Lázaro volta a viver - Carta 098

LÁZARO VOLTA A VIVER

Se Deus não existe, você não perde nada por acreditar; mas se

ele existe, você perde tudo por não crer nele (B. Pascal, in:

Pensamentos).

Ao contrário dos outros evangelhos, no 4º. Evangelho, Jesus não fala em parábolas nem usa discursos com frases lapidares, mas expõe sua doutrina em longos, vigorosos e misteriosos discursos. O Cristo do kérygma, do evangelista João, realiza seu ministério quase todo em Jerusalém, exceto os dois primeiros sinais, que foram realizados na Galiléia, no vestibular de sua vida pública. Na verdade, o que distingue o Evangelho de João é a profundidade com que penetra na vida de Jesus. Sem criar nada de falso ou artificial, o evangelista quis descobrir, com a visão de um crente e a intuição de um místico, todo o significado dos atos e palavras do Logos de Deus feito homem. João é o apóstolo que, guiado pelo Espírito, percorreu todo o caminho para a verdade total. Nossa reflexão é um texto extenso que deve ser lido com unção, atenção e espírito de oração.

1 Um tal Lázaro tinha caído de cama. Ele era natural de Betânia, o povoado de Maria e de sua irmã Marta. 2 Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume, e que tinha enxugado os pés dele com os cabelos. Lázaro, que estava doente, era irmão dela. 3 Então as irmãs mandaram a Jesus um recado que dizia: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. 4 Ouvindo o recado, Jesus disse: “Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela”. 5 Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro. 6 Quando ouviu que ele estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. 7 Só então disse aos discípulos: “Vamos outra vez à Judéia”. 8 Os discípulos contestaram: “Mestre, agora há pouco os judeus queriam te apedrejar, e vais de novo para lá?”. 9 Jesus respondeu: “Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. 10 Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque nele não há luz”. 11 Disse isso e acrescentou: “O nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo”. 12 Os discípulos disseram: “Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar”. 13 Jesus se referia à morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que ele estivesse falando de sono natural. 14 Então Jesus falou claramente para eles: “Lázaro está morto. 15 E eu me alegro por não termos estado lá, para que vocês acreditem. Agora, vamos para a casa dele”. 16 Então Tomé, chamado Gêmeo, disse aos companheiros: “Vamos nós também para morrermos com ele”. 17 Quando Jesus chegou, já fazia quatro dias que Lázaro estava no túmulo. 18 Betânia ficava perto de Jerusalém; uns três quilômetros apenas. 19 Muitos judeus tinham ido à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta ouviu que Jesus estava chegando, foi ao encontro dele. Maria, porém, ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas ainda agora eu sei: tudo o que pedires a Deus, ele te dará”. 23 Jesus disse: “Seu irmão vai ressuscitar”. 24 Marta disse: “Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia”. 25 Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre. Você acredita nisso?”. 27 Ela respondeu: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o

Filho de Deus que devia vir a este mundo”. 28 Dito isso, Marta foi chamar sua irmã Maria. Falou com ela em voz baixa: “O Mestre está aí, e está chamando você”. 29 Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus. 30 Jesus ainda não tinha entrado no povoado, mas estava no mesmo lugar onde Marta o havia encontrado. 31 Os judeus estavam com Maria na casa e a procuravam consolar. Quando viram Maria levantar-se depressa e sair, foram atrás dela, pensando que ela iria ao túmulo para aí chorar. 32 Então Maria foi para o lugar onde estava Jesus. Vendo-o, ajoelhou-se a seus pés e disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. 33 Jesus viu que Maria e os judeus que iam com ela estavam chorando. Então ele se conteve e ficou comovido. 34 E disse: “Onde vocês colocaram Lázaro?” Disseram: “Senhor, vem e vê”. 35 Jesus começou a chorar. 36 Então os judeus disseram: “Vejam como ele o amava!”. 37 Alguns deles, porém, comentaram: “Um que abriu os olhos do cego, não poderia ter impedido que o amigo morresse?”. 38 Jesus, contendo-se de novo, chegou ao túmulo. Era uma gruta, fechada com uma pedra. 39 Jesus falou: “Tirem a pedra!”. Marta, irmã do falecido, disse: “Senhor, já está cheirando mal. Faz quatro dias”. 40 Jesus disse: “Eu não lhe disse que, se você acreditar, verá a glória de Deus?” 41 Então tiraram a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. 42 Eu sei que sempre me ouves. Mas eu falo por causa das pessoas que me rodeiam, para que acreditem que tu me enviaste”. 43 Dizendo isso, gritou bem forte: “Lázaro, saia para fora!”. 44 O morto saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um sudário. Jesus disse aos presentes: “Desamarrem e deixem que ele ande”. 45 Então muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele. 46 Alguns, porém, foram ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito (Jo 11).

