Batismo, o Sacramento da Iniciação (161)
BATISMO
O Sacramento da Iniciação
“Vão, pois, e ensinem a todo o povo, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito santo, ensinando-os a observar todas as coisas que lhes ensinei, e eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”.
(Mt 28,19-20)
1. Idéia de Sacramento
Deus nos criou para a felicidade, e para isso elaborou um Plano, planejou nossa felicidade nas grandes linhas e nos menores detalhes. O ser humano, pelo pecado rompeu com Deus, preferindo as trevas da obscuridade à luz da graça divina. Receoso de nos perder novamente, após ter-nos restituído à Vida Nova da Graça, Jesus criou meios de poder continuar ao nosso lado. Em sua sabedoria ele “bolou” encontros conosco, como formas de estarmos juntos em quaisquer momentos da nossa vida. E quais foram as formas que Jesus escolheu para estar sempre conosco?
• Pela oração (Mt 18,20; Lc 11,9s);
• Pelo Espírito Santo (Jo 16,7):
• Pela Igreja (Mt 16,18; At 9,31);
• Pelos pobres e pelos sofridos (Mt 25,31-46)
• Pelas Sagradas Escrituras e
• Pelos Sacramentos (Lc 22,10s; 1Cor 11,23-26).
O que é, então, um Sacramento?
Sacramento é sempre uma forma de nos encontrarmos com Cristo, através de um sinal. Daí a descrição teológica de Sacramento como
Sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo e entregue à Igreja. Significa e produz graça.
Não enxergamos o Cristo em sua figura humana, mas o temos presente através dos sinais-sacramentos. Cristo invisível se torna visível através dos Sacramentos. Jesus é o grande Sacramento do Pai assim como a Igreja, que é o Cristo continuado na história dos homens, torna-se o Sacramento universal da salvação.
Os Sete Sacramentos se perfilam sob esta visão global:
a) Sacramentos de Iniciação
• Batismo
• Crisma
b) Sacramentos de Serviço
• Matrimônio
• Ordem
c) Sacramentos de Libertação
• Unção dos enfermos
• Penitência ou Confissão
d) Sacramentos de amor-união-comunhão
• Eucaristia
Algumas bibliografias colocam a Eucaristia entre os “Sacramentos de Iniciação”.
A rigor, se poderia inserir os Sacramentos em um gráfico mais ou menos assim:
JESUS→ fundou a IGREJA → que ministra os SACRAMENTOS → que conduzem a JESUS.
2. Batismo, o que é?
Existem muitas definições de Batismo; vamos ver algumas delas:
• É a marca do Cristão;
• É ser marcado pelo Espírito Santo para servir a Jesus Cristo e viver como ele viveu;
• É a porta de entrada na família de Deus;
• É a lavagem purificadora que nos livra do pecado original.
Com o Batismo nós nos tornamos membros da Igreja. É gesto redentor de Cristo para conosco; é a nossa adesão a ele, através da fé. O Batismo é aquele sinal de fé sem o qual não se pode entrar no Reino de Deus (cf. Jo 3,5). Batismo, em linguagem comum, é matricular nosso filho ou afilhado na escola de Jesus; é associar e inscrever a criança no clube de Cristo.
O batismo, além de nos tornar membros da Igreja, faz com que o católico passe a ser integrante da Comunidade, daí a razão pela qual se celebra os batizados em cerimônias realizadas na presença de toda a Comunidade, e não reservadamente como se fazia antigamente. Pelo Batismo as pessoas tomam parte na morte e na Ressurreição de Cristo:
Assim também vocês, considerem-se mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 6,11).
Sobre Pecado Original é interessante que se esclareça não se tratar de um pecado que a criança cometeu, ou que cometeram seus pais, nem se trata de erros de “vidas passadas”. O ser humano nasce com um radical desajuste em relação ao fim para o qual foi criado. Deus criou o homem para o amor e para a felicidade, e este, usando equivocadamente sua liberdade tem gerado para si e para outros tantas desgraças e infelicidades. O mal começou a despontar no coração do ser humano quando ele quis ser igual a Deus (cf. Gn 3,5). Com essa atitude o homem introduziu na vida e no mundo o germe da desordem e da desintegração que desconcerta as coisas até sua raiz. Isto não foi atitude isolada de um só homem, ou de um grupo de homens num determinado momento de uma história passada. Existe no ser – por sua fragilidade – uma misteriosa inclinação para o mal, ao mesmo tempo em que brota em seu coração uma sede de redenção e de libertação. Pecado original, portanto, segundo o teólogo Carlos Mesters é
A tendência natural que nasce com o homem, para romper com Deus. Trata-se de uma inclinação natural para praticar o mal e assim contrariar a finalidade para a qual foi criado.
