O(s) Pentecostalismo(s) no Brasil: a explosão do movimento que cresceu à margem da sociedade, e se difundiu para todas as classes sociais.
O(s) Pentecostalismo(s) no Brasil: a explosão do movimento que cresceu à margem da sociedade, e se difundiu para todas as classes sociais.
Introdução: A História da Igreja Cristã é repleta de transformações, de mudanças e um desenvolvimento-progresso tanto no campo da teologia como da experiência do espiritual, do transcendental. Como um movimento que começa fora das igrejas institucionais logra êxito e ganha legitimidade, mesmo tendo sua gênese e desenvolvimento entre classes humildes e pobres da sociedade? Como este movimento pode superar as estruturas religiosas já estabelecidas: O Catolicismo Romano e o Protestantismo Histórico?
O Pentecostalismo, designação que abrange muito mais do que uma igreja institucionalizada, muito mais do que uma denominação ou um grupo de denominações. Sua ideia tem origem para os pentecostais no acontecimento que ocorreu após a ascensão de Jesus Cristo aos céus, depois da ressureição (At 1.6-11). No dia de Pentecostes que era uma festa dos judeus após a colheita. Segundo o relato de Atos capitulo 2, em que os crentes foram batizados com o Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, naquela ocasião os apóstolos falaram os idiomas ( segundo o entendimento pentecostal: xenolália) próprios das nações que ali estavam representadas pelos religiosos que vieram à festa em Jerusalém.
Antes, de adentrarmos ao tema proposto para este artigo, é uma tendência de alguns pentecostais o ufanismo e o sectarismo. No inicio do movimento estas características foram causa de muitas controvérsias, bem como a forte pressão, dos protestantes históricos que chamavam o pentecostalismo de “movimento herético”.
Na apresentação do livro “Breve História do Movimento Pentecostal – Dos Atos dos Apóstolos aos dias de Hoje”, do autor “José de Oliveira”, publicado pela CPAD, 2012. Temos a seguinte apresentação, do então Presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, José Welligton Bezerra da Costa: “O livro em apreço, escrito com linguagem escorreita e harmoniosa, oferece-nos uma agradável leitura, enriquecendo nossos conhecimentos sobre a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.” (grifo meu). Talvez a afirmação não esteja apenas se referindo à igreja-denominação Assembléia de Deus, pode ser uma inferência a igreja cristã, contudo, logo em seguida na introdução, na página 11, o autor do referido livro, Pastor José de Oliveira, afirma: “A idéia deste livro nasceu de um folheto, que pretendia esclarecer onde se situa a Assembléia de Deus nesta “floresta” de igrejolas, movimentos neo-pentecostais e carismáticos em nossos dias”. (foi mantida a ortografia original do livro). Mais uma vez soa a definição ufanista e sectária do autor, que pode muito bem não ser a posição teológica e eclesiológica da Assembleia de Deus, mas que está presente em algumas de suas literaturas e autores.
Mas retornando ao tema de nosso artigo, como este pentecostalismo pode ganhar terreno em solo Tupiniquim, mesmo existindo aqui representações do catolicismo e do protestantismo histórico já bem estruturado pelo menos desde o século XIX, no qual se deu início a evangelização protestante ou o protestantismo de missão como alguns historiadores assim definem.
É relevante afirmar que este pentecostalismo “surgiu” como um resgate da espiritualidade e da santidade então perdida pela igreja cristã, em uma época em que as igrejas passavam por um esfriamento teológico e com a ascensão do liberalismo teológico estava em uma fase decrescente, diante dessa crise. No livro História da Teologia Cristã, Roger Olson, Página 506, editado pela Editora Vida. 1999,descreve sobre este momento: “ O chamado Grande Avivamento na Inglaterra e nas suas colônias norte-americanas na década de 1970 ajudou a ocasionar o desparecimento do puritanismo e o nascimento do metodismo. O metodismo teve início com o movimento petista e reavivamentalista que visava dar vida nova a tradição anglicana, cada vez mais distante, formal e racionalista. Os irmãos Josh e Charles Wesley e seu amigo George Whitefield foram seus fundadores.” Dentro desse espírito é que surge os movimentos reavivalistas e de reavivamento.
