O QUE APRENDI COM ECLESIASTES

INTRODUÇÃO

Sobre a autoria, Eclesiastes é atribuído a Salomão. O autor se declara filho de Davi (1.1), diz ter reinado em Jerusalém (1.12), se refere a grande sabedoria (1.16) e a riqueza inigualável (2.4-9). Tudo isso leva a crer na autoria de Salomão. Contudo, alguns estudiosos acreditam que o tipo de linguagem hebraica utilizada no livro, bem como a visão negativa a respeito dos governantes nele sugerida (4.13; 7.19; 8.2-4; 10.4-7) indicam que a obra foi escrita depois do tempo de Salomão.

Os que datam o livro da época de Salomão tendem a situá-lo por volta dos séculos VIII ou VII a.C., mas não há como precisar isso. Felizmente, a natureza atemporal da sabedoria do livro dispensa à ligação a determinada época. As descobertas arqueológicas no monte Qunram, no Mediterrâneo; as novas tecnologias e análises exegéticas sugerem a data de 935 a.C. para a primeira publicação do livro de Eclesiastes.

Eclesiastes tem sido considerado como uma obra apologética, isto é, uma tentativa de defender a fé em Deus através de respostas a argumentos negativos. Com tal peculiaridade, o livro frequentemente parece expressar uma perspectiva secular, argumentando que a vida não tem sentido. Diante de tais argumentos, o escritor chega a conclusão de que a fé em Deus é o único caminho para a realização humana. Embora os ensinamentos do livro possam ser utilizados na evangelização, a maioria dos estudiosos judeus e cristãos tem entendido que Eclesiastes é dirigido ao povo de Deus, não aos que desconhecem a Deus ou se rebelam contra Ele. O livro constitui o sábio conselho de Deus àqueles que conhecem os seus caminhos, mas acham difíceis e perturbadores.

Não é preciso sair da Bíblia para encontrar a filosofia meramente humana da vida. Deus nos deu no livro de Eclesiastes o registro de tudo o que o pensamento humano e a religião natural já conseguiram descobrir a respeito do significado e do objetivo da vida. Os argumentos do livro, portanto, não são os argumentos de Deus, e sem os registros de Deus com respeito aos argumentos do homem.

Um possível esboço do livro pode ser esse;

ECLESIASTES

I. Introdução (1.1-11)

II. Onde está a felicidade? (1.12-6.12)

III. Em busca do equilíbrio (7.1-12.13)

O tema principal do livro é: Qual é o objetivo da vida humana? A resposta que ele dá, encontra-se no final do livro, em 12.13-14, que é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos.

O que motivou o escritor a escrever Eclesiastes? O autor desmonta as ilusões que um determinado sistema de sociedade apresenta como ideal (riqueza, poder, ciência, prazeres, status social, trabalhar para enriquecer etc.) e coloca uma pergunta fundamental: “Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?” (1.3)

O livro é de um pessimismo profundo, chegando a nos impressionar um livro desses estar na Bíblia e mais, possivelmente ter sido escrito pelo mais sábio rei de Israel, que foi Salomão. Explica-se melhor o livro, se ele não foi escrito por Salomão, mas sim pelo autor que diz quem é: “Palavras de Coelet, filho de Davi, rei de Jerusalém.” (Eclesiastes 1.1) E de novo a gente bate na tecla da autoria do livro. Que necessidade havia de Salomão usar um pseudônimo para escrever esse livro? Aparentemente nenhuma.

Coelet, seja Salomão ou não, descreve um tempo de exploração interna e externa, que não deixa esperança de futuro melhor para o povo. Era um mundo sem horizontes, onde ele faz o balanço sobre a condição humana, buscando apaixonadamente uma perspectiva de realização.

“Em vez de cair no desespero, o autor descobre duas grandes perspectivas: Primeiro, descobre Deus como Senhor absoluto do mundo e da história, devolvendo a Deus a realidade de ser Deus. Depois, descobre o Deus sempre presente, fazendo o dom concreto da vida para o homem, a cada instante e continuamente. Isso leva o homem a descobrir que a própria realização é viver intensamente o momento presente, percebendo-o como lugar de relação com o Deus que da á vida.”

“O Eclesiastes denuncia portanto as consequências de uma estrutura social injusta. O povo não tem presente, quando é impedido de usufruir do fruto do próprio trabalho. Consequentemente fica sem vida, que lhe foi roubada não por esta ou aquela pessoa, mas por todo um sistema social dependente que, para privilegiar uma minoria, acaba expoliando a nação inteira. E aqui, o autor mostra que isso se trata, em primeiro lugar, de um pecado teológico: Deus dá a vida para todos; se ela é roubada, o roubo é um desvio na própria fonte da vida.”

