MINHAS VIAGENS AO CÉU E AO INFERNO

MINHAS VIAGENS AO CÉU E AO INFERNO

Seria possível ir ao céu e não ficar lá, bem como ir ao inferno e não se queimar? O que vou dizer aqui vai deixar muitos de cabelo em pé. Mas eu já fui muitas vezes tanto no céu como no inferno. E vou provar o que estou dizendo.

A primeira vez que eu fui ao céu eu tinha vinte e dois anos. Eu tinha pedido minha demissão da função que ocupava em um grupo financeiro no qual trabalhei na cidade de São Paulo, e tinha retornado a cidade na qual eu nasci. E fui contratado para trabalhar numa cidade por onde passava a rodovia transamazônica e para fazer parte de uma equipe que fazia a consultoria do DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, hoje DENIT – Departamento Nacional de Infraestrutura.

E fui ao céu nas asas de um aparelho voador pertencente a extinta Viação Aérea São Paulo – VASP. A minha viagem foi curta, já que a distância entre a capital do Estado, onde eu morava, e a cidade que eu me destinava, ou melhor, onde a companhia aérea fazia escala, tinha aproximadamente mil quilômetros. A viajem foi tranquila e eu não tive nenhum medo. Nesse mesmo dia e logo a seguir, eu e mais quatro pessoas que se destinavam a mesma empresa para a qual eu fui contratado também tomaram o mesmo avião, um monomotor Cesna.

Nós éramos seis com o piloto. Após uns quinze minutos de vôo o pequeno avião começou a trepidar, o piloto avisou que não poderia prosseguir e teríamos que retornar. Um dos ocupantes, o Fábio – desenhista, sugeriu ao piloto, na eventualidade de não poder retornar, que pousasse na rodovia Santarém Cuiabá, que estava sob nós. Mas felizmente não foi preciso fazer pouso de emergência, pois, caso contrário, eu poderia não estar narrando a ocorrência. Lembro-me de ter olhado para as praias do Rio Tapajós e pensado: Bem, se cairmos o máximo que pode acontecer é eu morrer. E fiquei aguardando o final dos acontecimentos. Mas um dos ocupantes que ia fumando no avião, um topógrafo – Nicola Pietrolongo, o qual me incentivou e apresentou como candidato ao cargo que eu iria ocupar, deixou cair um cigarro aceso no carpete do avião, e, quando buscou apanhá-lo, não o encontrou. E o avião também levava querosene de aviação, já que, naquela época, não havia posto de combustível de aviação naquela cidade. Cada piloto fazia a sua provisão. A seguir tomamos outro avião e voamos pelo céu com destino a cidade de Itaituba, local Miritituba, margem direita do Rio Tapajós, na Rodovia Transamazônia, no trecho entre Miritituba-PA e Rurópolis, que hoje é a cidade de Medicilândia-PA.

Depois, e por causa da dificuldade de locomoção para sair daquele lugar, fiz muitos vôos em várias aeronaves, incluindo helicóptero, pois tínhamos um fretado para dar apoio ao lançamento da linha base. Era da VOTEC.

Assim, voei em Eletra, Viscon, YS11 ou Samurai, Caravelle, Constelation, Boing 737-200 Advanced, Irondele, Bit craft, DC 3, Aerocomander, Cheroqui, Bonanza, Cesna, Brasilia, Bandeirantes, etc. Todos eles me levaram aos céus do Brasil. Depois, nas minhas andanças, voei em diversas versões de Boing, inclusive no Air Bus. Também voei em Catalina, avião anfíbio que amerissava, e que amerissou onde havia uma tribo indígena, numa viagem que fiz quando trabalhando em um trecho da estrada Perimetral Norte. Ainda na semana que passou eu estive mais uma vez no céu, quando fui visitar uma filha no sul do país.

Numa dessas minhas idas ao céu, eu fiquei sabendo que a temperatura lá estava em cinquenta e um graus negativos. Não fosse a cabine pressurizada e eu viraria picolé e morreria no céu, onde a maioria pensa que só há vivos.

E quanto a minhas viagens ao inferno, a primeira da qual tenho lembrança foi quando eu era jovem e morava numa pequena cidade da região das ilhas no arquipélago do Marajó. Não sei se no sepultamento de alguém ou não. Depois fui muitas vezes visitar o túmulo do irmão com o qual eu mais me identificava, o qual morreu prematuramente num acidente com uma viatura militar quando ele servia ao Exército Brasileiro. Depois disso eu já fui ao inferno várias vezes, tanto acompanhando um cortejo fúnebre como levando uma mensagem aos que visitam os túmulos daqueles que lhes foram queridos.

Não se indignem comigo caros leitores. É que, segundo a Bíblia, há três céus. E essa expansão que vemos é o primeiro, sendo o terceiro a morada de Deus. E inferno é um vocábulo do latim que designa a casa dos mortos ou sepultura, não local de sofrimento como pensam alguns. Assim, é possível que você também já tenha ido ao céu e ao inferno e não sabia disso.

Oli Prestes

Missionário