A origem do pentecostalismo “aconteceu nos Estados Unidos, mas os traços iniciais do movimento podem ser identificadas já no século XVIII, quando, num processo de avivamento, o metodismo implantado por Wesley passa a frisar a santificação como primeiro passo para uma vida cristã autêntica.” (OLIVEIRA.2004.)
No Brasil o pentecostalismo começou no inicio do Século XX. Segundo Vinson Synam, também chamado de “O Século do Espírito Santo”. Paul Freston classifica o início da presença pentecostal como “pentecostalismo clássico”, que ele também denomina de primeira onde pentecostal. Nessa classificação, se encontra a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil, com missionários europeus vindos do Avivamento ocorrido no EUA, mas especificamente o avivamento da Rua Azuza, com a sua origem no início do século XX.
No livro “A religião mais negra do Brasil – porque mais de oito milhões de negros são pentecostais”, Marco Davi de Oliveira. 2004, página, 46.publicado pela Editora Mundo Cristão, afirma: “O pentecostalismo tornou-se opção para os pobres e socialmente oprimidos. No tempo da ditadura (1964-1982), a Igreja Pentecostal era vista como um lugar onde a livre expressão não assustava os militares no poder, porque a linguagem, as idéias e os conceitos não deflagravam nenhuma insurreição ou atividade subversiva. Porém outros aspectos contribuíram para essa opção dos pobres pelo pentecostalismo, particularmente no período da ditadura militar. Um desses fatores tem relação com o movimento social do período, no qual foi registrado um grande êxodo de pessoas do interior para as capitais do Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro”.
O êxodo para as grandes cidades proporcionaram ao pentecostalismo a oportunidade de atender a “demanda” marginalizada que não tinha acesso aos bens de consumo básico nos grandes centros, bem como não tinham acesso à religiosidade e aos cultos existentes na época. No catolicismo do inicio do século XX, as missas eram rezadas em latim, e os cultos protestantes celebrados em línguas estrangeiras dos respectivos missionários ingleses e europeus. Não era uma forma atrativa para atrair os imigrantes que estavam nas grandes cidades. Com uma nova liturgia e como era realizada a evangelização pentecostal, se tornou em uma novidade para os sedentos por vivenciar uma espiritualidade acessível. Por isso que os sociólogos e cientistas da religião procuram entender o fenômeno pentecostal e o máximo que podem definir, é que as circunstâncias sociais foi o fator determinante para o crescimento desse movimento.
Nessa concepção, o pentecostalismo seria um movimento religioso para pobres, voltado para atender a demanda das classes sociais menos favorecidas. Não que ele apresentasse essa proposta, contudo os pobres que optaram inicialmente pelo pentecostalismo. Para melhor compreender essa ideia é preciso dá uma olhada na história da maior denominação pentecostal do país, a Assembleia de Deus.
É nessa igreja que o movimento pentecostal encontra-se com sua maior representatividade. Iniciada por dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, em 1909 na cidade de Belém do Pará, a Assembleia de Deus não começou como denominação. Enviados por Deus por uma profecia que segundo consta nos diários dos pioneiros da igreja, Daniel Berg e Gunnar Vingren, vieram para o “Pará” lugar designado na referida profecia. Chegando aqui sem recursos e sem conhecer ninguém acabaram indo para a casa de um pastor que lhes encaminhou até a igreja Batista que havia na cidade, onde permaneceram por um tempo hospedados no porão da referida igreja.
Começaram a conhecer a cultura e o povo brasileiro, participando dos cultos realizados nessa igreja protestante histórica. Contudo, como vieram “inflamados” pela chama pentecostal, logo começaram a desenvolver uma espiritualidade não praticada pelos crentes da igreja. O batismo com o Espírito Santo e a glossolalia, causaram espanto aos membros da igreja batista, que ocasionou a expulsão dos missionários como mais 18 (algumas versões diz 17 ou 19) crentes batistas que agora criam no Batismo com o Espirito Santo e na cura divina. Assim começa o maior movimento pentecostal do Brasil: Assembleia de Deus.