Enquanto os chamados evangelhos sinóticos buscam uma revelação mais material do Jesus-homem-histórico, o Quarto Evangelho se afigura sob um enfoque eminentemente ao estilo joanino difere bastante dos autores dos sinóticos. Enquanto estes são mais narrativos e oriundos de uma mesma fonte (por isso sinóticos), o Quarto Evangelho é mais místico, contemplativo e, sobretudo, interpelativo. Os textos de João são mais intuitivos que racionais. Alguns biblistas, enciclopédias, escolas de teologia, ou mesmo determinadas traduções das Sagradas Escrituras resolveram agrupar essas manifestações messiânicas de Jesus, sob o que chamamos de sinais. Enquanto os chamados evangelhos sinóticos buscam uma revelação mais material do Jesus-homem-histórico, o Quarto Evangelho se afigura sob um enfoque eminentemente espiritual.

A expressão “sinal”, semêion, no grego, na teologia joanina tem o sentido de demonstrar o poder de Deus. Aqui o apóstolo-evangelista emprega sinais ao invés de milagres. No contesto bíblico, o sinal surge sempre como um evento de forte impacto, que permite entrever a glória de Jesus e assim usar o fato como um agregado pedagógico de fé àquilo que se pretende ensinar, pregar ou demonstrar, sempre para os preceitos morais, seja da Torá dos textos judaicos ou da proclamação neotestamentária da boa notícia. O vigoroso episódio da volta de Lázaro à vida, está incluído no chamado “livro dos sinais” do Quarto Evangelho. Aqui o termo ressurreição usado na maioria das traduções, não é adequado. Ressuscitar, como a teologia bíblica ensina, é voltar da morte e não tornar a viver mais. Lázaro, por certo, morreu de novo, algum tempo depois. Lázaro era amigo de Jesus. Sempre que o Mestre passava pela região ele se hospedava em sua casa (cf. Lc 10, 38-42). Pois Lázaro morava em Betânia, que no hebraico (bet-anawin) quer dizer “casa dos pobres”. Ele tinha duas irmãs, Maria e Marta.

Ressurreição, como foi dito, é viver depois de estar morto e não morrer mais. O verbo ressuscitar, no grego é anabiôo (voltar à vida) ou anazáo (levantar-se). Quando os helênicos, até hoje, querem dizer que Cristo ressuscitou, costumam dizer, em lugar do prosaico “Feliz Páscoa”, eles usam Christós anesti, ou seja, Cristo levantou-se (ressuscitou!). A volta de Lázaro à vida é uma revitalização, pois ele voltou a morrer mais tarde. Portanto, não é ressurreição. A vivificação é o que ocorre nos hospitais e nos socorros dos paramédicos. Eles não ressuscitam as pessoas acidentadas, mas, através de um conjunto de técnicas de reanimação, com oxigênio, massagens cardíacas e choques (desfibrilação) promovem uma revitalização, isto é a elaboração de um processo que traz alguém de volta à vida. Segundo uma boa parte dos biblistas, semelhante ao milagre de Caná, também aqui Jesus, computados o dia da viagem, da espera e do período em que Lázaro esteve morto, constata-se que ele realiza o sinal “ao terceiro dia”, o prazo da glória de Deus. Sabendo que só em Jesus podiam confiar, decepcionadas com a medicina humana, as irmãs de Lázaro mandaram chamar o Mestre.