O Batismo, como sinal da Graça de Deus, abre o caminho para que o homem encaminhe sua vida para a Redenção.
Graça é Deus que vem, generosa e gratuitamente, ao nosso encontro, oferecendo sua amizade e seu amor. Na relação das origens, no hebraico vamos encontrar o verbete hesêd que significa misericórdia, graça.
A Graça traduz a experiência religiosa mais original que o ser humano pode realizar, ou seja, um Deus que o ama e vem ao seu encontro com as mãos cheias de presentes valiosos. A Graça nos revela no mistério da salvação, o amor que Deus tem por nós, desde o princípio, afinal, é bom não esquecer que Ele nos amou primeiro... (1Jo 4, 19). Pelo mistério da Graça, Deus vem ao nosso encontro, já dissemos, e nunca é demais repetir, e nós vamos ao encontro dele, aderimos à sua generosa oferta de amor paterno, pela fé. A fé é a nossa resposta aos dons de Deus. A Graça é a parte vital do projeto divino
3. Os sinais do Batismo
Matéria: a água e o óleo
Forma: “Eu te batizo. Em nome do Pai †, do Filho † e do
Espírito Santo †”
Ministro: o Padre (ordinário) o diácono ou leigo (por delegação)
Efeitos: A Graça: a comunhão, a Filiação Divina, a Irmandade com Cristo, a pertença à Igreja, a herança do Reino, a inserção na Comunidade, e a participação ativa no sacerdócio, na profecia e no serviço (realeza) de Cristo.
Gesto: O sinal da cruz e imposição das mãos.
4. Tipos de Batismo
Comum: Aquele que se conhece; o batismo litúrgico feito
através da água.
De sangue: Realizado através do sacrifício cruento dos mártires
da fé cristã, que dão seu sangue pela causa de Cristo; e mesmo sem haverem recebido o batismo, tornam-se batizados pelo sangue derramado na fé.
De desejo: Quando o catecúmeno (aquele que se prepara para o
Batismo) expressa seu desejo de receber o Batismo, e morre antes da recepção do Sacramento, a Igreja considera-o como batizado, através de seu desejo de receber o Batismo. O Batismo de desejo sempre é realizado “na fé da comunidade”. Esse tipo de Batismo também é feito pela família que deseja batizar uma criança que faleceu antes de ser batizada.
De emergência: Diante do perigo de morte, qualquer pessoa pode
Batizar uma criança. É preciso que seja um ato sério, de fé. Derrama-se água sobre a criança, com as palavras da Forma.
5. O Batismo na história
O Batismo é um gesto bíblico. No Antigo Testamento Os judeus, cuja iniciação ocorria através da circuncisão, viam nesse sinal a aliança eterna entre Deus e a humanidade. João Batista, o precursor de Jesus, pregou o Batismo de conversão e penitência, anunciando que após ele virá Jesus, que batizará no fogo e no Espírito Santo, pela fé.
Batismo, biblicamente falando é aliança; teologicamente representa um caminho de iniciação, uma potencialização aos demais sacramentos, e pastoralmente significa o anúncio da boa notícia, o ser Igreja, o seguir a Cristo. O Batismo nos incorpora à Igreja.
6. O que é Igreja?
Igreja é a Comunidade dos que creem em Cristo; é o encontro de todos os batizados que vivem e professam a sua fé. Igreja é o Cristo continuado na história; é o “Corpo Místico de Cristo” (segundo São Paulo) do qual ele é a cabeça e nós somos os membros. A Igreja é o povo de Deus a caminho do céu.
Continuando no campo conceptual vemos a Igreja como o lugar onde se realiza, no mundo, através do tempo, o Plano da Salvação de Deus (cf. LG 20). A Igreja tem como missão primordial a evangelização, anunciando e ensinando a Verdade que é Cristo (cf. RH 14), santificando (cf. LG 39), procurando renovar a humanidade a partir de dentro (cf. EN 18-20), iluminando o mundo com a mensagem da Salvação e da Libertação em Cristo (cf. GS 92), promovendo a dignidade pessoal do homem (cf. GS 41) e servindo a humanidade.
A Igreja tem três missões oriundas de Cristo, que – pelo Batismo – se transferem aos batizados:
Missão Profética – de anunciar o Evangelho e a Verdade,
denunciando seus obstáculos;
Missão Sacerdotal – de santificar o homem e o mundo a Deus;
Missão Real (ou de Pastoreio) – de servir.