Biblia Sagrada Edição Pastoral – Nota.

O Eclesiastes é então uma reflexão a respeito de destruir e voltar a construir uma correta concepção de Deus e da vida. Só então todos poderão ter acesso à felicidade, que consiste em usufruir a vida presente e ter esperança na vida vindoura.

1ª PARTE - QUAL É O SENTIDO DA VIDA?

Um dos maiores mistérios do universo é: Qual é o sentido da vida? A ciência propõe duas explicações para essa questão. A mais tradicional é que o sentido da vida é reproduzir. Mas a nossa realidade mostra que nem todos se casam e alguns vivem sós até o final de seus últimos dias. A segunda explicação é existir e ser feliz.

Mas essas explicações não respondem ainda a questão do porque estamos aqui. Cresce a duvida quando olhamos para esse enorme universo e nos descobrimos sós nele. Cresce a duvida a respeito da existência e particularmente da nossa existência. Porque só existe vida na Terra. E porquê só nós, os seres humanos temos consciência da vida. O que diferencia muito o homem do animal é que o homem pensa e sabe que pensa e analisa o que pensou. O animal vive por instintos: dorme quando está com sono, come quando sente fome e não se importa com nada, pois ele nem sabe o que faz. O ser-humano logo cedo em sua existência aprende naturalmente a pensar e analisar os seus atos e pensamentos.

É impressionante não termos encontrado outras vidas no universo até hoje; ou sermos encontrados por elas. Será que estamos sós no universo? Será que Deus fez um universo tão grande só para nós humanos?

Além de Eclesiastes lidar com o sentido da vida, ainda o faz de modo prático, apesar de tão pessimista. Eclesiastes mostra que esse sistema de sociedade onde as riquezas, o poder, uma vida de prazeres, status social, nome, baseados em filosofias prontas para reafirmar isso são ilusão. Perde-se o foco da vida ao viver baseado nesses fatos. Perde-se o sentido da vida.

O tema do livro é: Qual é o objetivo da vida humana? O objetivo da vida humana é temer a Deus e seguir os seus mandamentos.

Deus fez o homem para si. O sentido da nossa existência é conhecer a Deus, mas podemos nos perder dessa busca, quando colocamos essa vida mundana à frente das perguntas que deveríamos nos fazer: Qual é o sentido da vida? ou: Porque estou aqui? por exemplo. Para o cristão a pergunta deve ser: Porquê e para quê, Deus me convocou ao cristianismo?

2ª PARTE – QUE PROVEITO TEM O HOMEM DO SEU TRABALHO?

“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.

Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?” (Eclesiastes 1:2,3)

Esse é o resumo de todo o livro, examinando a situação em que o povo vive, a conclusão é que tudo é frágil e passageiro. O povo vive trabalhando e que proveito o povo tem do seu trabalho?

O perigo é o povo perder o sentido da vida, conforme mostrado em 1.4-11. Uma geração vai, outra vem. Nasce o sol, e o sol se põe. O vento via para o sul e faz o seu giro para o norte. Todos os rios vão para o mar, mas o mar não se enche. Os olhos não se fartam de ver e nem o ouvido de ouvir. O que foi é o que há de ser. E o que se fez, vai se fazer de novo. J[á não nos lembramos mais do que passou e das coisas que vão ser dela também não vamos nos lembrar.

Qual é o sentido da vida? O texto insiste em querer nos dizer entre linhas. Há um negativismo aqui muito grande, que expõe a solidão de muita gente. O acumulo de conhecimento não resolve, não nos preenche. Não nos trás a felicidade que gostaríamos. Vemos essa busca pela ciência, pelo conhecimento diariamente. Alguns tem uma duas ou até mais faculdades, pós graduação e outros certificados, mas isso não preenche o vazio interior. (1.12-18)

Alguns entregam-se aos prazeres, ao sexo, à bebida, mas isso é insensatez, o escritor admite. Entregar-se aos prazeres não nos faz descobrir o que convém fazer nessa vida, nesse curto espaço de tempo da vida. (2.1-3)

