O QUE APRENDI COM ROMANOS

INTRODUÇÃO

Paulo é o autor de Romanos. É tão importante o livro que já houve quem dissesse que se lêssemos apenas o Evangelho de João e Romanos, ainda assim saberíamos exatamente sobre “O Plano de Deus para a Salvação da Humanidade”.

Mas como sempre, alguém escreve algo por um motivo, portanto, qual é o motivo de Paulo ter escrito Romanos? Apesar de que Paulo tinha consciência que escrevia com grandes letras (Gal. 6.11), ainda assim o que escrevia não era para competir com o que os judeus já haviam escrito, ou enriquecer a literatura sagrada de Israel. Ele não pressentia o importante papel que suas palavras ocupariam na história e nem sequer se existiriam na geração seguinte, e muito menos se um dia as considerariam como Sagradas Escrituras. Não haviam essas pretensões em Paulo. Paulo escreve porque haviam problemas reais e urgentes ocorrendo nas Igrejas de Corinto, Galácia, Filipos e Tessalônica. Havia um grupo de pessoas conhecidas na história posterior como judaizantes, que queriam impor um modo judaico ao cristianismo, que o descaracterizaria de maneira que não poderia ser chamado mais de cristianismo. O cristianismo é um passo evolutivo na religião judaica. Assim como na informática, não dá para voltar pra trás. Não dá para regredir.

Mas Romanos não é só mais uma carta, mas antes um tratado filosófico. Paulo em Romanos explica de forma extremamente lucida e prática, o plano de salvação. Um simples esboço das partes maiores de Romanos, como o abaixo, já nos dá a dimensão do livro e já entendemos muito dele.

ESBOÇO DE ROMANOS

1 – O PECADO DOS GENTIOS

2 – O PECADO DE ISRAEL

3 – SE TODOS PECARAM DEUS EXIGE UMA SATISFAÇÃO

4 - A CRUZ É A SATISFAÇÃO A RESPEITO DO PECADO

5 – AINDA ASSIM, MALDITO HOMEM QUE SOU, PECADOR

6 – A VIDA NO ESPÍRITO É A SOLOUÇÃO

7 – TODO O RESTANTE DE ROMANOS É REFLEXO DOS 6 PONTOS ANTERIORES

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A VISÃO DO ESCRITOR

O que acaba confundindo, muitas vezes a leitura do texto bíblico, é o que vou chamar de visão do escritor. Eu gosto de escrever e de pregar. Quando vou pregar uma mensagem eu fico imaginando uma maneira diferente, mais bonita, ou mais direta de falar sobre o assunto tratado. Quando vou pregar já tenho em mente, níveis de pregação que já superei. Paulo em Romanos faz a mesma coisa. Quando ele fala do pecado dos gentios, ele explica e mostra muitos desses pecados, ele não é teórico ao falar sobre isso, ele é prático. Ele já passou pelo nível do texto em si, ele já superou um a tentação de um texto bonitinho e acaba optando por um texto prático. Paulo é prático em Romanos. Eu poderia chamar o texto de Romanos, de pelo menos o terceiro nível de sua mensagem. Ele com certeza gastou tempo pensando em cada passagem a ser explanada.

Em Romanos cabe a ideia de um Tratado Teológico, ou um Estudo Sistemático, se preferir. Paulo concatena cada parte de forma clara e simples, porém com palavras difíceis, onde os termos espirituais e jurídicos podem confundir alguém. A estrutura da carta é moldada de modo a ser entendida por qualquer um, porém ler Paulo nem sempre é fácil, porém não é impossível.

Barclay chama a epístola de testamentária e profilática. Romanos é com certeza o testamento literário de Paulo. Romanos defende muito bem o que Paulo queria dizer a todas as Igrejas, em todas as suas cartas. Profilático é algo que protege de infecção. Romanos é um remédio contra as misturas que o Evangelho estava sofrendo e viria a sofre durante o tempo. Por isso também é que precisamos pregar as doutrinas bíblicas, assim como a exposição dos livros e suas idéias.

Romanos foge do padrão comum e é doutrinária e sistemática. O que quero dizer com essa frase é que as outras cartas de paulo combatiam diretamente alguma coisa, um problema urgente e real. Romanos por outro lado ultrapassa isso e mesmo tratando sobre o tema urgente, é também entendido como um passo além, um tratado, normas a serem seguidas nas suas explicações.

Barclay diz que a carta é ao mesmo tempo uma carta muito complicada e muito cuidadosamente construída. Concordo com a segunda parte, mas não com a primeira.

Um pastor australiano fez uma série de pregações sobre todos os livros da Bíblia na sua Igreja e acabou posteriormente editando esse material, que li a muitos anos. Aprendi que precisamos ler o livro biblico muitas vezes, quanto mais se le, mais se aprende. Mas essa leitua não é de qualquer jeito e particularmente eu nunca vi alguém ler um livro como os cristãos leem. Onde no mundo você iria pegar uma página qualquer de um Machado de Assis, por exemplo e abrir em qualquer lugar e acreditar que entendeu tudo? Mas essa loucura fazem com a Bíblia. A Bíblia é um livro e portanto deve ser lido da primeira página até a ultima.

