O QUE APRENDI COM... TIAGO
O novo Testamento nos apresenta alguns personagens com o nome de Tiago, inclusive um irmão de Jesus se chamava Tiago. Não se sabe entretanto com exatidão se esse Tiago era o irmão de Jesus, ou um dos outros que aparecem, podendo até mesmo ser outro Tiago.
A data provável da carta é entre 54-59. As datas são mais ou menos pensadas por comparação. As mais fáceis de se observar são as de Paulo, que tem uma certa ordem, assim como nos mostram as cartas e Atos dos Apóstolos. É consenso porém, que a ultima carta do Novo Testamento tenha sido Apocalipse e a primeira seja Marcos.
Descobrir o motivo da carta parece uma tarefa mais difícil a principio do que parece. O autor, diferente de Paulo, que nos acostumamos tanto a ler, com suas razões tão claras, apesar de tantas inclusões no texto, onde ele começa a falar algo e abre espaço para falar outra coisa e outra e outra e lá na frente acaba fechando os assuntos que se não prestarmos atenção não entendemos mais o que ele dizia em alguns momentos; onde ainda em algumas cartas ele defende uma tese e fica fácil saber qual é e isso tudo falta em Tiago.
A escrita de Tiago é sapiencial, assemelhando-se a Provérbios ou Eclesiastes. É muito difícil fazer um esboço de Tiago, mesmo contendo só 5 capítulos, que possa ser esclarecedor para quem o vai ler,as idéias parecem ser desconectadas. Eu encontrei um esboço e acho que esse é o melhor que vi até agora de Tiago. Um bom esboço da carta em questão nos abre possibilidades de estudar a carta direcionados.
O ESBOÇO DE TIAGO
Endereço e saudação: (1:1).
I PARTE – A verdadeira alegria consiste em suportar as tribulações e tentações (1:2-18) , a pobreza (1:9-11) e na pratica do bem (1:19-27).
II PARTE – A verdadeira religião consiste concretamente em evitar a ambição mundana (2:1-13); nas boas obras (2:14-26) em refrear a língua (3:1-12).
III PARTE – A verdadeira sabedoria consiste em refrear as paixões (3:13-4:12), em desprezar as riquezas (4:13-5:6), na paciência (5:7-12).
Apêndice: Ministério de assistência aos enfermos (5:13-15), de oração (5:16-18), de correção fraterna (5:19-20).
O QUE APRENDI COM TIAGO
TENDE ALEGRIA NAS PROVAÇÕES - Eu olhava com bastante desconfiança Tiago 1:2 que diz: “Meus irmãos fiquem muito alegres por terem que passar por todo tipo de provações”, até que um dia ouvi um irmão pregando que a provação tem dia e hora para acabar. A interpretação do irmão era: Fiquem alegres por terem passado pelas provações, pois elas vão passar. Isso me conforta e deve confortar você também: A provação, por pior que seja, tem dia e hora para acabar e um dia essa situação que podemos estar vivendo hoje, não existirá mais.
DEUS NÃO TENTA NINGUÉM – Para mim, um dos maiores ensinamentos da Bíblia está aqui nesses versos: “Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tiago 1:12-15)
A Bíblia deve nos dar respostas e aqui temos uma grande resposta do porque ocorrem tantas coisas conosco. Deus não tenta ninguém, Deus prova, mas não tenta. A provação é como uma prova escolar, que tem a idéia de nos ensinar algo importante. Diferente da prova que tem um final feliz, em Graça, a tentação vem para nos derrubar, para nos matar, para nos tirar dos caminhos do Senhor.
E por incrível que pareça uma tentação pode ser uma provação e uma provação uma tentação, isso aprendemos olhando para os israelitas no deserto, sob o mando de Moisés, que viam o deserto com olhos diferentes. Para alguns o deserto era uma chance para se superarem e terem mais fé. Para outros o deserto era um meio que encontraram para criticarem a Deus e os seus caminhos e justificarem os seus pecados. Só, que o deserto era o mesmo tanto para quem se desviava, como para quem se firmava mais. O nosso deserto é o mundo, onde sofremos as mais variadas provações e tentações possíveis. Como é que olhamos para o mal que nos sobrevém, como uma provação, portanto uma chance de nos superarmos com Deus, ou uma chance para nos afastarmos da fé?
