O QUE APRENDI COM... GÁLATAS

“Um povo culto é um povo livre; um povo selvagem é um povo escravo; e um povo superficialmente instruído é um povo ingovernável.”

Angel Ganivet

Ao se estudar uma carta do Novo Testamento, ao observarmos algumas coisas como autor, data e motivo da carta já vamos descobrindo alguma coisa. Quem escreveu Gálatas foi o apóstolo Paulo, no provável ano de -56-57 e o motivo da carta são os judaizantes.

“Ao ler Gálatas, nós, cristãos de hoje, somos convidados a uma séria revisão: onde está a motivação fundamental que dirige a nossa vida cristã: numa série de observâncias mecânicas de leis e ritos? Ou no compromisso com Jesus Cristo, que se realiza através de amor responsável e criativo?”

“A Igreja também é convidada a essa revisão de vida: ela realmente educa os filhos de Deus para a liberdade e a fé? Ou estabelece leis que escravizam e esterilizam a vida cristã? As instituições eclesiais visam a colocar fronteiras de salvação? Ou procuram formar comunidades comprometidas com Jesus Cristo e abertas a servir a todos?”

Bíblia Sagrada Edição Pastoral – nota

O ponto fundamental dessa epístola: a inutilidade da lei para a justificação e salvação cristã, é também o objeto da primeira parte da epístola aos Romanos e portanto Gálatas é similar e anterior a Romanos.

Um breve esboço de Gálatas poderá ser o seguinte:

ESBOÇO DE GÁLATAS

Introdução (1:1-10)

I - A autoridade de Paulo como apóstolo (1:11-2:21)

II – A justificação obtém-se mediante a fé e não mediante as obras (3-4)

III – Devemos conservar a liberdade cristã (5:1-6:10)

Epílogo (6:11-18)

1 - A AUTORIDADE DE PAULO COMO APÓSTOLO

Hoje, distantes tantos séculos, parece até desnecessária a discussão se Paulo era ou não apóstolo legítimo, mas naquela época não.

O Novo Testamento mostra claramente a partir dos Evangelhos, seguindo em Atos e nas demais cartas que o problema judaizante sem´pre perseguiu a Igreja e não é diferente no nosso tempo.

Os judeus mais radicais não aceitavam a Jesus, mas um grupo de judeus convertidos do judaísmo, os assim chamados judaizantes, seguiam a Paulo onde ele ia, despregando o que ele dizia e tentando incorporar na Igreja os mesmos rituais do Antigo Testamento.

Gálatas, Romanos e Hebreus são as cartas que mais perto rebatem essas idéias.

O tema principal de Gálatas é a liberdade cristã e devemos vigiar para não perdê-la.

2 – A JUSTIFICAÇÃO OBTÉM-SE MEDIANTE A FÉ E NÃO PELAS OBRAS... DA LEI

Gálatas é um livro muito rico e contém dois pontos focais: o primeiro deles é a quase intransponível barreira criada sobre se a justificação é só pela fé e não mediante as obras; e a questão da liberdade cristã.

Gálatas e Tiago parecem opor-se, ao tratar dos difíceis temas: se a justificação é pela fé, sem obras, ou qual é o papel das obras na justificação. Aqui temos opostos gigantescos.

Mas em que texto e contexto Paulo falou isso, que se tornou um dogma para a Igreja, a ponto de opor-se a outra passagem da própria Bíblia? Ou não é exatamente o que se deve interpretar?

“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2:16)

O texto de Tiago, porém, nos indica que a fé sem obras é morta.

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?” (Tiago 2:14)

JUSTIFICADO PERANTE AS OBRAS DA LEI NÃO É O MESMO QUE SER JUSTIFICADO PERANTE DEUS

Tenho a nítida impressão de que ao falar sobre a justificação pela fé, sem as obras da lei – preste atenção nisso -, em Gálatas, foi incluso um outro livro com uma outra perspectiva e que é justamente a próxima carta de Paulo: Romanos. Mas Romanos fala sobre a justificação que Deus proveu ao homem, perante Ele mesmo. A questão em Romanos é como um Deus santo poderá aceitar o homem pecador? A solução provida por Deus foi o sacrifício de Cristo, onde um inocente morreu em lugar do pecador.