No caso de Romanos lemos uma primeira vez, inteiro, sem entendermos muita coisa, não há problema a nossa mente estará se acostumando com as palavras e a maneira de Paulo escrever. Numa segunda leitura vamos captar mais e começaremos a enxergar que o livro é dividido em grandes partes. Numa terceira leitura vamos entender mais corretamente o que cada partição quer explicar e vamos entender o todo melhor. E quanto mais lermos, mais níveis de entendimento vamos tendo, assim como vamos observando o uso do autor com as palavras para ensinar as suas teorias, assim como a prática.

1 – O PECADO DOS GENTIOS (cap 1)

Lemos no capítulo um de Romanos uma lista horrível de pecados que ainda assim são abrangentes e não captam toda a gama de pecados existente no mundo. A Idéia de paulo ao tocar no assunto é mostrar que o não judeu, o gentio, é pecador e faz coisas pecadoras.

Talvez mais do que em outros livros surge o problema do pecado. O que é o pecado? Acredito que uma explicação disso é falar sobre o que é o Reino de Deus. O Reino de Deus é um reino, um reinado e a Bíblia descreve Deus como um rei. Se há rei, existem súditos e um palácio e guardas, por exemplo. Apocalipse 4 nos mostra a visão de João diante do Trono de Deus, na Sala de Audiência do Reinado. Local aliás que somos espiritualmente transportados todas as vezes em que oramos a Deus. Deus atende aos seus súditos da Sala do Trono.

Assim como existe o presidente de um país, que é eleito com suas ideias de governo, a sua maneira de governar, de mandar, de fazer a coisa, um reinado é a maneira de um rei comandar o seu reinado. O Reino de Deus é a maneira que Deus governa o seu reinado.

O pecado é a contestação de quem não aceita a maneira de Deus governar. O pecado de Satanás, que era ser Deus no lugar de Deus, está no cerne do problema. Pecar é querer fazer de modo diferente do proposto por Deus. Os gentios adoravam idolos, praticavam o homossexualismo e o lesbianismo, tinham malicia, avareza e maldade, assim como eram invejosos, homicidas desobedientes e infiéis em pagar as suas contas, sendo ainda irreconciliáveis e sem misericórdia.

Essa lista de pecados é a constestação de gente que não aceita a maneira de Deus governar e quer tomar as rédeas do governo e fazer da sua maneira. O pecado então é uma transgressão da Lei de Deus. Transgressão é ultrapassar os limites. Se alguém invadir a fazenda de alguém, por exemplo, sem autorização, ele transgrediu os limites que poderia ir. Se alguém entrar na casa do outro sem autorização, ele transgrediu. O pecado é um atalho, um outro jeito, é um jeitinho, por exemplo.

Cabe aqui aquela grande pergunta: Quem é a pessoa boa? Quem é bom? O bom não é o bonitinho, que se veste bem, que trabalha, que conhece um monte de gente. A pessoa boa é a que tem atitudes boas, podendo ser bonita ou feia, trabalhar ou estar desempregado. Os gentios demonstram atitudes de gente pecadora.

2 – O PECADO DE ISRAEL (cap 2)

No capítulo 2 Paulo fala que o judeu que julgava o outro, sendo detentor da Lei de Deus, estando em suas posses a lei de Deus, não tinha desculpa também. Porque os que sem lei pecaram, sem lei vão morrer, e todos os que sob a lei pecaram, sob a lei serão julgados. Porque não são os que ouvem a lei que são justos diante de Deus, mas os que a praticam. Os que não tinham lei eram julgados pela lei em seus corações, na sua consciência, sendo que os seus pensamentos os acusariam ou os defenderia. Mas o judeu tinha a lei escrita.

O pecado de Israel era maior do que o pecado do gentio, pois esses faziam o que nem entendiam porque faziam, mas o judeu tinha a Lei de Deus e ainda assim pecava. O capítulo 3.23 fala de todos: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.”

3 – SE TODOS PECARAM DEUS EXIGE UMA SATISFAÇÃO

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” Romanos 5.18

O pecado é uma afronta contra o reino, portanto os súditos do reino exigem uma satisfação a respeito do pecado; assim como o pecado é uma fronta direta ao Rei do reino. Os anjos, os santos e até os demônios, esperam que Deus julgue o pecador. A satisfação, é uma palavra legal, que podemos entender como explicação, justificativa.

A satisfação, a justificativa, o julgamento a respeito do pecado, que sempre em ultima instancia é contra Deus, é a morte do pecador. Pecou, tem que morrer.

