“O melhor de Deus”
Começo esta reflexão com uma nota: todo pensador é um intérprete de seu tempo, além de apresentar propostas. Baseado, pois, nisso é que este texto é apresentado aos amigos e/ou leitores, sem a intenção de “ser contra” o diferente.
A frase-título deste texto é usada por muitas pessoas. Essa expressão nos mostra que devemos ter muito cuidado com o que dizemos a respeito de Deus. Nós não conhecemos a linguagem divina. Tudo o que falamos é baseado nas categorias criadas por nós mesmos. Tudo o que dizemos sobre a Suprema Realidade, a Consciência Cósmica, o Onissapiente é através da linguagem humana. Por isso, o que afirmamos a respeito de Deus tem os nossos anseios, as nossas classificações, as nossas categorias (os nossos conceitos, as nossas noções de vida, de mundo, de realidade). As nossas categorias (nossos conceitos) não expressam a realidade divina. Somos humanos, imperfeitos. O que dizemos carece, pois, de perfeição.
Quando alguém diz querer “o melhor de Deus” para uma pessoa, esse alguém, ainda que bem-intencionado, está limitando Deus; está colocando Deus no plano humano, dentro da nossa imperfeição. Se alguém deseja “o melhor de Deus” para uma pessoa, esse alguém está comparando Deus, mesmo sem querer, com os seres humanos. Deus está sendo limitado. Por quê?
Tudo o que é de Deus é bom. É essa a compreensão que eu tenho. É assim que eu compreendo. Portanto, se tudo o que vem de Deus é bom, não devemos dizer “o melhor de Deus”, pois, se houver “o melhor de Deus”, deve haver também “o pior” Dele. Segundo a minha compreensão, Deus não está sujeito a agir melhor do que age, pois tudo o que é de Deus já é o melhor. Sendo assim, não há o melhor de Deus, nem o pior, porque tudo o que vem Dele é bom. Só os seres humanos agirão melhor do que agem; farão melhor, porque os seres humanos têm o seu pior também. Conclui-se, pois: quem é imperfeito poderá melhorar; fazer algo melhor do que faz; ter o seu melhor. Quem é perfeito só age com perfeição; jamais estará sujeito a fazer melhor do que já faz, porque o que é perfeito não tem mais necessidade de se aperfeiçoar; não tem essa carência de perfeição. Não existe, pois, o melhor de Deus. Se houvesse “o melhor de Deus”, haveria, também, o seu pior, e isso não faz parte do que é perfeito. Tudo o que vem Dele é bom. É essa a compreensão que eu tenho da Suprema Realidade.
O filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716) dizia: “É agir imperfeitamente agir com menos perfeição do que se teria podido. É desdizer a obra de um arquiteto mostrar que poderia fazê-la melhor” (Discurso de Metafísica). Sendo assim, é importante não atribuir a Deus a imperfeição humana.