A proximidade de Romanos, onde Paulo aprofunda o tema da justificação, causou uma certa confusão para alguns, o que não deveria ter acontecido se tivessem observado o que a hermenêutica e homilética nos ensinam, assim como a lógica e o raciocínio. Romanos fala sobre uma coisa, Gálatas fala sobre outra e Tiago fala ainda sobre uma terceira coisa. São livros diferentes abordando facetas diferentes do mesmo assunto. Eu não consigo enxergar a dificuldade, que pode ser um entrave para a Igreja, que alguns vêem.

Enquanto Romanos fala sobre a justificação, ou aceitação de Deus em favor do homem pecador, Tiago fala que a fé, ou a vida cristã deve ser acompanhada de prática, e Gálatas fala sobre os judaizantes. A meu ver são assuntos bastante diferentes.

OS JUDAIZANTES E AS SUAS IMPOSIÇÕES NA IGREJA

Os judaizantes eram judeus convertidos ao cristianismo, mas que não conseguiram enxergar o cristianismo em toda a sua beleza e queriam ressuscitar algo das antigas obras da Lei, para incluírem na nova religião. Os judaizantes queriam repaginar o cristianismo com uma roupagem velha e ultrapassada.

Paulo fala em Gálatas 2:16 que o homem não é justificado pelas obras da lei, quer dizer, em seguir as ordenanças do Antigo Testamento. Desde a primeira carta, até a ultima de Paulo, ele sempre tentou mostrar que o cristianismo é uma outra religião, assim como o cristão é uma nova criatura, corroborados pelo texto de Hebreus que nos fala que estamos num Novo Testamento, ou uma Nova Aliança, pois a Antiga Aliança caducou, ficou velha e perdeu a sua força. Na Nova Aliança Deus coloca as suas leis no coração do homem, que não segue mais ritos externos a sua pessoa, que não podem aperfeiçoar ninguém.

A questão aqui não exclui o fato de que ser cristão, impõe a necessidade de ser e de se fazer: “Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, que adianta isso? Por acaso a fé poderá salvá-lo? Por exemplo: um irmão ou irmã não têm o que vestir e lhes falta o pão de cada dia. Então alguém de vocês diz para eles: «Vão em paz, se aqueçam e comam bastante»; no entanto, não lhes dá o necessário para o corpo. Que adianta isso? Assim também é a fé: sem as obras, ela está completamente morta.” (Tiago 2:14-17)

A FÉ DEVE SE MANIFESTAR PELAS OBRAS

Um Evangelho que exclua o ato de ajudar o próximo pode ser qualquer coisa, menos Evangelho. O exemplo de Tiago é matador, não necessitamos jamais de outro, vamos ver. Se um irmão ou irmã vem até nós, com necessidades financeiras, de roupa, comida ou outra coisa qualquer, como comprar remédios, por exemplo, nós vamos ficar ensinando teologia para a pessoa, explicando o sexo dos anjos e a despedimos com fome?

A Igreja evangélica é faltosa em relação a ajudar o próximo. Tenho observado faz muitos anos que a Igreja gosta de fazer para inglês ver, como evangelizar lugares longínquos da sua comunidade, mas que despede seus membros que vê todo dia, vazios, com fome, nus e descalços.

Ensina-se a Bíblia (Quando ensinam. O que não é sempre e nem todas, a maioria está devendo muito de Bíblia ainda.), não pedem, mas cobram o dízimo e acréscimos infindáveis para ajudar a Igreja a crescer, como comprar um novo ventilador, ou ar-condicionado, ou uma nova perua para a Igreja, ou várias ajudas financeiras durante o mês para comprarem um terreno para construírem um templo, justamente o que Deus não mandou fazer, pois a Bíblia orienta a ajudar o próximo e não ficar parado construindo templos.

