A INFLUÊNCIA DA TEOLOGIA SEXUAL NA FELICIDADE HUMANA
O mundo está doente.
Não apenas fisicamente, mas sobretudo, psiquicamente.
Para onde olhamos enxergamos pessoas infelizes, deprimidas, estressadas, violentas, vivendo sem ter um porquê, sem sonhos pelos quais lutar. A O.M.S. (Organização Mundial da Saúde) prevê que em 2030, a depressão será a doença número um no mundo. A venda de ansiolíticos, as drogas sintéticas para combater a ansiedade, bate recordes em todos os lugares.
Segundo a O.M.S., diariamente cerca de sessenta mil pessoas no mundo tentam se matar. Três mil conseguem. Sem falar naqueles casos em que os registros apontam como acidentes ou cujas mortes acontecem mais tarde, como causa direta da tentativa de suicídio. Por que estamos tão infelizes? As principais causas da infelicidade, que aparecem com frequência nas listas de especialistas, são: a violência, as doenças, a pobreza, o desamor, o vazio interior – falta de um objetivo na vida – , a ansiedade, etc.
Vamos deixar de lado estes seis fatores, pois todos já foram debatidos ao infinito por estudiosos muito mais gabaritados do que eu. Por isso pretendo focar numa das causas da infelicidade que é pouco explorada e discutida: a moral sexual da religião.
Quem estuda a sexualidade humana, verá que ela tem um primeiro estágio, sem leis ou impedimentos, exceto para o incesto. Estamos na fase pré-neolítica, onde ninguém é de ninguém, homens copulam com todas as mulheres e elas com todos os homens.
No segundo estágio, ao se tornar sedentário, o homem fixa moradia em só lugar, pois precisa cuidar do rebanho e das terras. Começamos a entrar na fase patriarcal, cuja característica predominante é a dominação do homem sobre a mulher. A mulher, antes vista como deusa, pois tem o dom de gerar uma criança (o homem ainda não sabia da importância do sêmen para a gravidez; só saberá quando domesticar os animais e observar que a ovelha só procria com a presença de um macho), é colocada no mesmo nível dos animais. É mais um artigo de propriedade do homem. A Bíblia mais tarde irá confirmar essa “verdade” em Êxodo 20,17.
A religião, que a essa altura já está fortemente cravada nas sociedades humanas, vai ditar as regras do que é permitido ou não em termos de sexo. Percebe-se que a teologia sexual num primeiro momento (antes da chegada das grandes religiões monoteístas) é fortemente influenciada por questões sócio-econômicas e políticas.
Se a nação era muito populosa e não havia recursos para alimentar a todos, a classe sacerdotal impunha normas para controlar o sexo. Mas quando passavam por um período de guerras, e morriam muitos homens nos campos de batalha, a nação ficava fragilizada. Para incrementar o aumento da população visando futura mão de obra e guerreiros, desapareciam todas as restrições ao sexo. A poligamia (somente para os homens), o sexo para solteiras e solteiros e a prostituição voltavam a ser legalizados.
O fator clima também afetará as regras sexuais. Em regiões de clima ameno e terra fértil, onde todos têm o que comer, a moral sexual é mais frouxa, porque há mais tempo para o ócio e a licenciosidade. Em regiões de clima frio e terra pouco produtiva, a moral sexual fica mais rígida; não há tempo para ficar fornicando em casa e nas casas de prostituição.
A teologia sexual das religiões atuais, de modo análogo a religião do início do patriarcal, ainda são influenciadas por fatores sociais econômicos e políticos os quais já falei antes. Mas a estes, vieram juntar-se mais dois elementos importantes:
1. Textos “sagrados”, cujos autores são homens e santos, mas, segundo a crença, auxiliados por um deus.
2. Discursos de santos e teólogos (todos homens).
Conhecendo o teor desses textos e discursos, podemos entender porque o sexo mesmo em tempos modernos, ainda é carregado de tabus e preconceitos.
Vamos ver o que diz sobre sexo...
A Tanac (Antigo Testamento).
São condenados à morte: casal que mantém relação durante o período menstrual; adúlteros; moças solteiras que não guardam a virgindade para o futuro marido; homossexuais, incestuosos, e quem faz sexo com idólatras e estrangeiros.
“Foi pela mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos.” (Eclesiástico 25,24). Esse livro faz parte apenas da Bíblia católica.
Mulheres sedutoras e enfeitadas serão castigadas por Deus (Isaías 3,16).
Novo Testamento
“Aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério” (Mateus 5,28).
Teólogos cristãos:
"Se morrerem no parto, benditas sejam, porque certamente morreram fazendo a vontade de Deus...Que morram dando à luz, pois para isto existem" (Martinho Lutero);
"A mulher é uma ferramenta de Satã e um caminho para o inferno” (São Jerônimo);
"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens" (Santo Agostinho);
“Nada avilta mais o espírito de um homem do que as carícias sensuais de uma mulher e as relações corporais que fazem parte do matrimônio”. (Santo Agostinho);
“Por isso, se o homem fosse inteligente jamais teria relações sexuais com mulheres" (São Tomás de Aquino).
Alcorão.
