JESUS. COMO E POR QUÊ ELE SE TORNOU DEUS
Como bom católico que fui, até minha terceira década de vida achava que Jesus era o filho de Deus e o próprio Deus criador, e sua vida tinha sido exatamente como estava escrito na Bíblia. Do nascimento de uma virgem visitada pelo anjo do Senhor à subida aos céus quarenta dias após a ressurreição, tudo para mim eram acontecimentos reais, que minha fé se recusava em questionar.
No entanto, ao me tornar uma pessoa mais cética, fruto da paixão por filosofia e psicologia que se instaurou em meu espírito após os trinta anos, comecei a questionar todas as informações que eu recebia. Assim, fui levado a esquadrinhar a Bíblia e a vida de Jesus atrás de possíveis erros ou falhas.
E havia muitas.
Após certo tempo de estudos e pesquisas, descobri que fora enganado. Embora Jesus era um personagem histórico, existiu de verdade, sua biografia não era exatamente o que os Evangelhos narravam. Comecei a vê-lo como um ser humano normal, não Deus.
O que segue é um resumo das principais descobertas feitas por especialistas em Bíblia, especialmente em Novo Testamento.
O objetivo desse artigo não é fazer o leitor descrer ou duvidar da existência de Deus. É antes, mostrar como a Igreja transformou um personagem de pouca importância em sua época no Deus criador do mundo, visando seus próprios interesses. E quais interesses eram esses?
No princípio, acabar com o paganismo e fazer a religião cristã universal (católica = do grego katholikós, ‘universal’.). Quando o imperador Constantino, no século 4, legalizou a religião cristã, e anos depois outro imperador, Teodósio, proibiu todos os outros cultos, permitindo somente o cristianismo, a classe sacerdotal vendo-se no topo do poder desviou-se dos ensinamentos fundamentais pregados pelo fundador do cristianismo, que eram o amor ao próximo, fazer caridade, doar tudo aos pobres e levar uma vida simples, esperando pela recompensa num Paraíso que viria depois da morte. Com a subida ao poder, a Igreja se tornou uma instituição hipócrita, arrogante, sanguinária, com poder sobre a vida de todos.
Uma frase atribuída a São Cipriano no século três foi usada para forçar a todos a abraçar o cristianismo: “Fora da Igreja não há salvação”. Começava assim a tática de aliciamento de mentes e corações. Quem não se convertesse, era tombado a golpes de espadas.
Agora, vamos ver quem pode ter sido Jesus.
Fora dos Evangelhos, há poucas e nada confiáveis referências ao Jesus da Bíblia. O historiador mais famoso daquelas terras, Flávio Josefo, escreveu centenas de páginas sobre o judaísmo, muitas tratando de coisas insignificantes, e apenas um parágrafo relatando um homem de nome Jesus que fazia milagres, era bom, e venceu a morte. No entanto, descobriu-se através de exames grafológicos, que tal parágrafo foi um acréscimo tardio da Igreja, e não um comentário de Josefo. Ora, será que um homem com a dimensão de proezas que alegam os evangelistas não mereceria muito mais atenção dos historiadores da época?
Todos os especialistas concordam que não podemos ter certeza do que Jesus falou. Do total de seus ensinamentos, cerca de 80% são cópias do que antigos sábios já pregavam. Os evangelistas se contradizem o tempo todo. Um exemplo:
Pouco antes de sua morte, o que Jesus disse? Cada evangelista dá sua versão:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27,46).
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23,46).
“Está consumado!” (João 19,30).
Como dizem que a Bíblia é um livro inspirado, por que os homens que narraram a vida do Messias não chegaram a um acordo sobre tantos momentos importantes de sua vida?
Mas certamente não foi apenas isso que me fez desacreditar na divindade de Jesus.
A Bíblia diz que Jesus é Deus. Portanto, o Deus do Antigo Testamento é Jesus, certo? Você sabe como pensa e age javé, o deus do Antigo Testamento?
Vamos visualizar alguns traços da personalidade de Javé:
Ciumento: Proíbe que os hebreus adorem outros deuses (Êxodo 20,5). Ele manda apedrejar até à morte quem segue outra divindade (Números 25,1).
Xenófobo: proíbe casamento de hebreus com estrangeiros (Deuteronômio 7,3).
Preconceituoso: não permite que os deficientes físicos se aproximem do altar ou entrem em seu santuário (Levítico 21,16).
Homofóbico: manda matar homossexuais (Levítico 20,13).
Misógino: manda matar a noiva que não preservou a virgindade para o futuro esposo (Deuteronômio 22,13). O homem não era punido se tivesse experiências sexuais antes de casar.
Sanguinário: autoriza Moisés e seu exército invadir cidades madianitas e matar homens, mulheres e crianças. Só as virgens devem ser poupadas (Números 31,13). Que serão usadas sexualmente pelos soldados de Israel (Deuteronômio 21,10).
Assassino: Javé é o autor do maior número de assassinatos na Bíblia. Supera de longe o exército de Moisés e de Davi. Eis alguns assassinatos de um Javé enfurecido:
Gênesis 19, 24: morte dos moradores de Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre.
