OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES: breve introdução histórica
Luiz Barros Pereira*
O Ofício Divino das Comunidades (ODC) surgiu a partir da necessidade sentida por diversos liturgistas sensíveis às causas do Povo de Deus e comprometidos/as no processo da evangelização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), no sentido de fazer chegar a esse povo as riquezas estruturais e elementares da Liturgia das Horas (LH).
Os primórdios do ODC contam com iniciativas como a de Pe Geraldo Leite Bastos e suas comunidades paroquiais, e da equipe de elaboração, reunida por Marcelo de Barros Souza e Maria da Penha Carpanedo. Em tempos difíceis de transição política e de políticas econômicas que flagelavam a vida do povo, começou a nascer o ODC como expressão de uma espiritualidade litúrgica desafiada a sustentar a fé dos mais simples e marginalizados (SANTOS, 2010, p. 38).
Nesse sentido o Pe. Geraldo Leite soube unir liturgia e piedade popular à antiga tradição designada de “ofício” para o povo simples de suas comunidades, como trabalho sacerdotal de santificar as realidades da vida pela oração. Ele teve a sensibilidade pastoral de ajudar o povo simples a rezar a LH.
Em geral desacreditamos da grande potencialidade da memória popular. O povo tem uma memória fabulosa. É capaz de decorar tudo. Há cânticos antigos que o povo guarda e canta de cor. (...) Na paróquia de Ponte dos Carvalhos, o povo sabia uns 50 salmos de cor. De vez em quando se introduzia um salmo novo. O Ofício era cantado por um povo que não sabia ler. E tudo era cantado”( LEITE, apud SANTOS, 2010, p. 39).
Por questões de saúde o Pe. Geraldo Leite não pôde participar do primeiro encontro de preparação do ODC, mas deixou sugestões significativas para a equipe nesses termos:
Tenho medo que a gente elabore um ofício muito esquematizado, uma simplificação apenas da LH. (...) Mas a estrutura do Ofício não é para formalizar. O segredo da oração não é empanturrar de ideias, ou cantoria uma em cima da outra. O Ofício é um momento gratuito em que a gente se coloca diante de Deus, simplesmente porque ele é bom” (LEITE, apud SANTOS, 2010, p. 40).
Impulsionados pelo espírito da reforma do Concílio Vaticano II e o intenso fervor do Movimento Litúrgico no Brasil, a equipe de liturgistas começou a tomar iniciativas e foi paulatinamente agrupando-se e recolhendo a matéria prima para a futura elaboração do ODC, no ano de 1988 foi lançada a sua primeira edição e no ano de 1993 foi lançada a sétima edição revisada e ampliada.
Elementos que compõem o ODC: chegada, abertura, recordação da vida, hino, salmodia, leitura bíblica, meditação, preces, oração e bênção.
Equipe de elaboração do ODC: Ir. Agostinha Vieira de Melo, OSB (João pessoa – PB), Fr. Domingos dos Santos, OP (Goiás - GO), Ione Buyst, beneditina (Faculdade N. Sra da Assunção – SP), Ir. João Batista (Seminário Rural – Serra Redonda – PB), Fr. Joel Postma, ofm (Linha 4 – CNBB), Pe Jocy Rodrigues (São Luís – MA), Pe Marcelo de Barros, OSB (Mosteiro da Anunciação – Goiás - GO), Ir. Maria da Penha Carpanedo, PDDM (Revista de Liturgia – SP - SP), Ir. Michel (Comunidade de Taizé – Alagoinhas – BA), Pe. Reginaldo Veloso (Par. Morro da Conceição – Recife - PE), Pe Geraldo Leite Bastos (†).
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*Aluno do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Liturgia – Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás / Rede de Animação Litúrgica
Referência
SANTOS, Danilo César dos. A Sacramentalidade é o caráter celebrativo do Ofício Divino das Comunidades no Brasil. 2010. Dissertação (Mestrado em Liturgia) - Pontificium Athenaeums. Anselme de Urbe. Pontificium Institutum Liturgium, Roma.
OFICIO Divino das Comunidades. São Paulo: Paulus, 2005.