INDIVIDUALIZAÇÃO DO SISTEMA RELIGIOSO
Luiz Barros Pereira
Quem diria que o mundo atual marcado profundamente pela modernidade, fosse precisar da religião e das diversas expressões da religiosidade. Segundo as estatísticas, aumentam sempre mais, o número de pessoas que vive a sua fé sem pertencer a uma religião. Ao mesmo tempo, os números revelam que as instituições religiosas como a Igreja Católica Romana e as Igrejas Históricas Protestantes, estão perdendo adeptos. Como explicar este paradoxo?
Podemos dizer, nos dias atuais, a religião está despedaçada. Com o surgimento de novas Igrejas e com a circulação global de diversas religiões e filosofias de vida, a Igreja Católica perdeu a hegemonia religiosa. A modernidade e os efeitos da globalização muito têm contribuído para a fragmentação da religião na atualidade.
A tendência da modernidade é a individualização em todos os sentidos. E essa tendência, se estende ao universo religioso das pessoas. Podemos afirmar que a expressão religiosa moderna é subjetiva e, consequentemente, marcada por uma crença individual. Por isso, a dimensão comunitária da fé e o sentido de pertença a uma comunidade tende a desaparecer.
Ao mesmo tempo em que assistimos o enfraquecimento das Instituições religiosas, notamos o aumento de pessoas que constroem sua fé, sem necessitarem do resguardo de uma instituição. Cada um, por si só, constrói sua crença. Esse processo não é mais herdado de uma única tradição, mas cada um, com liberdade, busca nas diversas igrejas/religiões, elementos que lhe interessam, e ao mesmo tempo, foge dos controles destas instituições. Tornou-se comum nas grandes cidades, encontrar pessoas que dizem que ser católicas, ou protestantes, mas não sabem qual é a sua paróquia/comunidade ou a sua igreja. Vivem numa busca constante, numa tentativa de construir sua própria identidade religiosa.
Já que a fé deixou de ser uma expressão coletiva, cada um busca a bel-prazer sua identidade religiosa, e ao mesmo tempo procura resolver seus problemas pessoais, frequentando e participando ao mesmo tempo, de diversos cultos religiosos.
Quando morei nas palafitas, na Baixa do Petróleo, Salvador BA, tinha uma vizinha que ia à missa no domingo, na segunda ia tomar um banho de pipoca no largo de Santa Bárbara (Iansã), na terça marcava presença na seção de descarrego da Igreja Universal, na quinta recebia um passe no espiritismo e na sexta estava no Terreiro.
Também, na atualidade, existem religiões onde estão presentes diversos elementos doutrinais e rituais de outras religiões. Ex.: O Vale do Amanhecer. Nesta religião, estão presentes os elementos do catolicismo popular, do espiritismo, das tradições indígenas e afro-brasileiras, os quais se tornam um ponto de encontro e de identificação para quem chega. O mesmo pode se dizer da Umbanda.
Segundo a autora do livro O peregrino e o convertido, hoje em dia existem três modelos de conversões: primeiro “muda de religião” porque rejeita a tradição herdada; há uma negação da experiência religiosa anterior e abre-se para uma nova. O segundo modelo é o das conversões dos “sem-religião”. A partir de trajetória individual, a pessoa descobre certa tradição e integra-se a ela. O terceiro e último modelo de convertido é aquele denominado de “refilado”, “convertido de dentro”. Esse é caracterizado por aqueles que vivem conforme a tradição recebida. Redescobrem naquela identidade religiosa um sentido para a vida.
Por fim, segundo os dados acima mencionados, estamos diante de uma nova realidade religiosa, onde cresce o número de pessoas que constroem sua crença, sua religiosidade individualmente, sem pertencerem diretamente a uma instituição religiosa, transformando assim, o cenário religioso e sociocultural dos tempos atuais.
Bibliografia
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: Vozes, 2008.