Gênesis 38, 9: Onã foi morto porque ejaculava fora, se recusando a engravidar a cunhada, pois o descendente seria do irmão falecido.
Êxodo 12, 29: morte de todos os primogênitos do Egito.
Números 17, 14: morte de catorze mil e setecentos israelitas, porque reclamaram da morte de Coré e dos homens que ofereceram fogo estranho.
Números 21, 5: todos que reclamavam da falta de água e pão no deserto foram mortos por picadas de cobra. Javé não suportava quem se revoltasse contra as más condições no deserto.
Números 25, 6: Um dos filhos de Israel trouxe para junto de seus irmãos uma madianita...Morreram vinte e quatro mil homens com essa praga. Javé não queria que o hebreu casasse com estrangeiras.
II Samuel 24, 15: morreram setenta mil homens da população, desde Dã até Bersabéia.
II Reis 2, 23: quarenta e dois rapazes chamaram um profeta de Deus de careca, ele invoca Deus que aparece e manda duas ursas trucidar os zombadores.
Para entender essas mortes, o leitor precisa um pouco de conhecimento de mitologias e crendices do povo antigo. Sempre que algo de errado acontecia, ou quando pessoas morriam, dizia-se que Deus havia os castigado.
Vejamos agora de onde o redator cristão tirou a ideia de que Deus envia o filho para nos salvar. Que nasce de uma virgem fecundada por Deus, que faz milagres, ressuscita mortos, ele mesmo ressuscita e sobe aos céus onde vai julgar e separar os bons dos maus. Essas ideias são originais? Não.
Em todas as culturas pré-bíblicas existem semideuses, homens que são frutos do relacionamento de uma divindade com uma mulher mortal. Chamam isso de mitos.
Eles, igual a Jesus, nascem de uma mortal fecundada por um Deus: Krishna, Horus, Hercules, Dionísio, Perseu, Zoroastro...
Têm poderes sobrehumanos: Krishna, Baco, Hércules...
Ressuscitam mortos: Asclépio na Grécia...
Morrem e ressuscitam geralmente no terceiro dia: Mitra, Krishna, Osíris, Baco, Tamuz...
Sobem ao céu: Mitra, Osíris, Dionísio...
Vão julgar os bons e os maus: Osíris, Zeus, Ahuramazda...
Por que os seus discípulos divulgaram esse Jesus divinizado?
Se os primeiros cristãos não divulgassem para as comunidades pagãs que Jesus era filho de um deus, que fazia milagres, que morreu e ressuscitou, teriam poucas chances de convertê-los ao cristianismo. É que os pagãos já tinham muitos deuses entre eles. Os cristãos precisaram criar um deus maior que o deles, senão não teriam êxito em implantar a nova religião.
Ensinamentos bons e outros estranhos ou perigosos.
Bons:
Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles (Mateus 7,12). “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.” (João 13,34). “Amai aos vossos inimigos” (Mateus 5,44). Esse ensinamento é o suprassumo do amor de Jesus, e se todos seguissem seria impossível haver guerras e discórdia entre as pessoas.
No entanto, nem o Jesus dos Evangelhos fez o que falou.
Maus:
“Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado". (Marcos 16,16). Ou seja, não basta você ser bom, se não crer em Jesus, vai para o inferno.
"Quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados." (João 15,6). Mensagem: siga-me sem questionar ou vai arder para sempre no inferno.
“Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas” (Mateus 5,17). Fazia parte da Lei matar filhos desobedientes, moças solteiras que mantinham relações sexuais, quem consultasse os espíritos, etc. Se Jesus disse isso mesmo, ele parece concordar que aquelas pessoas deviam morrer.
“Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.” (Mateus 10,15). Seria o amor de Jesus incondicional? Vemos nesse trecho que as cidades que não o aceitassem, ele prometia o inferno.
“Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.”(Mateus 10,33). Teria Jesus uma personalidade egoica, própria de pessoas megalomaníacas e inseguras, como acreditam muitos psiquiatras que se debruçaram em cima de sua personagem?
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim” (Mateus 10,37).
“Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13,49). E quem são os maus que irão para o castigo eterno? Aqueles que não creem em Jesus e em sua divindade. Ou seja: 2/3 da humanidade.
“Quanto aos meus inimigos que não me quiseram como rei, trazei-os aqui e matai-os na minha presença!” (Lucas 19,26). Ele usou essa parábola para mostrar que todo aquele que não o seguisse deveria ser morto.
Poderia um homem que se compadeceu tanto da dor de seu povo, que mandou amar nossos inimigos, também pudesse ser autor dessas frases que acabei de citar? Ou como dizem muitos estudiosos, muitas frases não foram ditas por ele, mas colocadas em sua boca pelos copistas, a mando da Igreja.
Uma coisa a maioria dos pesquisadores concorda: não sabemos se foi Jesus quem disse tudo isso. Os melhores estudiosos admitem ser impossível saber o que ele disse ou não disse. Cada um vai acreditar no Jesus que desejar e lhe for mais conveniente.