Temos aqui uma questão interessante: Jesus falou: Ide por todo o mundo, mas também falou: fiquem em Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder. Ide, fique, fique, ide. Ou fica ou vai, ou vai ou fica.

A Igreja deve ir e pregar o Evangelho ou deve ficar se enchendo de poder? Fica, ou vai? Vai ou fica? Problemaço que a Bíblia arruma pra alguns, não é? Nós vamos ter uma Igreja que busca alcançar o mundo, despregada de bens materiais (convenhamos, é mais difícil acumular bens andando) ou devemos ter uma Igreja com um bonito templo, de preferência enorme, rico, com um pastor pra chamar de seu?

E agora? Fica, ou vai, ou vai ou fica? Obedece ao Ide, ou obedece ao espera em Jerusalém?

Quem resolveu a questão foi o próprio Deus, permitindo que um seu filho: Estevão, homem cheio de fé e poder, fosse morto na frente de todo mundo, de uma maneira cruel, por apedrejamento. É claro que Deus salvou Estevão e a sua morte bastou para dispersar todo mundo.

A idéia é: Se ficar, morre.

O que Jesus falou não é incoerente. Primeiro ele falou para irem por todo o mundo e depois ele falou para ficarem em Jerusalém só até o momento em que estivessem cheios de poder. Qual é o problema de se entender isso? Será que é preciso desenhar para a Igreja entender?

E porque é que ficam fazendo templos, que Deus não mandou e não fazem o que Deus mandou? Se estivéssemos todos empenhados em evangelizar e não em ficar construindo templos, que é o mesmo que estacionar na obra, ou seja criar raiz em Jerusalém, o que não era para ser, já teríamos ganho o mundo e já estaríamos no Céu e não aqui.

Deus mandou ir e não vai, o futuro é a morte espiritual e um ministério estacionado. Exatamente o contrário do inicial, que era um Evangelho que tinha poder, manifestação do dom da Palavra em línguas, como interpretação da fala de outros povos, muita oração, pregação e conversões.

A PRIORIDADE BÍBLICA SÃO AS PESSOAS

Parece que as Igrejas atuais esqueceram o bê-a-bá da Bíblia, que são as pessoas. O mais importante na Igreja são as pessoas e não o templo, ou o carro da Igreja, ou o mármore na sacada da Igreja.

A justificação pela fé somente é uma grande desculpa para despedir os irmãos com fome, ou nus. É lógico que é mais fácil evangelizar uma vez só na vida um mendigo longínquo do que os irmãos próximos. Muitas Igrejas vêem seus membros apenas como mantenedores da obra. Parece até que os membros estão ali para serem sustentadores da obra e não o contrário, que é uma Igreja para ajudar as pessoas a serem melhores, ou suportarem seus problemas e quem sabe ensiná-las a saírem das suas crises.

Qual é o papel da Igreja afinal?

3 – DEVEMOS CONSERVAR A LIBERDADE CRISTÃ

Esses temas não estão fugidos de Gálatas, não estamos nos distanciando do assunto. Observe um dos maiores versículos de toda a Bíblia:

“Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, sejam firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão.” (Gálatas 5:1)

O problema judaizante é um problema atual, por incrível que pareça. Sempre temos na Igreja aqueles que querem nos fazer retroagir. A Igreja deve avançar, pra frente e não ficar voltando para trás. As pessoas sempre que avançam é para frente, mas a Igreja quer avançar com costumes já sabidos ultrapassados. Admira-me sempre a Igreja Neo-Pentecostal, que é, entre aspas, a Igreja mais avançada do momento, com uma Palavra pautada, quase que exclusivamente no Velho Testamento, e com campanhas, óleo santo, água ungida, rosa ungida, entre outros. Muitos desses costumes nem base na Bíblia tem, portanto são fogo estranho no altar.

