Os três pilares da Igreja Católica

OS TRÊS PILARES DA IGREJA CATÓLICA
Miguel Carqueija


“O Espírito disse a Filipe: “Aproxima-te bem perto desse carro.” Filipe aproximou-se e viu que o eunuco lia o profeta Isaías e perguntou-lhe: “Porventura entendes o que estás lendo?” Respondeu-lhe; “Como posso entender, se não há quem me explique?”
(At 8, 29-31)


A doutrina católica repousa sobre três pilares que formam a base da nossa religião. São eles: a Sagrada Escritura (isto é, a Bíblia); a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério.
A Bíblia vem a ser a Revelação Judaico-Cristã, o Antigo e o Novo Testamento que se completam e se fecham em torno de Jesus Cristo, o único nome pelo qual podemos nos salvar e chegar ao Reino de Deus. Na sua infinita misericórdia, o Todo-Poderoso considera, sabemos disso, as limitações humanas pelas quais muitas vezes, por invencível ignorância, os homens não entendem e não aderem à mensagem cristã; e com certeza muitos se salvam sem a Religião Revelada, mas de fato graças a ela, pois é a graça infinita obtida pelo sacrifício de Cristo no Calvário e sua Ressurreição, que opera a salvação para todos os que de algum modo se tornam dela merecedores (a rigor não se salva quem rejeita de coração a lei do amor, que é a lei de Deus e tem caráter universal).
A Sagrada Tradição, a tradição apostólica, nos trouxe a Bíblia e nos garante quais são os livros canônicos.
O Sagrado Magistério, que agiu desde os primórdios da Igreja, garante a tranquilidade aos cristãos. Sabemos, por Mt 16, 18-19, que Nosso Senhor destacou São Pedro – então ainda um rude pescador e aprendendo a se tornar um “pescador de homens” – para chefiar a Igreja. Com efeito, Jesus deu a Pedro o poder das chaves, e somente a ele em particular. Instituiu os apóstolos como o primeiro episcopado: portanto um governo para a Igreja. Note-se que esta declaração segue-se ao testemunho de Pedro, a quem Jesus perguntou (Mt 16, 15-17): “E vós, quem dizeis que sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Jesus então lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isso, mas meu Pai que está nos céus.” Segue-se a isto a admirável entrega do poder das chaves : “E eu te declaro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não revalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”
Mais tarde, já após a ressurreição e apesar da grave fraqueza de Pedro, que por medo negara o Cristo por três vezes, na noite de sua prisão, mas se arrependera amargamente (diz uma tradição que as faces de Pedro teriam ficado vincadas pelas lágrimas), Jesus, mostrando bem que os critérios divinos não são os humanos, confirmou Pedro como a rocha visível da Igreja conforme o diálogo narrado em Jo 21, 15-19. Por três vezes Jesus pergunta a Kefas: “Pedro, tu me amas?” Pedro responde sempre afirmativamente (e na terceira vez, já meio encabulado) e todas as três vezes, Jesus replica: “Apascenta as minhas ovelhas”. Ou seja, as ovelhas são de Cristo, mas este delega a Pedro – e, claro, aos seus sucessores – o poder de governar a Igreja Militante, a Igreja da Terra.
Só com muita teimosia poderá alguém negar que Nosso Senhor efetivamente estabeleceu uma hierarquia na Igreja por Ele fundada, e que esssa hierarquia está representada pelos primeiros doze apóstolos, um dos quais não chegou a se concretizar como tal, pois traiu a Cristo, abandonou o grupo e se suicidou por desespero, antes do derramamento dos dons do Espírito Santo em Pentecostes. Aliás, nessa ocasião é mais uma vez que Pedro se destaca e, sob a inspiração do Espírito Santo, pronuncia um magnífico discurso obtendo desde já uma ocnversão em massa, milhares de pessoas que o ouviram (At 2, 14-36).
É problemático discutir religião com nossos irmãos protestantes porque eles só aceitam a Bíblia como fonte de revelação, desprezando ou simplesmente ignorando a Tradição. No entanto foi a Tradição que nos trouxe a Bíblia, que a montou e foi o Magistério que definiu quais os escritos canônicos (inspirados) entre centenas de outros surgidos nos tempos bíblicos, como é natural que existam. Veja-se por exemplo, que foi a Tradição que nos legou a divisão da Bíblia em capítulos e versículos, já que os escritos originais não contavam com esse recurso elaborado para facilitar a localização dos textos. Os irmãos protestantes utilizam essa divisão, mas ela não fazia parte dos escritos originais.
Também objetam que a palavra “papa” não se encontra na Bíblia. Ora, é razoável entender que Jesus, ao fundar a sua Igreja, fundou-a incipiente, como uma sementinha que iria crescer e se agigantar perante o mundo. Várias das suas parábolas falam nisso. Portanto, Jesus não estabeleceu a futura nomenclatura da Igreja: isto deixou ao critério dos homens que viriam, à proporção que a Santa Igreja crescesse e se aperfeiçoasse, e estabelecesse as suas fórmulas litúrgicas e administrativas.
Que Jesus fundou uma hierarquia centrada no colégio apostólico, com um homem como chefe principal, e visível, está perfeitamente claro pelos textos citados. O termo mais tarde consagrado é acidental: poderia ser outro, como patriarca, pontífice, “arquibispo” (esse seria muito pomposo...), em suma; esta objeção, já se vê, tem o valor igual a zero. Não pode ser levada a sério.
A necessidade de um magistério é reforçada pelo texto citado acima, dos Atos dos Apóstolos, onde o eunuco queixa-se a Filipe de não ter quem lhe explique a Escritura – e o Apóstolo então o faz. Infelizmente, ao separar-se de Roma, Lutero estabeleceu o princípio do livre-exame, perigosíssimo, e por isso as Bíblias protestantes até hoje deixam de apresentar notas introdutórias, rodapés e apêndices, como os que existem na Igreja Católica, inclusive para explicar as medidas utilizadas (de peso, extensão, moedas etc). E também é por isso que o protestantismo não é propriamente uma religião, mas uma colcha de retalhos, sem unidade de doutrina, de culto e de governo. E a cada século, ou mesmo a cada ano, aumenta o número de seitas.
O grande Papa João XXIII, recentemente canonizado, estendeu a mão aos irmãos separados, no grande esforço do ecumenismo, visando a união dos cristãos, já que é desejo de Jesus, evidentemente, que haja um só rebanho e um só pastor. Aqueles que, por sectarismo, sabotam o ecumenismo, preferindo fomentar o ódio entre as religiões, não estão fazendo a vontade de nosso Redentor.
Há uma grande possibilidade de próxima reunião entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. O que nos separa é propriamente uma questão de jurisdição ou governo. Os nossos irmãos ortodoxos conservaram a doutrina e a sucessão apostólica e não mutilaram a Bíblia. Atualmente existe um grande entendimento, semeado de amor, entre os líderes católicos (a começar pelos papas; como esquecer o histórico encontro entre Paulo VI e o patriarca Atenágoras?) e os ortodoxos. Se amanhã ou depois vier a reunião oficial das duas grandes igrejas, a Cristandade terá obtido uma grande e sublime vitória sobre os poderes das trevas.


Rio de Janeiro, 8 de maio de 2015.


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