Esses texto fala muito de nós. Ninguém diga que foi tentado por Deus, pois Deus não tenta ninguém. Quem tenta é o Diabo. Mas ainda assim o Diabo não nos obriga a pecar, ele não tem esse poder. Tiago nos ensina que quando vem a tentação cada um cai devido à sua concupiscência, ou seja, o seu desejo interior de pecar. Isso mostra que ninguém cai no pecado do outro. Eu e você somos tentados nos nossos pecados, naquilo que temos a tendência de pecar e não naquilo que não temos. Eu na verdade não sou tentado naquele pecado que não me atrai e nem você. Se caímos em algum pecado, é porque esse pecado é o que nos atrai.
E isso pode ser muito triste, de maneira geral, saber que demonstramos esse pecado especifico. Para muitas pessoas olhar para dentro de si e ver as trevas que tem é muito duro. Eu não peco o pecado do outro, assim como o outro não peca o meu pecado. O Diabo tenta, mas Tiago diz: Feliz o homem que suporta com paciência a provação. Se suportarmos o momento em que estamos sendo tentados pelo Diabo e pela nossa carne, nossa velha natureza, nossos desejos pecaminosos, o pecado via embora e ficaremos firmes.
Feliz o homem que suporta com paciência. O pecado é algo terrível que embota a nossa mente e nos faz realizar coisas que em sã consciência nunca o realizaríamos. O pecado é como uma doença mortal em nosso ser, que apesar de incubada, de vez em quando quer sair para fora e mostrar a sua carranca.
Apesar disso aprendemos com Jesus que o Diabo cansa. É isso mesmo. “Quando um espírito imundo sai de uma pessoa, passa por lugares áridos procurando descanso, mas não encontra onde repousar.” (Mateus 12:43) É sumamente interessante que o Diabo procure o homem para descansar. Ele poderia fazer isso nos animais, não é? E ai estaríamos livres do Diabo, mas não, ele procura o descanso dentro dos homens. Então o homem deve ter algo que o atraia, mesmo que ele não queira, ou goste de pensar nisso. O que é que o homem tem, todos os homens em todos os tempos, que atrai os demônios? A conclusão é a presença de Deus. Incrível isso não é? O que é comum a todos os homens a todo o tempo, sempre? O fôlego da vida, ou a presença de Deus. Isso vem corroborar a idéia de que nada subsiste sem Deus, nem o Diabo.
Vê que o versículo diz que o Diabo andou por lugares áridos e não encontrou descanso. Esses lugares áridos só podem ser as pessoas que estão mais afastadas possíveis de Deus. E esses lugares não dá descanso ao Diabo.
O Diabo se cansa e precisa descansar. Essa idéia bíblica de que o Diabo precisa de descanso nos demonstra porque devemos insistir em oração, em ir à Igreja, em jejuar, em ler a Bíblia, naquele projeto, em seguir a presença de Deus. Se tivermos paciência, como Tiago diz, com perseverança, o Diabo vai cansar e ai vamos ter a nossa vitória. Receberemos o que pedimos e a benção chegará a nós.
A POBREZA – Um dos possíveis motivos da escrita de Tiago é a pobreza. Tiago fala bastante sobre a pobreza e nos aponta caminhos de partilha nela. Não estamos sós e não é porque somos pobres ou empobrecidos devido a perseguição, que não iremos repartir com um desfavorecido maior do que nós. A ajuda ao próximo deve ser acirrada em tempos de crise. Quanto maior a crise, mais devemos ajudar.
“Que o irmão pobre se orgulhe de sua alta dignidade, e o rico se orgulhe de perder a sua oposição social, porque o rico desaparecerá como a flor da erva.” (Tiago 1:9-10) Esses versículos, assim como os posteriores (2:1-13) tentam confortar os irmãos que estão sendo empobrecidos perante a terrível perseguição que a Igreja Primitiva sofre. Esses são versículos muito polêmicos, pois que alegria existe na pobreza?
Mas indo além do que é aparente notamos que: “A comunidade cristã é formada de pobres e ricos convertidos. Os pobres devem orgulhar-se de sua condição modesta, que os deixa em melhores condições de compreender o Evangelho (Mt 5:3; 11:25-27). Ao entrar na comunidade os ricos perdem seu status social e prestígio junto aoos outros ricos, pois abrem mão de suas riquezas para dividir seus bens com os pobres (Lc 18:18-30; At 4:32-35).” (Nota da Bíblia Sagrada Edição Pastoral)
Tiago nos diz claramente no capítulo 2:5 que Deus escolheu os que são pobres aos olhos do mundo, para torná-los ricos e herdeiros do Reino. Parece-nos, biblicamente que os pobres tem certa predileção perante Deus. E eu consigo imaginar porque. Os pobres são provados e tentados pela sua pobreza e situação adversa, constantemente. É muito mais difícil ser cristão pobre do que um cristão que tenha posses. As tentações do pobre são muito grandes. Mas Deus não enxerga assim e Deus acaba privilegiando quem tem menos condições de o adorar, em oposição a quem teria todas as condições possíveis e não o faz.
