O jejum na Quarta-feira de Cinzas

O JEJUM NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Miguel Carqueija


Muitos católicos estão esquecidos disso, mas ainda existe o jejum de preceito em dois dias do calendário litúrgico: a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira da Paixão.
Antigamente, em tempos de maior fervor, os jejuns costumavam ser mais rigorosos. O cidadão do século XXI, não obstante estar mais sujeito a catástrofes (que ele próprio provocou) que seus antepassados, cultua o conforto e o prazer. Daí tantos que se dizem cristãos mas não querem nem ouvir falar em jejum. Dizem mesmo que “não aguentam” o que em geral não é verdade.
Sabemos que o jejum preceitual admite comer alguma coisa. Recentemente o Professor Felipe Aquino deu uma boa orientação em seu ótimo programa da TV Canção Nova, a “Escola da Fé”. Trata-se basicamente de não comer de fartar. Tome o café da manhã, por exemplo, sem queijo, sem geléia, apenas o básico. Coma um almoço frugal (evidentemente sem carne, pois também é dia de abstinência), e não inclua sobremesa. Faça um pequeno lanche á noite, não jante. Coisas assim.
O jejum é preceitual para pessoas não enfermas, dos 14 aos 60 anos. Embora já tenha passado da idade, continuo a praticá-lo, já que, graças a Deus, minha saúde permite.
Os que torcem o nariz á idéia de jejuar poderiam se lembrar também das vantagem médica: moderadamente este hábito faz bem á saúde, pois desentoxica o organismo.
Infelizmente vivemos numa civilização hedonista, onde se vive para os prazeres da carne e do estômago. Um mundo onde as pessoas buscam sofregamente não alimentos saudáveis, mas gostosos e temperados, pesados como churrascos e embutidos... queremos viver para o prazer, sem nos mortificar um pouquinho.
Ainda mais nesses dias sombrios de carnaval, onde os piores instintos afloram...
E assim se vive como se Deus não existisse, mesmo quando nominalmente se crê n’Ele.
Notem bem: o jejum inclui ações voluntárias. Nada impede, se uma pessoa estiver de boa saúde, a prática mais rigorosa que pode chegar à completa abstenção de alimento, exceto água, pelas 24 horas do dia de preceito. É mais fácil do que parece à primeira vista, sem maiores consequências que uma dor de cabeça. Os santos como São Pedro de Alcântara faziam sacrifícios muito mais rigorosos. A razão da penitência está na “comunhão dos santos” citada no Credo dos Apóstolos, pela qual existe intercomunicação entre as almas no Céu, no Purgatório e na Terra, e as orações e sacrifícios de alguns, por pouco que sejam, obtém a conversão daqueles que não se mortificam e que vivem nos vícios. Assim Santa Teresinha do Menino Jesus, como ela conta em “História de uma alma”, logrou converter um assassino condenado à morte, que nem a conhecia, mas que logo antes da execução beijou o crucifixo do padre, atendendo ao sinal que a menina santa pedira a Deus.
Jejum, aliás, não é só de comida. Nas magníficas aparições de Medjugorje a Virgem Maria pediu, pelos videntes, o jejum da televisão, e chegou a declarar: “A televisão vos destruiu”. É a pura verdade. E nem havia ainda, a baixaria de um BBB por exemplo...
Pode-se jejuar de vícios como o cigarro e a bebida, a língua solta, a internet com seus perigos e o tempo estúpido que rouba às pessoas (uma amiga me contou que perdera o marido por causa da internet).
A Quaresma é um tempo de reflexão. Não estamos neste mundo para gozar a vida, mas para servir aos nossos irmãos, proteger a natureza, glorificar a Deus e nos preparar para a vida definitiva.


Rio de janeiro, 17 de fevereiro de 2015.

imagem: o Santo Sudário