BÍBLIA SAGRADA – PALAVRA DE DEUS OU DOS HOMENS? Artigo um

Caras amigas e amigos,

Esse depoimento faz parte de um projeto pessoal. Serão três artigos ao todo, onde pretendo levar um conhecimento que está restrito aos acadêmicos e aos estudantes autodidatas. O tema é a Bíblia e será analisada sob uma perspectiva histórico-científica.

Artigo um: BÍBLIA SAGRADA – PALAVRA DE DEUS OU DOS HOMENS?

Esse projeto é dirigido aos cristãos moderados (que se sentem livres e sem medo de abandonar algum ponto de sua crença se concluir que ela esta errada), aos cristãos piedosos (os que não concordam que se maltratem pessoas inocentes, muito menos em nome de Deus) e também aos ateus e agnósticos, pois quero mostrar que embora não creiam ou duvidam que haja um Deus, a crença nesse Ser protetor e invisível, às vezes pode ser boa e útil, na medida em que essa crença motive nossos amigos cristãos a serem melhores consigo mesmos e com os outros.

Não creio que esses artigos terão alguma utilidade para os cristãos radicais, que interpretam as Escrituras literalmente e acham que as leis do Antigo Testamento devem continuar valendo para nossos dias. Portanto, eles só irão perder tempo se continuarem a leitura.

Veja bem, o que vamos discutir é se a Bíblia é a “palavra de Deus”, não a existência de Deus. Quero deixar claro que a crença em Deus pode ser útil e trazer vantagens aos que creem e muitas vezes é o Fator Deus que traz paz, harmonia entre as pessoas e as motiva a serem boas, caridosas, e a receberem consolo com a perda de um ente querido. Muitas vezes, é o Fator Deus que transforma um homem rude em um pai e marido amoroso, que motiva o jovem viciado a largar as drogas, a ser um filho melhor. Portanto, diante de tantos benefícios da crença em Deus, não discutiremos a existência Dele, mas se a Bíblia é a palavra desse Deus sábio, bom e amoroso.

A Bíblia é um livro riquíssimo em história antiga, muitas comprovadas pelos historiadores e arqueólogos, algumas inventadas ou modificadas, lendas, folclore e mitologias. Há histórias comoventes como a de Rute, a moabita, que preferiu cuidar da sogra de origem hebreia a voltar para seu povo. E há cenas de muita crueldade, praticada por reis e profetas que diziam agir em nome de Deus. Moisés, ao ver o povo dançando em volta de um bezerro de ouro, uma cópia de um deus egípcio, ordenou: “Cada um de vós meta a espada sobre sua coxa. Passai e repassai através do acampamento, de uma porta à outra, e cada um de vós mate o seu irmão, seu amigo, seu parente!” Os filhos de Levi fizeram o que ordenou Moisés, e cerca de três mil homens morreram naquele dia entre o povo.” (Êxodo 32,27).

Josué não perdoou nem crianças e bebês de colo, todos em Jericó foram mortos, sem piedade, porque cultuavam outros deuses e o plano dos sacerdotes hebreus era unificar o judaísmo: “Tomaram a cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos.” (Josué 6,21).

Aprendemos na infância, que a Bíblia é a palavra de Deus, que seus autores foram orientados por Ele, e que é o livro mais perfeito de todos, cuja moral e ética são irrepreensíveis. De fato, existem ensinamentos bíblicos que todos aprovamos como sábios: não matar, não roubar, honrar pai e mãe, amar o próximo, tratar bem o estrangeiro, fazer caridade, etc. Mas outros não parecem nem sábios nem moralmente corretos: o deus do A.T. aprova que um pai venda a filha como escrava (Êxodo, 21,7), manda vender carne estragada para os estrangeiros (Deuteronômio 14,21), manda matar pessoas que seguem outro deus, isto é, que tem outra religião (Deuteronômio 13,6). O deus de Moisés aprova o estupro de meninas virgens, ao permitir que seus soldados matem todos os idólatras, bebês, crianças e adultos a golpe de espada; mas poupa as virgens, para serem desfrutadas sexualmente pelo exército de Moisés (Números 31,15). O deus de Moisés permite que os soldados capturem mulheres bonitas das tribos conquistadas, as transformem em suas esposas, e as mandem embora assim que se enjoarem delas (talvez quando ficarem feias ou envelhecerem). E conforme aprendemos em Esdras 10,3, elas são abandonadas sem nenhum direito, a não ser levar os filhos, pois Javé não queria que crianças filhas de mulheres pagãs contaminassem seu povo.

