Deus proverá... proverá?
DEUS PROVERÁ... PROVERÁ?
A gente cansa de ouvir, por aí, nas igrejas, falarem em fé, e muitas vezes não se observa uma compatibilidade entre a fé proclamada e a realidade da vida. As pessoas tem um discurso bonito a respeito desse dom de Deus, mas poucas sabem converter fé em prática de vida, e sem ela o discurso se torna oco e sem vida. Não existe fé sem obras de misericórdia e solidariedade para com os outros. Com relação às exigências da alteridade, o apostolo Tiago, aquele que disse que a fé sem obras é morta nos ensina que
A verdadeira religião é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em
aflição, e manter-se livre da ambição do mundo (Tg 1,27).
O que se enxerga por aí, geralmente, são os cristãos dizendo uma coisa e fazendo outra. Afirmam que creem na misericórdia de Deus, mas dão prioridade à sua conta bancária e às riquezas. Falam em fé, mas na hora crítica apelam para a segurança do dinheiro. Proclamam entre glórias e aleluias que Yahweh jireh, Deus proverá (Gn 22,14), mas confiam mais no valor da riqueza.
Quando vejo um irmão clamar que Deus proverá, eu fico me perguntado se quem afirma assim crê mesmo nessa providência. Há crentes que dizem crer na providência divina, mas por segurança levam uma figa no bolso. Há quem afirme que Deus os defenderá contra a maldade e a inveja, mas, por via das dúvidas, coloca estrategicamente um ramo de arruda ou uma “espada de São Jorge” em algum lugar da casa. Creem que “o Senhor proverá”, mas acumulam dinheiro em contas de poupança. Ora, em muitos casos, juntar dinheiro denota falta de fé. Se eu penso que Deus providenciará a solução na hora da crise, não é importante eu acumular riquezas para os dias maus. Afinal, Deus proverá ou não?
Se eu tenho fé que Yahweh jiré vai me proteger, para que me preocupar com outras seguranças? É mesmo que crer que Deus não vai permitir o mal, mas usar um patuá pendurado no pescoço para me proteger. É uma incoerência. Ou se tem confiança na proteção do Senhor ou não. Sobre a riqueza há interessante texto dos provérbios do rei Salomão que vale a pena ser meditado:
Eu te peço duas coisas, ó Senhor. Não me dês riqueza, nem
pobreza. Concede-me apenas o indispensável para eu viver com
dignidade, para que, saciado, não te renegue, ou reduzido à
miséria, me revolte contra ti (Pv 30,7ss).
O fato marcante é que não se pode buscar a prática de uma religião verdadeira, pura e sem mácula, no meio da ambição, do egoísmo ou da hipocrisia. Os injustos não herdarão o Reino dos céus.
De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se chegar a
perder sua alma? (Mc 8,35).