Por outro lado ainda temos na atualidade Igrejas com um discurso retrógrado, uma Palavra que parece dissociada dos ensinamentos que a Igreja recebeu com o tempo, e costumes já execrados por Paulo no século I, que eram não toquem, não façam, não ouçam, não assistam, não falem, etc.

Paulo fala aos Gálatas que uma vez que foram libertos pelo Evangelho, não deveriam se submeter novamente a jugos, como se isso fosse normal, não era e não é. Temos ainda modelos de Igreja que parecem saídos da Idade média e a Igreja Neo-pentecostal não está ajudando nada com seu discurso pautado no Antigo Testamento; que só consegue gerar crente fraco e desconhecedor da verdadeira Palavra.

Eu não critico totalmente o Evangelho da Prosperidade, existem algumas coisas boas nele, como a fé que gera nas pessoas, assim como as leva a querer uma vida melhor financeira e social, não aceitando casamentos ruins, ou uma vida oprimida. Por outro lado o inadmissível é pregar no modelo antigo e já sabido como ultrapassado.

Eu não sei se a Igreja percebeu, mas estamos no século XXI, onde crianças tem celular de ultima geração, o mundo está ligado na Internet e o acesso à tecnologia é fácil, assim como o crescimento da mesma de forma exponencial. E porque então a Igreja não percebe tudo isso? A Igreja prega o que se já disse na Bíblia que não é mais pra pregar. Porque as Igrejas pautam-se tanto no Antigo Testamento para pregarem? Algo está errado. Temos um Novo e um Velho Testamentos e prioriza-se o Velho e desprezam o Novo, isto é incoerente!

Não nos submeteremos a jugos quando soubermos qual é a lei da liberdade, enquanto não soubermos seremos levados a acatar ordens dos judaizantes do nosso tempo, que querem nos impor regras tolas e nos escondem o verdadeiro caminho a seguir.

A pregação do verdadeiro Evangelho abre a nossa mente e nos impele para frente e não nos arrasta para o passado.

Eu me lembro que o autor de Hebreus (9:1-5) começou a falar um assunto e não pode seguir adiante porque havia a necessidade de falar outras coisas. Outro texto similar a Hebreus 9 é 1 Coríntios 3:1-4, onde Paulo fala que desejaria falar algumas coisas, mas eles devendo ser maduros com o tempo, ainda eram crianças de colo que precisavam de leite para beber e não alimento sólido.

Paulo, mestre dos gentios, o maior escritor do Novo Testamento, que ensinava pessoalmente a Igreja do seu tempo, disse dela que eles estavam recebendo leite, porque ele não conseguia lhes dar alimento sólido. Ainda assim ele ensinou e escreveu o que sabia direcionando a Igreja para sempre. Eternamente as suas cartas serão lembradas. Se Paulo disse que o ensino que dava era leite, ainda assim Novo Testamento puro e radical, o que dizer da pregação constante de uma antiga e ultrapassada palavra, que é o Antigo Testamento.

Viver pautado no Antigo Testamento é também submeter-se de novo a jugo. A pregação do Antigo Testamento só é autorizada com a avaliação do Novo. Jesus falou muito do Antigo Testamento, mas sempre empurrava o povo a pensar para frente, para o Reino de Deus. Antigo Testamento é o reino na Terra, Novo Testamento é o ensinamento do Reino vindouro. A perfeita liberdade está no Novo – presta atenção.

Eu ouvi uma frase esses dias que me marcou: Devemos tomar as rédeas da nossa vida. Se a Igreja não prega o Novo Testamento, nós cristãos, homens e mulheres devemos ter a obrigação de o ler e entender. E a leitura e o estudo correto da Bíblia acusa o que está errado. Quando sabemos, os judaizantes já não causam impressão em nós, já não aceitamos imposições incorretas, já não somos arrastados por qualquer vento de doutrina, não estacionamos quando na verdade devemos ir.

Amém.

Paulo Sergio Larios

pslarios
Enviado por pslarios em 16/07/2015
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