EU VIM PARA SERVIR E O TEMPO PRESENTE

Vivemos o tempo da Quaresma em preparação à Páscoa, refletindo sobre Fraternidade: Igreja e Sociedade, com o lema: “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). São tempos conturbados em que o noticiário político e econômico se mistura ao policial, mentiras e verdades se sobrepõem, trazendo mais confusão do que esclarecimento, mais trevas do que luz, espertezas de todos os lados, instituições que se confundem heróis e vilões em papéis que se alternam, passado e presente comprometendo o futuro e a plateia atônita e perplexa, relegada ao esquecimento, como que inexistente! Plateia imensa a quem cabe o silêncio, o conformismo e a parte que lhe cabe, tão somente, pagar a elevada conta!

Eu vim para servir! é o alerta dado por Quem se fez servidor por excelência! Totalmente homem e totalmente Deus: Jesus Cristo! É quem dá sentido à expressão bíblica “à imagem e semelhança de Deus” referindo-se à criação do homem. Ante toda a corrupção que grassa abundantemente, soa forte a mensagem conclamada pelos bispos do Brasil! Não é para ser servido que vive o cristão! É para servir! Que nesses tempos de profunda reflexão destinada à conversão possamos a cada dia enfrentar com coragem e determinação a batalha que se trava dentro de cada um de nós: entre o enriquecimento fácil e a conquista pelo esforço persistente, entre o caminho íngreme da honestidade e a larga estrada da facilidade, entre o fazer-se servidor e o desfrutar das benesses do cargo e do poder! Triste perceber, observando tudo o que acontece, até onde vai o egoísmo e a ganância quando se tem o poder!

A nossa Constituição Federal dispõe sobre direitos sociais (Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.) visando à promoção do bem-estar social e econômico, da conquista do bem comum consoante o objetivo da Política, da boa qualidade de vida das pessoas, especialmente das mais desfavorecidas, além de prover a justa distribuição de renda e riqueza. É o que se depreende do aprendizado de lições de Direito. Parece sem eficácia, no entanto, o dispositivo constitucional tão pleno de direitos elencados, ante a cruel realidade que se impõe. Não tenham o mesmo destino as palavras das Sagradas Escrituras: Eu vim para servir, que serve de lema à Campanha da Fraternidade de 2015. Façamos valer a atitude que pregamos!

Condenar e denunciar tudo aquilo que deforma o viver social é compromisso profético do cristão ao lado do anúncio da boa nova e do Reino de Deus. Não é justo que poucos se refestelem com o banquete do poder (propiciado pela corrupção) enquanto milhões tenham que se satisfazer com as migalhas que sobram! Aprendamos com Cristo que nos exorta a servir e não ser servido, com o testemunho da própria vida!

Irineu Uebara