Ouvindo o recado, Jesus disse: “Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela” (v. 4).

Aos que vêem na morte um fim, Jesus mostra que mesmo no drama do desenlace, Deus deve ser glorificado. Neste caso, usando sua desconcertante pedagogia, Jesus usa o episódio da morte do amigo para a realização de um sinal de vida, algo que tipifique sua Ressurreição. Nesse particular, a morte, do ponto de vista cristão é apenas uma contingência. Segundo Santo Agostinho se trata de uma necessidade física. Para quem crê, a morte não ocorre no fim da vida, mas num começo. O que se estabelece nesta narrativa é uma dialética, tão comum ao estilo literário do evangelista João, entre vida e morte. Lázaro está morto mesmo. Depois de quatro dias, a morte é absolutamente certa, o corpo entra em decomposição e já cheira mal (v. 39). Num casos desses os órgãos e a capacidade cerebral entram em falência. Voltar a viver, numa circunstância dessas, só através de um milagre. Muitos judeus estão na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os representantes da Antiga Aliança não trazem vida nova. Só consolam. Jesus é que vai trazer vida nova! Os judeus são os adversários que querem matar Jesus (Jo 10,31). As duas mulheres criaram um espaço novo de contato entre Jesus e seus adversários. Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! E neste contexto de conflito entre vida e morte que vai ser realizado o sinal mais importante, eminentemente escatológico.

Desta forma, a “ressurreição” de Lázaro é um sinal que se torna tipo daquela vida abundante (cf. Jo 10,10), sobrenatural e eterna que Jesus veio trazer. Ele é o Messias, o kyrios, o Senhor da vida. O acontecimento ocorrido em Betânia nos suscita algumas lições capazes de fornecer bons subsídios para a atividade pastoral:

1. Jesus revitaliza Lázaro porque dá valor à vida humana;

2. Traz o amigo de volta à vida porque atende ao pedido (a

oração) das irmãs;

3. Revela misericórdia e sensibilidade com os problemas humanos;

4. Aponta para o poder do Pai, o Deus da vida, dos vivos;

5. Os judeus, portadores de uma fé superficial, vêem no fato

apenas o invólucro, o aspecto físico-biológico, sem penetrar

na profundidade do mistério;

6. Marta intui uma ressurreição no último dia, coisa inusitada até

então (v. 24).

O ato de acreditar, de ter fé, é um legítimo salto no escuro. Jesus desafia Marta a dar este salto. Não basta crer na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas impõe-se crer que a ressurreição que já está presente hoje na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam nele. Sobre eles a morte não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a “ressurreição e a vida”. Então, Marta, mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, confessa a sua fé: “Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo” (v. 27).

Os judeus vieram consolar as irmãs. Quem não tem fé suficiente, apenas realiza um consolo formal. Jesus vai adiante, transformando pranto em riso, morte em vida. A simbólica da chamada “ressurreição de Lázaro” é um vigoroso sinal e tem um sentindo essencialmente escatológico. Ali está retratado o poder vivificante, que cria do nada e faz viver o que está morto. Lázaro tornou a morrer porque a vida eterna e verdadeira só seria instaurada após a ressurreição de Cristo. Mesmo assim, o fato é capaz de provocar uma compreensão no dinamismo de Deus, que pode devolver a vida sob outro prisma, transformada pela ressurreição do corpo de carne, cuja fé a Igreja toda professa e proclama.

É salutar que se saiba que ressuscitar é diverso do reencarnar. A Igreja não cansa de negar a reencarnação, pois esta rejeita a misericórdia de Deus, enquanto postula a auto-redenção, onde a pessoa se salva e purga suas culpas anteriores com seu próprio sofrimento. Ao se anunciar como a ressurreição e a vida, Jesus está proferindo uma revelação meridianamente clara. Para quem crê nele, para quem efetivamente crê, com uma fé madura sem dúvidas ou questionamentos, ressurreição não é promessa, possibilidade ou utopia. Não!

