A alegria do encontro na missão e na vida
Padre Geovane Saraiva*
A aspersão da água pelos ministros, por ocasião das celebrações eucarísticas e nas mais diversificadas ocasiões de bênçãos, simboliza a manifestação da graça, do perdão e da alegria, tendo Jesus Cristo como água viva, a deixar as pessoas compungidas e purificadas das suas mazelas diárias. Da parte dos ministros, como é indispensável uma disposição e alegria interior, a causar nas pessoas um reconhecimento da ação de Deus em suas próprias vidas, proporcionando-lhes um não indiferentismo e uma profunda alegria. A respeito dessa alegria interior dos ministros é oportuno relembrarmos as palavras do Papa Francisco: "Não se pode anunciar a Jesus Cristo com cara de cemitério".
Jesus é o Messias, o Filho do Deus que devia vir ao mundo, na declaração tão solícita e publicamente anunciada por Marta, irmã de Lázaro, em um profundo gesto de quem muito o amava (cf. Jo 11, 19-27), dando-nos sempre mais a certeza de que o amor é o mandamento que o Senhor nos deixou, aquele mesmo amor que foi derramado em nossos corações, que por virtude do Espírito Santo nos foi dado (cf. Rm 5, 5). A alegria e a felicidade consistem na clara consciência de que Jesus possui o Espírito Santo na plenitude, e é desta plenitude que os membros do corpo místico de Cristo participam na medida em que Cristo o quiser dar (Ef 1, 8; 4,7). As dificuldades são diversas, mas chorar e perder a esperança, jamais! Jesus se apresenta como aquele que se ofereceu por nós na cruz, e que se imola continuamente em nossos altares, na eucaristia. E aqui é importante recordar o cientista francês Blaise Pascal (1623-1662), no seu ardente desejo de realização: “O prazer dos grandes homens consiste em poder tornar os outros felizes”.
É Deus Nosso Senhor, pelo seu Espírito ao agir na criatura humana, que a faz gostar verdadeiramente da realidade que transcende o plano terreno, na direção do sobrenatural, numa íntima união da criatura com o Criador, prevalecendo: "Pensai nas coisas do alto e não nas da terra" (Cl 3,2). Recordo aqui as palavras do Papa Francisco em 04/09/2014: “O lugar privilegiado para o encontro com Jesus Cristo são os nossos pecados. Quando o cristão não é capaz de se sentir um pecador, salvo pelo sangue do Cristo crucificado, ele se torna um ‘meio-cristão’, um ‘cristão morno’. E quando encontramos Igrejas decadentes, paróquias decadentes, instituições decadentes, quer dizer que certamente os cristãos que estão ali nunca encontraram Jesus Cristo ou se esqueceram de seu encontro com Ele. A força da Palavra de Deus e da vida cristã reside naquele preciso momento, em que eu, pecador, encontro Jesus Cristo, e aquele encontro transforma a minha vida e dá a força de anunciar aos outros a salvação”. Só assim é que podemos perceber a segurança advinda do Amor Divino, que quer sempre edificar os projetos dos nossos corações (cf. 1Cr 4,1-5).
Entre os grandes homens, os heróis da galeria da fé, os que deixaram um legado indelével para a humanidade, em prol da dignidade da pessoa humana e de sua própria realização, destaca-se Charles de Foucauld (1858-1916). Sua vida foi toda voltada para Deus, ao se fazer presença viva e silenciosa do Cristo aonde a Igreja precisava ser marcada pelo Espírito Santo de Deus, na dimensão do deserto e da contemplação do absoluto de Deus, mesmo sem o tradicional mosteiro. Foi exatamente no antagonismo que ele soube perceber os sinais de Deus, como monge, padre, missionário e eremita, no Deserto do Saara. E lá assim ele orava: “Meus Deus, entrego minha vida em vossas mãos, eu vo-la dou, meu Deus com todo o amor do meu coração”.
De maneira similar, como as palavras da Mãe de Deus, ao visitar sua prima Isabel, nos colocam para cima: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. Também as palavras de Zacarias, esposo de Isabel e pai de João Batista, ao recuperar sua voz, no cântico de júbilo: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel que visitou seu povo, que lhe trouxe a salvação”. Sem esquecer o velho Simeão, desejoso da vinda do Messias, no alegre hino de louvor: “Agora podes deixar o teu servo partir em paz, porque já vi a salvação preparada para os povos de todas as nações”. Por fim, guardemos a alegria do místico Padre de Foucauld, que fez de sua vida um profundo ato de amor: “Tão logo que acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa, senão viver só para Ele”. Assim seja!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com