É lógico que é muito mais difícil um pobre ir com sua prole para a Igreja num dia de chuva torrencial, do que alguém ir de carro nesse mesmo dia. É muito mais difícil alguém pregar que Deus prospera, estando ele mesmo desempregado e passando sérias privações, do que o irmão rico.
Quem tem mais condições de adorar tem maior responsabilidade. Quem tem menos condições, entre aspas, tem menor responsabilidade. E ai é fácil entender a primazia que Deus dá ao pobre que se esforça a cada segundo da vida em continuar na presença de Deus, tendo todas as desculpas possíveis de se afastar de Deus, ele faz por onde ficar mais firme. O que acaba sendo uma lição de vida para o rico.
Um dos versículos básicos do pobre deveria ser esse: “Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor!’.” (Mateus 25:21) Esse versículo não nos fala só da vida financeira, mas fala também dela. As promessas do Antigo Testamento, de prosperidade, são nossas.
É necessário dizer, principalmente nessa época, inicio do séc XXI, que uma das maneiras de se romper a pobreza é pelo estudo. Hoje em dia menos que a faculdade é pouco. O mundo qualifica-se, seguindo as empresas que se qualificam. Devemos fazer a nossa parte. Os pais tem obrigação de tentarem dar um melhor futuro aos filhos, assim como os filhos tem obrigação de tentarem romper com a pobreza, para tempos mais acomodados. Todos devemos nos mexer e tentar um futuro melhor. Na época de Tiago não haviam opções, mas hoje os recursos são muitos.
A PARTILHA – Um terceiro grande fato mostrado em Tiago é que a fé deve ser acompanhada de obras. (2:14-17) Tiago usa ainda os motivos sociais para demonstrar algo muito maior do que isso.
“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e nào lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” (Tiago 2:14-17)
Para esse imprescindível entendimento. Vamos ver parte do estudo abaixo.
"A salvação é somente pela fé ou pela fé mais as obras?"
Esta talvez seja a mais importante pergunta em toda a Teologia Cristã. Esta pergunta motivou a Reforma: a separação entre a igreja Protestante e a igreja Católica. Nesta pergunta está a diferença crucial entre o Cristianismo Bíblico e a maioria dos cultos “Cristãos”. A salvação se dá somente pela fé ou pela fé mais as obras? Sou salvo apenas por crer em Jesus ou tenho que crer em Jesus e fazer certas coisas?
A questão da fé somente ou fé mais as obras se faz difícil por causa de algumas passagens bíblicas de difícil correlação. Compare Romanos 3:28, 5:1 e Gálatas 3:24 com Tiago 2:24. Há quem veja uma diferença entre Paulo (a Salvação é somente pela fé) e Tiago (a Salvação é pela fé mais as obras). Na verdade, Paulo e Tiago, de maneira alguma, discordam entre si. O único ponto de discordância que alguns afirmam existir é a respeito da relação entre fé e obras. Paulo dogmaticamente diz que a justificação se dá somente pela fé (Efésios 2:8-9) enquanto Tiago aparentemente está dizendo que a justificação é pela fé mais as obras. Este aparente problema é resolvido ao examinarmos com precisão sobre o que discorre Tiago. Tiago está negando a crença de que a pessoa possa ter fé sem produzir quaisquer boas obras (Tiago 2:17-18). Tiago está enfatizando o argumento de que a fé genuína em Cristo produzirá uma vida transformada e boas obras (Tiago 2:20-26). Tiago não está dizendo que a justificação se dá pela fé mais as obras, mas, ao invés disso, diz que a pessoa que é verdadeiramente justificada pela fé produzirá boas obras em sua vida. Se uma pessoa afirma ser crente, mas não produz boas obras em sua vida - então ela provavelmente não tem fé genuína em Cristo (Tiago 2:14, 17, 20, 26).
Leia mais: http://www.gotquestions.org/Portugues/somente-a-fe.html#ixzz3fyoywlqy
CONCLUSÃO
Esses são alguns pontos básicos da epístola, existem outros, mas de alguma maneira esses são os mais lembrados e analisados. Fique na paz de Cristo.
Paulo Sergio Larios