Ressuscitar é transformar vida em dom, é comunhão com Deus, gozando face-a-face da sua presença divina, eternamente. No v. 27 Marta afirma eu creio... Ora, essa crença se torna uma das vigorosas bases da fé cristã que estabelece uma mudança, a passagem da esperança do judaísmo para a certeza concreta do cristianismo. A anástasis (ressurreição) é coisa nova. O “retorno à vida” de Lázaro é um sinal perceptível ao nível da experiência humana, que antecipa as realidades do Reino escatológico. Estudar o milagre apenas por uma “causalidade” é não prestar atenção a seu sentido. O milagre veicula, de maneira tangível, um significado redentor, Não somente anuncia com a Palavra, que o Reino está próximo, como também atesta que ele está presente, e evoca aquilo que será a humanidade quando ela estiver plenamente purificada do pecado, conforme a vontade de Deus.

A expressão que se escuta muitas vezes, sem interiorizar, “Eu sou a ressurreição e a vida...”, traz consigo o EU SOU, proferido por Deus desde o Antigo Testamento, e revela o poder divino de Jesus, autor da vida e vencedor da morte. Jesus admite a possibilidade de chegar atrasado ao chamado das irmãs de Lázaro, não por um descaso ao dramático apelo, mas para que a glória de Deus seja manifestada através do sinal que ele vai realizar.

Ouvindo o recado, Jesus disse: “Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela” (v. 4).

Aqui, no nosso texto de reflexão, Lázaro já está dentro da rocha, nos domínios da morte. Jesus, cá fora, nos campos da vida. Jesus revelando-se vencedor da morte, não entra na gruta, mas ordena que o amigo saia de lá. São dois espaços irreconciliáveis. A vida não aceita a morte e não permite sua expansão, por isto se torna vitoriosa.

Jesus disse: “Eu não lhe disse que, se você acreditar, verá a glória de Deus?” Então tiraram a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves. Mas eu falo por causa das pessoas que me rodeiam, para que acreditem que tu me enviaste”. Dizendo isso, gritou bem forte: “Lázaro, saia para fora!”. O morto saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um sudário. Jesus disse aos presentes: “Desamarrem e deixem que ele ande”. Então muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele (vv. 40-45).

Porque Jesus teria gritado bem forte? Por que temia que o morto não o escutasse? Ou, porque queria que todos vissem o portentoso sinal que ele ia realizar? Em muitos casos, Deus busca dar ênfase às suas ações, para que todos vejam e creiam. Mais ainda: ele queria deixar claro o poder do Deus da vida sobre o sofrimento e a morte. Para isto ele profere três ordens:

1. Tirem a pedra! (v. 39)

Esta ordem é dirigida à comunidade, que às vezes realiza

cultos de morte e esquece de celebrar a vida;

2. Lázaro, vem para fora! (v. 43)

Aqui Jesus repreende (e reprime) a morte em voz alta para

que esta reconheça seu poder e se curve a ele;

3. Desatem-no! (v. 44)

É uma ordem de libertação: a pessoa atada por mil faixas não

pode viver aquela abundância da graça que o Senhor oferece.

Se lermos atentamente todo o capítulo 11 do evangelho de João, vamos encontrar no centro dele a revelação de Jesus como ressurreição e vida, provocando como resposta a profissão de fé, proclamada publicamente por Marta (vv. 25-27). A força de vida que há em Jesus manifesta que ele é verdadeiramente o Messias e Filho de Deus, capaz de trazer um morto de volta à a vida. Marta acolhe esta revelação mesmo antes de ver o sinal que mostra o poder de Jesus sobre a morte, manifestado em Lázaro. Há narrativas de outras revitalizações nos evangelhos: a filha de Jairo (Mc 5,22) e o filho da viúva de Naim (Lc 7,11) voltaram à vida de forma miraculosa e sobrenatural.