4 - A CRUZ É A SATISFAÇÃO A RESPEITO DO PECADO

Romanos 4.25 fala de Jesus: “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” E em 5.8 diz: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.”

O pecado é uma transgressão contra o reinado e contra o seu rei. No caso da Lei de Deus, Ezequiel 18.4 diz: “A alma que pecar, essa morrerá.” O pecado exige a morte do pecador. Todo e qualquer pecado é passível do julgamento máximo: a morte. Mas na Cruz Jesus morreu por nossos pecados. O inocente morreu no lugar da humanidade pecadora. Todo o peso do pecado que estava sobre nós recaiu naquele que morreu na Cruz por nós: Jesus. A Cruz foi o sacrifício do inocente (assim como no Sistema Sacrificial de Moisés) que morreu no lugar da humanidade pecadora.

5 – AINDA ASSIM, MALDITO HOMEM QUE SOU, PECADOR

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” (Romanos 7:14-25)

Esse aqui é o grande dilema cristão: fazer o que não quer fazer, que é o pecado. Não queremos pecar, mas não conseguimos não pecar. Sabemos que o pecado é abominação perante o Senhor, mas ainda assim pecamos. O querer está em mim, disse Paulo, mas não o efetuar. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Existe então uma lei em mim, que me obriga a pecar.

No capítulo 6 de Romanos, paulo fala sobre o batismo nas águas e sobre duas leis espirituais.

“Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” (Romanos 6:13,14)

Não apresenteis os vossos membros (a sua vida, o seu corpo) ao pecado, mas apresentai-vos a Deus. Porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da Graça.

Paulo demonstra aqui, falando a respeito da Lei do Antigo Testamento, que existe uma Lei do Pecado, e se é lei, então acabamos fazendo, querendo ou não. O pecado é então descrito em Romanos como um lei espiritual, que não temos condições em nós de nos livrarmos dele. Nós, simplesmente, não temos condições de não pecar. Se estivermos debaixo da Lei do Pecado. Mas paulo nos apresenta uma outra lei, a Lei da Graça. Nós, cristãos, não estamos mais sob o tacão da Lei do Pecado, mas sob os cuidados da Lei da Graça. A Graça é uma lei superior à Lei do Pecado. Na Graça temos forças de não pecar.

6 – A VIDA NO ESPÍRITO É A SOLUÇÃO (Romanos 8)

Mas até aqui paulo não nos deu a chave para não pecar. Mas já descobrimos muito: o pecado está em todos, não judeus ou judeus, Deus exige satisfação a respeito do pecado, a Cruz de Cristo é a solução, mas ainda assim paulo atesta que falta algo, pois a Leik do Pecado ainda está operante, apesar da Lei da Graça, que é superior. O que falta?

Romanos 8.1 é o resumo e apresentação de todo o capítulo: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.”

Aqui está a chave, a solução, a respeito do pecado: andar no Espírito. Paulo refere-se à Lei do Espírito de Vida. A Lei da Graça é a “Lei do Espírito de Vida em Cristo Jesus”.

O homem natural não consegue de maneira alguma agradar a Deus, pois está sob a lei do Pecado e tudo o que faz é em pecado e portanto condenável e no fim acabará dando errado em algum momento. Andar na Lei do Espírito de Vida em Cristo Jesus, por outro lado é agradar a Deus em tudo o que se faz. Quem está no Espírito, ou na Lei da Graça, tudo o que faz vai dar certo no final, pois está fazendo com as bençãos de Deus.

7 – TODO O RESTANTE DE ROMANOS É REFLEXO DOS PONTOS ANTERIORES

Todo o restante de Romanos é reflexo do proposto até aqui. A solução para o homem pecador, portanto passível de juizo e morte eterna, é agradar a Deus no Espírito de Deus. Como diz a Bíblia, quem não tem o Espírito de Deus não é dele, e para ter o Espírito de Deus é só pedir perdão pelos pecados e pedir que ele venha para a sua vida.

A partir de Romanos 8, ou do entendimento que o Espírito Santo precisa vir habitar o cristão, tudo o mais em Romanos é fruto agora de ter o Espírito e andar nele. Assim é para nossas vidas também. Romanos nos ensina que o pecado pode nos mandar para o Inferno, onde perderemos a salvação, a capacidade de estar com Deus para sempre, durante toda a eternidade. Devemos reconhecer que temos o problema do pecado em nós e pedir perdão a Deus, nos reconciliando com Ele.

Com o Espírito Santo em nós, caminhamos para uma nova vida, um novo tempo, sob os auspícios (bençãos) de Deus. E tudo o que fizermos no Espírito vaio dar certo.

Amém! Graça e paz.

Paulo Sergio Larios

BIBLIOGRAFIA

COMENTÁRIO BARCLAY NOVO TESTAMENTO

pslarios
Enviado por pslarios em 30/07/2015
Código do texto: T5329115
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