Nessa época estava acontecendo a extração da borracha no Pará, acontecimento que movimentou e impulsionava a economia do país. Ocasionando a vinda de operários de várias partes do Brasil, principalmente da região Nordeste. Chegando até o Pará se deparavam também com o crescimento do pentecostalismo. Daniel Berg trabalhava incansavelmente no interior do Pará, pregando, evangelizando e vendendo Bíblias (objeto raro naquela época nas casas dos pobres), já que livros era coisa para ricos, para filhos de ricos que estudavam nas escolas existentes. Fruto desse trabalho pioneiro de Daniel Berg, é que nas comunidades por onde ele passava, deixava famílias inteiras convertidas, posteriormente Gunnar Vingren vinha batizar os crentes e ai começava uma nova igreja.
Dentro desse espírito missionário é que cresceu a Assembleia de Deus. Quando acabou a extração da borracha, os operários que voltaram para os seus estados, levaram a fé pentecostal para os seus familiares e amigos. Muitas dessas igrejas começaram sob a liderança de mulheres, de jovens, etc. No inicio foram consagrados pastores jovens, pela necessidade da obra.
Por estas características: fácil acesso ao culto e a liturgia, a aceitação dos pobres, negros e pessoas iletradas, pela participação no culto de pessoas leigas, para pregar, dar testemunho, louvar e pela liberdade de culto “no espírito”, pela religiosidade próxima do catolicismo popular é que o movimento pentecostal ganhou a simpatia do povo brasileiro, que era católico (quase praticante) e que também participava dos cultos do espiritismo (candomblé, umbanda, quimbanda e espiritismo kardecista).
O pentecostalismo melhor se adaptou a religiosidade do brasileiro, mais do que o protestantismo histórico que era mais rebuscado, que tinha um culto mais rígido, mais formal, que exigia de seus líderes uma formação teológica, coisas que não eram exigidas no pentecostalismo. Justamente por esse viés popular, simplista, é que os pentecostais conseguiram expandir o movimento, que se intensifica principalmente no nordeste e norte do país.
Hoje o pentecostalismo é o movimento religioso de maior repercussão no universo protestante. Alvo de constantes pesquisas nas academias, nos seminários. Não é possível falar de um ‘pentecostalismo’, já que existem várias manifestações desse movimento. Segundo Paul Freston, em sua segunda onda o pentecostalismo começa a usar meios eletrônicos, cruzadas de cura divina, a ênfase não é apenas sobre o Batismo com o Espírito Santo, surge neste período (início dos anos 50 à 60) as igrejas: Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo e Deus é Amor.
Nesse momento o pentecostalismo começa a sair dos guetos, da periferia das grandes cidades, para ganhar visibilidade na sociedade, começa a preocupar ao catolicismo. Em sua “terceira onda” a partir de 1970, o pentecostalismo ganha uma nova “classificação” neo-pentecostalismo, que não causa totalmente uma ruptura com o pentecostalismo clássico da primeira onda, mas que começa a se distanciar de seus princípios teológicos e de sua liturgia.
A ênfase agora é na prosperidade. Começa então a prática e o anúncio da tão comentada “Teologia da Prosperidade”. Nesse contexto é que o pentecostalismo entra com mais veemência para outras classes sociais e extratos da sociedade pós-moderna, em busca de soluções para os dilemas do homem urbano. Agora não são apenas os pobres que creem na doutrina pentecostal, pessoas cultas, empresários, doutores, juízes, advogados encontram no neo-pentecostalismo uma resposta para os seus anseios de uma vida familiar equilibrada, de prosperidade material em seu negócio, em sua empresa, a possibilidade de deixar de ser empregado e “virar” patrão.
Aqueles que antes iam ao centro espírita para fazer “trabalhos” para proteger sua família, negócio e etc, hoje vão a “Sessão do Descarrego”, a “reunião dos empresários” e outros trabalhos que mais parecem uma cópia das práticas espíritas (praticadas no candomblé, umbanda, quimbanda e no espiritismo kardecista). Por isso, o pentecostalismo se diversificou, desde a sua gênese é um movimento em constante transformação. E procura adaptar-se a demanda do mercado religioso, principalmente o neo-pentecostalismo.
É evidente que um simples artigo não comporta detalhar acerca da explosão do pentecostalismo, seu crescimento, sua expansão, sua teologia, sua dinâmica e seus desdobramentos, contudo acredito que pelo menos foi abordado princípios que podem ter norteado essa trajetória. Que Deus continue abençoando a sua igreja no Brasil e que sejamos acima de tudo cristãos que tem princípios doutrinários e bíblicos.