DEUS É CRUEL?
Há quem decida que sim,após uma leitura fraca das Escrituras,como é o caso do Sr Fernando Bastos,estudioso das religiões e em particular do Cristianismo,que evidentemente o incomoda,por algum motivo não muito claro.A minha intenção,por ora,não é especular a respeito do motivo pelo qual um ateu ocupa parte significativa de seu tempo com aquilo em que supostamente não acredita,mas colocar em questão a suposta crueldade do Deus da Bíblia,que causa pesadelos ao Sr Bastos.
Aos interessados na natureza mesma do ateísmo,o ensaio PSICOLOGIA DO ATEISMO,de Paul Vitz,é sempre minha primeira indicação de leitura,não a única,não a mais importante(deveria indicar a obra inteira de C.S.Lewis,primeiro...)mas a mais acessível a quem se inicia nesse curioso pormenor da mentalidade deicida.
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Vejamos,para começar,o que a Bíblia diz a respeito de um aspecto do caráter divino,a saber,sua BONDADE:
• SALMOS 34:8 Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia.
• MATEUS 7:11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?
• JEREMIAS 31:3 Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.
• JOÃO 10:11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
• ROMANOS 12:02 E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
• TIAGO 1:17 Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.
Temos,portanto,por certo o que a Bíblia afirma a respeito de Deus:ele definitivamente não é um deus cruel,pelo contrário,é bom e a própria origem da bondade.De onde viria,então,a idéia de uma suposta crueldade divina?De uma leitura fraca das Escrituras,como já indiquei no início desse texto,nada mais.Um dos grandes problemas dos ateus leitores da Bíblia,não o único mas provavelmente o mais desastroso,atenta contra uma regrinha fundamental de hermenêutica bíblica,que é exatamente interpretar a Bíblia através da Bíblia,o que,em tese,deveria ser o suficiente para dar conta de eventuais contradições de leituras tendenciosas,como a do Sr Bastos,que incorre no crasso absurdo da extinção sumária e gratuita da coerência interna de um texto.Responder às leituras equivocadas do Sr Bastos é conceder-lhe aos delírios a dignidade de uma ponderação que mereça ser,ao menos,considerada – não o são! – de modo que parece óbvio que o que quer que seja dito a respeito do que um leitor dessa categoria diz ter visto no texto bíblico,sua percepção provavelmente está comprometida num nível mais profundo que o da linguagem.Escrevemos,no entanto,na tentativa de esclarecer a intenção claramente maldosa de autores de textos dessa natureza capciosa.
No texto INVESTIGANDO ALGUMAS AFIRMAÇÕES DA BÍBLIA,por exemplo,o Sr Fernando Bastos defende a sua tese da crueldade divina baseando-se em episódios em que Deus determina a destruição dos inimigos de Seu povo(DEUTERONÔMIO 7:2,JOSUÉ 6:20)e define a recompensa para a idolatria(OSÉIAS 14:1...?)(provavelmente refere-se a OSÉIAS 13:16).
Ora,a conclusão a respeito disso chega a ser óbvia:na cabeça do Sr Bastos bondade e juízo divino são não apenas incompatíveis mas mutuamente excludentes,ou ainda,ser bom implicaria necessariamente em ser leniente com o erro definido em Sua lei moral.
Isso,leitor,sem entrar no que talvez seja o cacoete básico desse argumento da crueldade,o de colocar Deus num banco dos réus e julgá-lo segundo critérios e valores humanos aos quais Ele estaria sujeito(!).
E em todo caso essa é a única possibilidade que o ateu tem de lidar com o que lhe causa desconforto em relação às implicações morais de admitir a existência de Deus,simplesmente trazer Deus para o seu nível e fazer dEle um criminoso comum,não lhe resta outro recurso diante do que lhe escapa à percepção mais superficial,a da linguagem.