O rei então entregou-se a realizar grandes obras, construiu palácios e vinhas e jardins e pomares, com todos os tipos de árvores e construiu reservatórios de água para regar as árvores do pomar. Comprou escravos e escravas e teve muitos criados. Possuiu muitos rebanhos, mais do que todos. Acumulou prata e ouro e terras e casas. Nunca recusou nada do que seus olhos vissem. Nunca privou o seu coração de nenhum prazer. Sabia desfrutar do seu trabalho, que foi a sua porção. Ai ele examinou tudo o que tinha feito e chegou à conclusão de que tudo era vaidade, fugaz, uma corrida atrás do vento. Depois ele examinou a sabedoria, a tolice e a loucura e pensou: O que fará o rei que vir depois de mim? A conclusão era: Fará o que já foi feito. Ai então ele pensou sobre qual é a vantagem da sabedoria sobre a insensatez? O sábio tem seus olhos abertos e percebe, o tolo anda às cegas. (2.4-16)

O rei ficou então com ódio da vida, pois tudo o desagradou, quando ele se apercebeu. Tudo é frágil, fugaz, vaidade. Tudo é uma corrida atrás do vento. O rei detestou o trabalho que realizou e indagou: Porquê devo deixar o trabalho que fiz para o homem que vir depois de mim? E quem sabe se ele será sábio ou louco? De qualquer modo ele será dono de tudo o que eu fiz. Então o rei ficou desesperado, com todo o trabalho que se cansou para fazer. Ele ainda percebeu que havia quem trabalhasse com sabedoria, conhecimento e sucesso, mas que no fim deixaria o seu trabalho para o próximo que viesse após ele, e que em nada se cansou.

Então diz ele: Que proveito há para o homem de todo o trabalho e esforço mental com que se afadigou?

Passado tudo isso o rei chegou a uma conclusão: A felicidade do homem é usufruir do próprio trabalho, ou usufruir da vida, enquanto aqui nessa vida. E contudo isso ele percebeu que vem das mãos de Deus. Pois, continua ele: Quem pode comer ou beber, sem que isso venha de Deus? A quem Deus se agrada ele enche de sabedoria, conhecimento e alegria. Mas ao pecador Deus impõe a pena de juntar e acumular para quem agrada a Deus. (Capítulo 2)

3ª PARTE – A META NA VIDA DEVE SER SERVIR E CONHECER A DEUS

É muito fácil observar, diariamente, que muitos já perderam o sentido da vida. Alguns trabalham demais e correm e constroem sem parar e isso pode ser apenas uma tentativa vã de preencher um espaço em nossos corações, que só Deus pode preencher. Outros se entregam aos prazeres, como jogos de azar, loterias, farras e sexo, mas também isso não é a meta da vida. Alguns compram e vendem e tem muitos empregados e nome e riqueza, mas ainda assim, por dentro estão sós e vazios.

O rei revoltou-se ao notar que o que fazia iria ficar para o seu próximo, o seu sucessor e indaga, com raiva, qual é então o sentido da vida? Pra que viver, se tudo o que se constrói passa para o que vem após ele e o que vem após, passa para o seu sucessor, e isso infindavelmente? Pra que construir então, ou trabalhar tanto? O melhor não seria não trabalhar? Mas até isso é enfado na carne e vaidade. Trabalhando ou não, continua a duvida sobre qal é na verdade o sentido da vida.

O rei chega então à conclusão que só se usufrui os bens, porque vêm de Deus, quando Ele se agrada de alguém. Pois: Quem pode comer ou beber, sem que isso venha de Deus? Diz ele. A quem Deus se agrada Ele enche de sabedoria, conhecimento e alegria. O que vale dizer que Deus preenche o coração daquele que lhe agrada. O sentido da vida então, segundo o rei é usufruir daquilo que Deus lhe dá nessa vida, porém entendendo que virão outros posteriormente a ele.

“Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras. Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” (Eclesiastes 9:7-10)

Ao pecador Deus impõe a pena de juntar e acumular para quem agrada a Deus. E esse passa pela vida como um vento; tolo, insensato, nem sabe porque veio a existir. Vive esse para trabalhar, para acumular, envolto em seus prazeres e não percebe o que é a vida.

Ao que agrada a Deus, aquele que busca a Deus (hoje é o cristão, anteriormente era o Israel de Deus) aquele que aceitou a Jesus como Senhor, Deus prove para que ele coma com alegria o seu pão e beba o seu vinho (pão fala de provisão financeira e vinho fala de alegria perante o Senhor). Ele indica que a todo o tempo sejam alvas, brancas, sem mancha as suas roupas. O entendimento disso é que as roupas limpas significam a vida sem pecados. Que nunca falte o óleo sobre a tua cabeça fala sobre a presença do Espírito Santo na vida. Usufrue a vida com a mulher que ama, todos os dias da vida. E conclui dizendo que esta é a porção nesta vida. Faça tudo o que lhe vier à mão para fazer; faze conforme as tuas forças, sabedoria, entendimento, conhecimento e destreza, enquanto estamos vivos.

