O PERIGO DA AFIRMAÇÃO EQUIVOCADA

Há coisas que alguém afirma por engano, mas que não lhe compromete, embora possa ser passível de responder judicialmente por sua afirmação. Mas há afirmações que podem resultar na perda do direito a vida. Nunca deveríamos dizer certas coisas, principalmente pretendendo justificar a alguém.

É possível dizer que alguém é bom por ver nele(a) atitudes louváveis, bem como dizer que alguém é mau por este praticar algo que é o seu ofício, como um abatedor de animais para consumo humano, ou um abatedor de focas, que o faz para o aproveitamento das suas peles para vestuário. Mas isso não resultará em danos para quem fizer tal afirmação. O que não é o mesmo para o que disser que um criminoso é justo. E alguém poderia objetar: “Mas não é normal isso”. É, e mais do que se pensa ou se sabe. É o que acontece com aqueles que advogam as causas de alguém que foi as barras dos tribunais por causa de algum delito. Os causídicos que os defendem, principalmente se forem remunerados com elevadas somas por seus clientes, dirão dele que é um santo.

Certa vez, participando de um corpo de jurados do julgamento de um sujeito acusado de assassinato, fiquei deveras impressionado com a eloquência do advogado que defendia o réu. Ele disse deste que o mesmo era bom filho, que foi uma fatalidade, pois ele e o que fora morto estavam lutando “luta marajoara”, etc. e tal. E esse modo eloquente de defender os réus, não raro comove o corpo de jurados, levando-o a uma decisão equivocada. E nessas ocasiões se vê que não prevalece o direito e a justiça, mas a falácia e a verborragia ou a oratória dos defensores e promotores de justiça.

Penso que no grande julgamento que haverá no dia do juízo final inúmeros causídicos sofrerão penalidade por que defenderam uma causa na qual justificaram um injusto. E, assim como eles, outros simplesmente porque condenaram um justo ou justificaram um injusto e pecador.

Não raro o ser humano julga por vista ou julga segundo lhe é ditado que julgue.

Jezabel, mulher do rei Acabe, um dos reis das dez tribos de Israel que deixou de seguir a casa de Davi, mandou que os grandes da cidade onde morava Nabote o acusassem de blasfêmia e o matassem. Isso porque ele se recusou a vender uma vinha que havia herdado de seus pais, a qual ficava junto ao palácio do rei, e que este queria comprar de Nabote. Como ela era rainha, eles lhe obedeceram e não se deram ao trabalho de investigar se o fato era como a rainha dizia. Assim, mataram um justo obedecendo à voz e ordem de ímpio. O episódio está registrado na bíblia no livro de Reis.

No livro de Provérbios de Salomão diz que “O que justifica um ímpio e condena um justo são abomináveis”. E hoje temos visto muito isso. Políticos acusados de corrupção sendo absolvidos por seus pares no Congresso e Senado, como no caso do “Mensalão”, e tendo as suas penas diminuídas por haverem recebido votos favoráveis de algum membro da corte de justiça do Supremo Tribunal Federal ou porque não foram abonadas as teses propostas por seu relator e/ou pelo procurador geral da república de algum mau feito praticado pelos acusados. Em alguns casos um dos juízes não aquiesceu à tese de formação de quadrilha ou de lavagem de dinheiro, etc.

Mas considerando o fato de que todos os mortais haverão de prestar contas dos seus atos, e que, como disse Jesus, “por toda palavra vã que o homem disser terá que prestar contas no dia do juízo”, então é necessário que todos saibam que só pelo fato de alguém chamar a um ímpio de justo, ou chamar a um justo de ímpio, já está em “maus lençóis”.

Por ocasião da morte de um conhecido, vi o post de uma pessoa também conhecida no qual ela se expressou dizendo que ele foi um justo. Segundo sei a sua vida foi um rosário de tropeços. Inclusive com suspensão da função que ocupou em órgão público. Quem o justifica pode estar seriamente encrencado por causa da sua afirmação.

Além disso, é comum se ouvir de alguém justificando a ação de um ou o erro de outro: “Tá certo!” “Ele mereceu!” “Pois ele fez isso ou aquilo.” Quando o que o tal fez contrariou o seu preconceito ou os seus interesses ou os interesses de alguém que lhe era simpático.

O povo de Israel também condenou a Jesus, apesar de tudo o que ele fez em benefício do seu povo. E isso porque ele contrariava a elite nobre e os maiorais religiosos daquele povo. E o povão, que foi o mais favorecido, se deixou levar pelos seus líderes e condenou o justo (Jesus) e justificou a um malfeitor (Barrabás).

Hoje não é diferente. A presidente do nosso país é considerada boa, não obstante as comprovações de maus feitos praticados por ela tanto como subversiva quanto em posto de conselheira de empresa estatal brasileira. O seu antecessor também é tido como grande articulador político, não obstante as comprovações de que no seu governo e junto do seu gabinete ocorreram ações corruptas envolvendo seus mais próximos auxiliares, como José Dirceu e Antônio Paloci.

Assim como o “bom ladrão” obteve a promessa de estar no reino de Deus por ter servido de advogado a Jesus e tê-lo como justo, muitos perderão o direito a vida eterna por o condenarem, ainda que possam ter tido atitudes justas. Também outros poderão ter suas vidas perdidas por terem condenados cristãos que denunciavam os ímpios e pecadores.

Pense nisso e nunca mais justifique um errado, a fim de não se tornar semelhante a ele.

Oriximiná-PA, 04/06/2015

Oli Prestes

Missionário