiça. 6 É assim que Davi proclama feliz o homem a quem Deus justifica independentemente das obras (Rm.4,1-6).

Ângelo José Busnardo

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Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 09/09/2015
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