Embora a mutilação genital em meninas e meninos não seja uma recomendação do Alcorão, há um hadit (dito atribuído ao profeta) que a torna legítima:
“O profeta Maomé disse, Circuncisão é sunna [tradição] para o homem e makrumah [preservação da honra para a mulher]”;
“Vossas mulheres são vossas semeaduras. Desfrutai, pois, da vossa semeadura, como vos apraz;” (sura 2,223);
“Quanto à adúltera e ao adúltero, vergastai-os com cem vergastadas [chicotadas]” (sura 24,2);
O casamento é uma obrigação e o homem pode ter até quatro esposas. O Corão abre uma exceção ao profeta, que ouviu o Anjo lhe dizer: “Ó Profeta, em verdade, tornamos lícitas, para ti as esposas que tenhas dotado... as filhas de teus tios e tias paternas, as filhas de teus tios e tias maternas, que migraram contigo, bem como toda a mulher fiel que se dedicar ao Profeta, por gosto, e uma vez que o Profeta queira desposá-la; este é um privilégio exclusivo teu, vedado aos demais fiéis” (sura 33,52).
Ibn Hazm diz em seu livro Al-Muhalla (O Adocicado):
"O pai pode consentir em dar a sua filha em casamento sem a permissão dela, porque ela não tem escolha, exatamente como Abu Bakr El Sedick [sogro do Profeta] fez com sua filha, Aisha, quando ela estava com seis anos de idade. Ele a deu em casamento ao profeta Maomé sem a permissão dela". Segundo as palavras atribuídas a Aisha: "O mensageiro de Alá tomou-me como sua noiva quando eu tinha seis anos, e tomou-me [consumou o ato sexual] como sua esposa quando eu completei nove anos de idade". Maomé tinha 54 anos ao casar-se com Aisha.
Código de Manu.
Art. 361º “Aquele que faz violência a uma menina, sofrerá logo uma pena corporal; mas, se ele usufrui dessa menina porque nisso ela consente, e se ele é da mesma classe que ela, não merece castigo”;
Art. 511º “Um homem de trinta anos deve desposar uma menina de doze anos que lhe agrade; um de vinte e quatro, uma de oito anos”;
Art. 513º “As mulheres foram criadas para dar à luz os filhos, e os homens para gerá-los”.
Como vimos, uma das principais preocupações da religião foi com o desejo sexual humano. As regras para controlar a libido do povo tinham por objetivo manter as pessoas concentradas em assuntos de interesse da classe dominante (governo, clero e as elites), ou seja, mantê-las ocupadas no trabalho o maior tempo possível, pois isso traria riqueza e prosperidade para os detentores do poder.
Todo esse conjunto de regras contra a liberdade do sexo, se por um lado foram essenciais para o desenvolvimento da civilização, por outro, trouxe sérios danos à felicidade humana.
Nathaniel Branden, psicólogo e escritor disse:
“Qualquer um que se engaja na prática de psicoterapia se confronta todo dia com a devastação forjada pelos ensinamentos da religião.” No livro “O mal estar na civilização” Freud escreveu: “O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa”. Ou seja, foi preciso que os poderosos incutissem no ser humano que o sexo e os prazeres da vida eram pecado, para que seus interesses estivessem garantidos.
Assim, de geração a geração, fomos ensinados que há um deus lá no alto preocupado com o que fazemos ou não fazemos entre quatro paredes e com o que fazemos com nosso corpo nos momentos solitários. E que aqueles que pecam contra a castidade serão severamente punidos no além, num lugar reservado aos pecadores.
Esse medo de gostar e fazer sexo por prazer, atinge inclusive pessoas com bom nível cultural. Mulheres modernas ainda precisam da desculpa do amor para fazerem sexo. No best seller A cama na varanda, Regina Navarro Lins informa: “Numa pesquisa feita pelo IBGE com pessoas casadas, cerca de 80% dos entrevistados se declararam decepcionados com o casamento. Uma das causas são os problemas relacionados ao sexo. Muitos casados ainda padecem dos tabus sexuais aprendidos nas missas e cultos.
Segundo pesquisas 51% dos brasileiros estão insatisfeitos com sua vida sexual. Creio que esse número não corresponde à realidade, deve ser bem mais, haja vista que a maioria das pessoas, por orgulho, não confessa que sua vida íntima está um desastre. Somente 22% das mulheres conseguem sentir orgasmo na relação.
Segundo os especialistas, o sexo tem muitas vantagens. Talvez você esteja lembrado de um antigo Ministro da Saúde que recomendou aos casais fazerem sexo cinco vezes por semana como prevenção aos perigos da hipertensão. E quem é hipertenso não precisa se preocupar em fazer sexo, desde que tenha a hipertensão controlada. Além de ser ótimo para o coração, o sexo seguro e sadio ajuda no equilíbrio físico e mental porque o organismo libera a endorfina, uma substância ligada à sensação de bem-estar; faz o sistema circulatório e respiratório trabalhar melhor, estimulando a atividade cerebral; aumenta a circulação sanguínea, promovendo uma melhor oxigenação das células, e a liberação do estrogênio na mulher, que irá dar um aspecto mais bonito para a pele, deixando-a mais jovem e firme e cabelos mais sedosos e brilhantes; no homem, é liberada a testosterona, que deixa a musculatura e a massa óssea mais firmes e resistentes; ajuda a diminuir ou eliminar dores de cabeça; diminui os incômodos da TPM e da dismenorreia; dá mais poder aos mecanismos de defesa contra os processos inflamatórios, gripe, etc.;
Creio que agora estamos aptos a perguntar:
Por que as pessoas continuam a dar ouvidos à teologia moral sexual da religião, se todos sabemos que o sexo é bom, dá prazer e alegria, é fácil de fazer, e todos gostam e fazem (mesmo aquele proibidos de fazê-lo)?
A resposta que a meu ver é a mais correta, é que o ser humano, em sua maioria, acredita mesmo que por trás dessas regras sexuais, está Deus, nos olhando com o cenho franzido e ansioso para castigar todos que pecam contra a castidade. Os que acreditam que os interditos sexuais são imperativos divinos são os que terão mais dificuldades em serem felizes em seus relacionamentos amorosos e sexuais.