O Eclesiastes denuncia as consequências de uma estrutura social injusta é bom sempre reforçar isso. O povo não tem presente, quando é impedido de usufruir do fruto do próprio trabalho. Não vivemos só para trabalhar. A vida também não consiste em fazer um curso atrás do outro, ou deitar na cama de qualquer pessoa. Trabalhar demais ou não trabalhar nada é insensatez. Não ter uma pessoa para amar e viver se iludindo com um e outro, ou uma e outra, é loucura. A vida não é para ser gasta em jogos ou bebedeiras intermináveis. Tem gente que cura a ressaca com outra bebedeira, isso é insensato, foge da razão.

POSTERIDADE

A vida não é só trabalho, como disse o rei, no qual o fruto desse trabalho será do sucessor, que também trabalhará e passará ao próximo o fruto, também, do seu trabalho e isso num fluxo continuo, que gira e roda e volta de novo no começo e caminha para o fim e não finda nunca.

Acredito ser um erro muito grande se revoltar em deixar para a posteridade alguma coisa que construímos, diria que o contrário é a verdade: Devemos deixar para a posteridade o nosso legado.

Falando apenas da literatura e do que aprendemos com o tempo na história, imagine que um pregador fosse começar do zero todo o ensinamento da Bíblia? Como é possível alguém desprezar todas as revelações que Deus deu no tempo, antes, durante e após o Canon bíblico ter sido acabado? (O Canon foi a resolução de vários teólogos sobre quais textos são realmente inspirados, e deveriam entrar em nossas Bíblias, e quais não deveriam.)

Será que deveríamos desprezar todo o acumulo de conhecimento que já tivemos até aqui, só pelo fato de não aceitar que outros desfrutem do que nós aprendemos? Será que antes de morrermos deveremos destruir todas as pontes que construímos? Deveremos rasgar todos os livros que escrevemos? Deveremos afundar os barcos que inventamos? A próxima geração deve aprender do zero? A revolta do rei é razoável?

É interessante que esse assunto, que beira uma catástrofe apocalíptica, já ocorreu na história. A geração de Josué não transmitiu à próxima geração o conhecimento do Senhor; e a geração futura (de Juízes), não sabia quem era Deus.

As Bibliotecas e os museus, assim como os nossos acervos particulares mostram que o homem, de alguma maneira se preocupa em deixar à prosperidade o conhecimento adquirido. A preocupação é com os nossos filhos. Sendo filhos diretos, ou uma geração de filhos, mas o que fazemos tem um peso na história humana. Escrevemos livros, fazemos pontes e construções e acumulamos o conhecimento das eras, para fazer um mundo posterior futuro melhor. Não estamos aqui por acaso e a obra de nossas mãos poderão ser de muita valia para os que vierem depois que a nossa vida se for embora. Devemos nos preocupar em deixar uma marca na história. Esse mundo melhor que devemos insistir em construir será para os nossos filhos, e os filhos dos nossos filhos. Paulo escreveu muito, para registrar para a Igreja o que deve estar em mente, para nós cristãos. Paulo esperava Jesus para já, como é o que a Igreja Primitiva acreditava piamente. Nós, XXI séculos depois, estamos esperando Jesus para já, também. Mas isso não impediu Paulo de escrever as suas Cartas e nem os apóstolos de escreverem os seus Evangelhos.

Façamos o melhor que pudermos, conforme vão aparecendo as situações em nossas vidas. Vamos usufruir de viver a vida com quem amamos, nos alegrar em nosso trabalho, ou construções, se houverem. Mas o que importa, o sentido da vida é temer a Deus e obedecer aos seus mandamentos.

Amém!

Paulo Sergio Larios

P. S. e Referência:

Estudo no Livro de Eclesiastes - http://www.santovivo.net/page410.aspx

Bíblia Sagrada Edição Pastoral, Editora Paulus – As notas de rodapé dessa Bíblia, assim como seu texto escrito em linguagem corrente são muito bons. Eu ganhei essa Bíblia de um Padre e baseada nela é que estou escrevendo esses estudos; assim como também tenho buscado na memória o que aprendi sobre a leitura da Bíblia.

Super Interessante – Os 7 maiores mistérios do Universo.

pslarios
Enviado por pslarios em 24/07/2015
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