Protestantes que honram Nossa Senhora

PROTESTANTES QUE HONRAM NOSSA SENHORA
Miguel Carqueija


“Todas as gerações me chamarão bem-aventurada.”
(Lc 1,48)

Alguns dos nossos irmãos protestantes não são somente refratários ao culto a Nossa Senhora, mas parecem ter pela Mãe de Jesus Cristo verdadeiro ódio, o que é incompreensível da parte de cristãos. Há uns 30 anos, talvez, houve entre nós o lastimável caso de um pastor que chutou uma imagem de Maria num programa de televisão, e dizendo: “Isso não funciona!” (como se fosse um aparelho elétrico). Ouvi dizer que, após essa manifestação de fanatismo, ele veio a se arrepender amargamente e se converteu ao Catolicismo. Ouvi dizer. Não afirmo.
Entretanto, ao longo da minha vida pude constatar vários casos de protestantes que demonstraram respeito e veneração pela Virgem. Isso mostra que é perfeitamente possível o entendimento com protestantes lúcidos. Não tem sentido que católicos evitem falar em Nossa Senhora “para não desagradar aos protestantes”, já que antes de mais nada nós não podemos desagradar é a Deus.
Recordo, por exemplo, o digno Roberto Rabelo, pastor adventista que falava num programa de rádio, já há muitos anos. Ele era agradável de ouvir, muito sensato e educado, e suas palestras eram bem aproveitáveis na defesa de valores como a moral de costumes. Rabelo não hostilizava a Virgem Maria e, certa ocasião, manifestou discordar da conhecida história dos “irmãos de Jesus” que provaria não ter Maria se mantido virgem, pois a concepção virginal só seria admissível para Jesus.
Rabelo observou que, a seu ver, a dignidade de Mãe de Cristo não teria diminuído se ela houvesse dado á luz outros filhos. Porém se assim fôra, não teria Jesus confiado sua mãe ao discípulo amado (Jo 19, 26,27). Para o pastor, os irmãos de Jesus eram provavelmente filhos de um matrimônio anterior de São José.
Mesmo esta explicação me parece fraca, pois não há indício nenhum de que José fosse um homem idoso; antes ele devia ser poucos anos mais velho que Maria, esta devia ter uns 15 anos quando se esposou.
A verdadeira explicação, já mencionada milhões de vezes, é que o idioma judaico daquela época, muito pobre, nem possuía uma palavra para significar primo; assim os primos eram chamados de irmãos.
Faz muitos anos li numa velha Seleções – creio que da década de 50 – um artigo intitulado “O milagre de Lourdes”. Era de fato um livro resumido, da famosa “Sessão de Livros” da revista. O autor dizia-se protestante; não obstante esteve no famoso santuário, local das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette Subirous, em meados do século XIX. O artigo foi escrito com muito respeito, eis que os fenômenos de Lourdes impressionaram aquele escritor, que chegou a dizer que, mais que as curas do corpo que lá se verificavam (inclusive examinadas por uma comissão de médicos), o maior milagre eram as curas espirituais, pessoas em quantidade que realmente se encontravam com Deus.
Em 1952 foi lançado nos EUA um filme sobre os milagres de Fátima, Portugal, em 1917, as aparições da Virgem Maria a três crianças, Lucia, Francisca e Jacinto. O diretor, John Brahm, consta que era “quarq”. Trata-se de “A Virgem de Fátima” ou, no original, “The miracle of Our Lady of Fatima”. Filme respeitoso e digno.
Em suas saudosas e apreciadas palestras radiofônicas pela Rádio Jornal do Brasil, Dom Marcos Barbosa OSB chegou a afirmar que havia, sim, protestantes que manifestavam amor à Virgem Santíssima.
Não se pense, portanto, que o culto a Virgem Maria possa constituir obstáculo ao Ecumenismo, obra necessária de concórdia e entendimento entre cristãos de diferentes cultos. Se os católicos esfriarem sua devoção para com a Mãe de Cristo, que favores podem vir a esperar do Céu?
Consultemos agora um Doutor da Igreja, o grande Santo Afonso Maria de Liguori (1696-1787), que deixou copiosa obra devocional e apologética. Em seu famoso e publicadíssimo livro “Glórias de Maria” ele assim fala no Capítulo VIII da Parte I (Explicação da Salve-Rainha): “Até o protestante Ecolampádio tinha por indício certo de reprovação a pouca devoção à Mãe de Deus.” Mais adiante: “Por isso até Erasmo (refere-se Santo Afonso a Erasmo de Rotterdam, autor do "Elogio da loucura") assim saudava a Santíssima Virgem: “Deus vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a confiança em vós assegura a salvação.”
Voltando ao cinema quero citar Walt Disney, que era protestante, e reverenciou a Virgem no clássico desenho “Fantasia”, de 1940. Como se sabe, “Fantasy” é uma homenagem de Disney à música clássica, com oito peças famosas na trilha sonora, acompanhando oito sequências animadas, na execução da Orquestra Sinfônica de Filadélfia regida por Leopold Stokovski. Embora as vinhetas sejam separadas, a sétima e a oitava se ligam. A sétima é a “Noite no Monte Calvo” de Mussorgsky: bela mas sinistra melodia que evoca um sabá maligno; no desenho vê-se o demônio controlando as almas dos condenados. É uma sequência de puro terror, mas o poder do maligno se desfaz ao som do sino de uma igreja. Esconjurado o poder do mal, a cena passa a ser de uma procissão católica, ao ar livre, ao som da belíssima “Ave Maria” de Schubert.
Por aí se vê que não faltam irmãos protestantes que demonstram respeito e reverência a Nossa Senhora. Sabemos que só a Deus se adora; assim, não nos impressionemos com argumentos vazios, como o de que “venerar e adorar é a mesma coisa, está no dicionário”, porque o dicionário não fala nada disso. O culto de veneração à Virgem Maria é legítimo e santo e os católicos não têm que se envergonhar dele. Peçamos sim, a Deus, que os nossos irmãos protestantes jamais deixem de reverenciar àquela que disse “Sim” ao Anjo Gabriel, mensageiro do Todo Poderoso.


Rio de Janeiro, 20 e 21 de junho de 2015.

imagem google: a Pietá de Michelangelo