7. Por que fazer “curso de Batismo”?
Esta é, sem dúvida, uma boa pergunta. Hoje se observa uma certa resistência dos familiares aos conhecidos “cursinhos de batismo”. Por que se faz vestibular? Por que se faz concurso público? Para evitar que alguém indigno do cargo ou do compromisso, assuma um lugar que não é, por direito e justiça, seu.
Na Igreja fazemos “encontros de preparação” porque – infelizmente – muitos católicos não conhecem sua religião. Muitas pessoas evoluíram, cresceram, engordaram, fizeram cursos, receberam diplomas e coisas assim, mas espiritualmente estão despreparadas, como no dia em que fizeram sua “Primeira Eucaristia”. Já pensaram hoje, alguns de nós, vestindo aquela roupinha branca usada na cerimônia há 15 ou 20 anos atrás? Pois é mais ou menos assim que continua nosso conhecimento sobre nossa religião. E isto é lamentável...
Batismo não é brincadeira nem representação! É coisa séria; é compromisso. Ninguém pode nem deve assumir um compromisso sem estar a par do que vai se comprometer. Muitas pessoas, às vezes, para fugir do compromisso, perguntam “com quantos anos Jesus foi batizado?” Ele foi “iniciado” (o batismo dos judeus) pela circuncisão aos oito dias, levado por seus pais ao templo. No limiar do cristianismo, já adulto ele recebe o Batismo, nas águas do rio Jordão.
E por que, contestarão alguns, não batizar o filho na adolescência ou na idade adulta? Tudo bem! Podem fazê-lo, nada impede... A Igreja apenas recomenda o Batismo para as crianças, para que a família tenha mais tempo de formar, educar e, em paralelo, desenvolver no amor e na fé. Batizar agora ou depois é quase a mesma coisa...
Nesse aspecto, há os que perguntam por que não deixar que a criança escolha se quer ser batizada? Ah, essa pergunta é boa! E vou respondê-la com outra:
Por que não esperar que a criança peça a comida que deseja para depois alimentá-la? Por que não esperar que ela solicite esse ou aquele abrigo quando estiver com frio? Por que não esperar que ela peça para ir à escola antes de matriculá-la? Por que não esperam que ela decida o nome que quer ter? Por que não esperar que a criança escolha o time de futebol que quer torcer? Ora, para estas coisas a gente logo vai escolhendo, por que esperar por outras coisas mais importantes?
8. Análise das realidades
Vivemos em um mundo difícil... As pessoas em geral não tem tempo para mais nada. Os filhos passam pelas mãos da “tia” da creche, pelas “babás”, pelas avós, pelas professoras, pelas empregadas, por analistas, professores de esportes, etc. Tudo porque nós não temos tempo. Pai e mãe hoje são profissionais que trabalham para ganhar dinheiro. Com isso nossas crianças vão se criando sozinhas, jogadas à própria sorte. A formação pode ser delegada, mas a educação (e aí entra a mística, a moral, a fé e os valores) esta é indelegável, esta deve ser feita pela família.
Nossa sociedade hoje é um festival de materialismo, de competição, de hipocrisia, onde cada um quer mostrar que é superior ao outro, que tem mais, que subiu mais na vida, através da superveniência dos bens materiais. Essa ânsia de ter mais, de poder mais, a pessoa de nosso século se esquece de ser mais.
Por tudo isso, para avivar um pouco as nossas consciências, para que a gente pare um pouco e faça uma breve reflexão, é que a Igreja programa esses encontros. Só por isto...
9. Comportamentos incoerentes
O católico que é batizado, que casou na Igreja, que quer o Sacramento do Batismo para seu filho, como uma atitude fé (e não de costume, tipo “todo mundo faz...”). É preciso ser coerente em suas atitudes.
Vivemos na época do relativismo, em que as pessoas tornam tudo relativo, superficial, inclusive a própria fé, buscando explicações e definições para valores que por si são indefiníveis, como o amor, a vida, o respeito, a fé, Deus. Existem pessoas que tem vergonha de falar em Deus, de confessar sua existência, e atribuem tudo a uma misteriosa “força cósmica”. Outros, autossuficientes se acham deuses, e dizem que Deus brota de dentro de cada um, como cada um o conceber. Além disto, o cumulo da incoerência, tem gente que se diz católica, que quer batizar crianças, ser padrinho, mas que frequenta “terreiros de umbanda”, vai a “sessões espíritas”, busca consultas com médiuns e pais-de-santo, lê Chico Xavier, acredita em Horóscopo, guia-se pelo calendário Seicho-no-Iê e outras crendices mais, e se esquecem de Jesus Cristo, aquele que é Caminho, Verdade e Vida.