Alguém pode dizer: ah, mas isso era no A.T., e querer justificar de todas as formas possíveis as ordens de Deus para matar, estuprar meninas virgens, etc. É curioso como uma pessoa defende as piores atrocidades quando tem o cérebro bloqueado pela fé cega. No entanto, nos ensinamentos do N.T. também encontramos conselhos que nenhum pai daria ao filho: se teu olho pecar, arranque-o; se tua mão pecar, corte-a (Mateus 5,28); quem tiver fé, poderá pegar serpentes com a mão e beber veneno que nenhum mal lhe acontecerá (Marcos 16,18).

Cristãos afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus. De onde vem essa certeza? Do ambiente em que nasceram, claro. Tivesse um cristão nascido no Irã, diria que o “livro sagrado” é o Corão e Alá o Deus verdadeiro; na Índia, reverenciaria os Vedas e o Deus Brama. Como podemos notar, nossa religião e nosso livro sagrado não somos nós quem escolhemos; são determinados pelo lugar em que nascemos.

Hoje, a maioria dos especialistas em Bíblia já não acredita que ela seja uma obra revelada, isto é, que seus autores foram inspirados de maneira sobrenatural por Deus. Veja o que dizem alguns dos maiores especialistas em estudos bíblicos: No livro “A Bíblia não tinha razão”, de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, ambos de origem israelita, ficamos sabendo da existência de anacronismos, contradições e erros históricos que não deveriam existir num livro que se intitula a Palavra de Deus. Em um trecho, seus autores afirmam:

“A epopeia histórica contida na Bíblia – desde o encontro de Abraão com Deus e sua marcha a Canaã até a liberação da escravidão dos filhos de Israel por Moisés e o auge da queda dos reinos de Israel e Judá – não foi uma revelação milagrosa, mas sim um magnífico produto da imaginação humana.” Bart Ehrman, ex-pastor evangélico, comenta em seu livro “O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e por quê?”: “De que nos vale dizer que a Bíblia é a palavra infalível de Deus se, de fato, não temos as palavras que Deus inspirou de modo infalível, mas apenas as palavras copiadas pelos copistas – algumas vezes corretamente, mas outras (muitas outras!) incorretamente? De que vale dizer que os autógrafos (isto é, os originais) foram inspirados? Nós não temos os originais!...” Ehrman afirma que não podemos ter certeza de que a Bíblia que os cristãos têm em casa revela a Palavra de Deus, já que os textos bíblicos foram adulterados diversas vezes através de sucessivas cópias.

Para os especialistas, as histórias sobre profetas que falavam com Deus faz parte da ficção. Segundo registros, outras culturas mais antigas que o povo bíblico já tinham seus profetas, homens privilegiados que diziam ver e falar com Deus: O rei de Ur, antiga cidade da Suméria, autor do primeiro código da Humanidade (cerca de 2.050 antes da Era Comum), disse que sua legislação tinha sido entregue por Shamash, um dos deuses mais importantes do panteão sumério. No século dezessete antes da Era Comum, foi a vez de Hamurabi, rei babilônico, criar um código com auxílio de um deus. Era mesmo Deus quem falava com esses reis? Não. Os antigos reis e profetas descobriram que as leis e seus avisos funcionavam melhor se dissessem ao povo que tinham sido transmitidos por um deus. Dava mais credibilidade. O código mosaico (conjunto de leis atribuídas erradamente a Moisés) seguiu esse modelo.

Talvez alguém queira dizer que os especialistas estão equivocados ou estão mentindo, e que a Bíblia é de fato a Palavra de Deus. É possível testar se ela é uma obra revelada? Tem. Lendo a Bíblia e conhecendo de perto o Deus da Bíblia. Mas já adianto que não é um, são três, todos diferentes entre si:

É o que vermos no próximo artigo.