O sinal de Jesus diante da morte de Lázaro nos revela o Deus da Vida que não quer a morte nem o sofrimento. Esses males, sabemos, não são vontade de Deus, mas uma consequência do pecado (cf. Rm 6,23) que inflete sobre nossa fragilidade humana. As faixas que prendem Lázaro à morte são figuradamente todos os obstáculos que nos vinculam ao império do pecado e não nos permitem sair da fétida vala (“já cheira mal...”) das paixões, da idolatria e do orgulho. Ao libertar o homem de suas limitações (as faixas do v. 44), Jesus o torna capaz de andar por si, ou seja, testemunhar integralmente sua fé, e decidir com liberdade. O mundo, em todos os tempos, sempre teve pessoas que na defesa de suas ideologias preferem o mal de muitos (a enorme pedra) que o sucesso de seus adversários. Incrivelmente, os inimigos de Jesus enxergaram, no bem que ele praticava uma ameaça. A vitória de Jesus sobre a morte mudou o enfoque de compreensão dos tempos históricos. O que era próprio do tempo final entrou para o tempo presente. Por isso, o Jesus apresentado pelo evangelho de João pode afirmar: “Quem vive e crê em mim jamais morrerá!” (11,26). Como é que Jesus pode afirmar que viveremos para sempre? Na Primeira Carta de João, este mistério é esclarecido: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1Jo 3, 14). No império das ideologias, sejam elas políticas, sociais ou religiosas, sempre há os que têm medo das ações de seus adversários, e por isso buscam diminuir os feitos, boicotar idéias, perseguindo – muitas vezes – até quem faz o bem. É o caso dos sacerdotes e fariseus de todos os tempos.

Jesus confirma que a Palavra de Deus é eficaz (cf. Is 55,10s) e que o Pai é fonte da vida (cf. Jo 5,26). A grande novidade é que Jesus é a vida (cf. Jo 14,6) e tem a vida em si mesmo (cf. Jo 5,26). Nesse particular, ele nos ensina que a verdadeira vida é o conhecimento, e aqui entenda-se conhecer como amar e integrar-se a Deus (cf. Jo 17,3). Jesus traz Lázaro de volta à vida, como um sinal eloqüente e definitivo, para nos mostrar que ele pode dar vida onde aparentemente impera a morte. Na relação com o futuro, ele dá vida ao amigo morto para revelar que no Reino a vida nunca sofre interrupção, pois é eterna e abundante. Os estudiosos vêem na narrativa da revitalização de Lázaro alguns pontos adequados à catequese e à evangelização, tais como

1. A realidade do problema do mal e do pecado, causadora da

morte;

2. Jesus é aquele em quem a pessoas de fé recorrem na hora do

sofrimento;

3. Em consequência, a fé produz os resultados esperados em

favor de quem clama o nome do Senhor;

4. Para Jesus nada é impossível;

5. Jesus é o vencedor do mal, da doença e da morte;

6. Os sinais de Jesus têm caráter messiânico;

7. O bem que vem de Deus pode vencer o

mal naquelas situações tidas como impossíveis;

8. Para rechaçar as atitudes dos descrentes, Jesus autentica

sua missão com os inúmeros sinais realizados.

Quase no fim de seu evangelho, João afirma o vigor multiforme dos sinais que Jesus realizou em sua vida pública em favor do povo que ansiava por graça e libertação.

Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome (20, 30s).

Texto da pregação em um retiro no interior do Paraná, em 2011. O autor é filósofo, biblista, doutor em Teologia Moral e escritor, com mais de cem obras, publicadas no Brasil e exterior, entre elas “Os sinais de Jesus”, Ed. Pão & Vinho. Pregador e conferencista internacional. Para contatos: e-mail: kerygma.amg@terra.com.br Fones (51) 3472-2973 –

9814-9191