Existem pessoas, tidas como intelectuais, que afirmam já haver lido centenas de livros, citam escritores, mestres, romancistas e não conhecem a Bíblia, não leram o Evangelho, e não citam Jesus Cristo. Por falar em Bíblia, é salutar lembrar que não resolve só ter Bíblia, mas viver a Bíblia. Os padrinhos, assim como os pais, devem ser modelo e exemplo de coisa boa, gestos positivos, para a criança. Caso contrário, não sei se vale a pena batizar.
10. A liturgia do Batismo
O Batismo possui uma das mais ricas liturgias , que precisa ser entendida para ser corretamente vivida.
10.1. A oração sobre a água → Junto à fonte batismal , o celebrante
bendiz e louva a Deus e pede as bênçãos do Espírito Santo
sobre a água que vai ser usada na cerimônia;
10.2. As promessas do Batismo → Em nome do batizado, pais e
padrinhos proferem as promessas batismais, renunciando ao
pecado e proclamando a fé em Jesus Cristo. As promessas devem
ser feitas e em voz alta;
10.3 O Batismo → A palavra batismo, baptizein, no grego significa
mergulho, imersão na água. É o banho com água, unido à
palavra de vida (cf. Ef 5,26). A água é símbolo de limpeza e de
vida. Pelo Batismo nos tornamos “templos do Espírito Santo”,
morada da Santíssima Trindade, Filhos de Deus, irmãos de
Cristo e de todos os homens;
10.4 A unção com o Crisma → Logo depois do Batismo, a criança é
ungida no peito com o óleo do Santo Crisma, para tornar-se
membro da Igreja e continuador da missão de Cristo. O Batismo
nos torna missionários de Cristo, suas testemunhas em todo o
mundo (cf. At 1,8);
10.5 A veste branca → Significa a “vida nova” que o Batizado passa a
viver a partir de agora. Até aqui a criança só tinha a vida
biológica, Daqui para frente sua vida se completa, pois ela passa
a desfrutar da vida da Graça. Pelo Batismo a criança se reveste
do “homem novo” (cf. Ef 4,24) em Cristo;
10.6 A vela acesa→ Luz e fogo tem também representação de vida.
Antes que Deus criasse a luz, o mundo vivia no caos da
escuridão. O fogo aquece, ilumina e dá acolhida. Cristo é luz do
mundo (cf. Lc 2.32; Jo 8,12) e quer que seus seguidores também
o sejam (cf. Mt 5,14s). O fogo lembra o clarão que iluminava o
caminho do povo hebreu no deserto. O Espírito Santo desceu
sobre os apóstolos em Pentecostes, sob a forma de línguas de
fogo (cf. At 2,3). Na cerimônia, ao acender-se a vela do Batismo
no círio pascal, o celebrante anuncia: “Receba a luz de Cristo!”.
10.7 Éfeta → Embora não seja um rito muito utilizado hoje em dia, o
éfeta (há quem fale em ephetá) é um toque que o celebrante faz
nos olhos e ouvidos do batizando, recordando os gestos de cura
de Jesus. Éfeta quer dizer “abra-se”, palavra que acompanhava
os milagres de restituição da fala ou da audição que Jesus tantas
vezes realizou;
10.8 Ritos finais → São realizadas orações (em geral o Pai-Nosso)
pela criança e sua família, e como “ação de graças” por todos
os bens recebidos, a partir do dom da vida, fechando tudo
com a “bênção final”.
11. A vida comunitária
Os animadores deverão dar uma contínua ênfase à necessidade de uma vida comunitária autêntica, pois “sacramento” sempre supõe a vida em comunidade, a partir da comunidade “Igreja-doméstica”, da Igreja-templo e a vivência associada aos demais sacramentos.
12. Bibliografia recomendada
Batismo das crianças – Doc. 19 da CNBB
Bedin, J. Os Sacramentos da Igreja, Ed. Recado
Betto (frei) e outros . Batismo, o que é? (Cartilha) Ed. Vozes
Boff, L. Os Sacramentos da vida e a vida dos Sacramentos. Ed. Vozes
Galvão, A. M. Eu te batizo, Ed. AP
O dom de Deus, Ed. Ave-Maria
Sacramentos –Sinais do amor de Deus. Ed. Vozes
Gopegur, R. Encontro com Deus na vida. Ed. Loyola
Mesters, C. Paraíso Terrestre, Ed. Vozes
Ribolla, J. Os Sacramentos trocados em miúdos. Ed. Santuário