POSICIONAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DO CARÁTER SÓCIO-RELIGIOSO

Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, no partido político ( opção mais imbecil, e minha crítica tem bases de experiências, pois fui militante de alguns deles e até viajei a congressos e encontros pelo país) na ciência ou em si mesmo, que é a coisa mais brega de todas.

“A violência é como uma espécie de arquivo de computador não-executável”, diz a antropóloga Márcia Regina da Costa. “Dependendo do estímulo, ele entra em ação e os resultados podem ser inesperados.” Então não me venha com essa de alcançar o nirvana espiritual numa perfeição de conduta. Segundo Platão; “ninguém pode enunciar a própria virtude”. A virtude de um homem é anunciada pelos outros homens. Na tradição católica existem alguns ícones personificados em estatuais, num reconhecimento de que o ser humano não pode ser Santo, mais alguns sim – Já o protestantismo não tem santos –, o santo é sempre alguém que, o tempo todo, reconhece o mal em si mesmo, esse reconhecer é ser verdadeiramente humano e Santo, pois nesta compreensão desenvolve a compaixão pela fraqueza do outro ser, assim como Jesus teve compaixão da prostituta e a perdoou, pois ela se reconheceu como limitada em agrada-lo pedido ajuda, tal ato o santifica pelo reconhecimento contínuo do erro de cada dia.

Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas.

Lililson
Enviado por Lililson em 14/09/2014
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