Homilia Pe. Ângelo Busnardo - III Dom. da Quaresma (Em Espírito e em Verdade.)

III DOMINGO DA QUARESMA

23 /03/ 2014

Ex.17,3-7 / Rm.5,1-2.5-8 / Jo.4,5-42

Durante a travessia do deserto, Israel viajava durante o dia e acampava à noite. Em alguns pontos acampava durante períodos mais longos como no monte Sinai onde permaneceu durante aproximadamente um ano. Moisés conhecia muito bem a região porque passara a maior parte da vida no deserto. É evidente que antes de partir para uma nova etapa avisava o povo sobre as condições do trecho que iriam transcorrer, informando se havia ou não água no percurso. Ao partir de Sin para Rafidim, provavelmente Moisés avisou o povo que não encontrariam água no caminho. Mas o povo imprevidente não se abasteceu com água suficiente e, ao ficar sem água, se revoltou contra Moisés e contra Deus: 1 Toda a comunidade dos israelitas partiu do deserto de Sin, seguindo as etapas indicadas pelo Senhor , e acamparam em Rafidim. Mas não havia água para o povo beber. 2 Então o povo pôs-se a discutir com Moisés, dizendo: “Dá-nos água para beber!” Moisés respondeu-lhes: “Por que vos meteis a discutir comigo? Por que tentais o Senhor? ”. 3 Mas o povo, sedento d’água, reclamava contra Moisés e dizia: “Por que nos fizeste sair do Egito? Para matar-nos de sede junto com nossos filhos e o gado?” (Ex.17,1-3). O erro foi do povo que não se preveniu com água suficiente mas culparam Deus.

É comum encontrar pessoas que ignoram Deus quando tudo vai bem e quando passam por alguma dificuldade, reclamam dizendo: “o que fiz eu para Deus permitir que passe por este sofrimento”? Tais pessoas não amam a Deus mas supõem que Ele deve estar sempre pronto para protegê-las contra eventuais adversidades.

Deus orientou Moisés a procurar água numa determinada rocha: 5 O Senhor disse a Moisés: “Passa à frente do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Pega a vara com que feriste o rio Nilo e caminha. 6 Eu estarei na tua frente sobre o rochedo, lá no monte Horeb. Baterás no rochedo e sairá água para que o povo possa beber” (Ex.17,5-6). Apesar de ter recebido de Deus instruções para ir até à rocha em busca de água, o próprio Moisés achou que Deus não faria mais um milagre para ajudar um povo tão rebelde e golpeou a pedra duas vezes: 7 O Senhor falou a Moisés:8 “Pega a vara e junto com teu irmão Aarão reúne a comunidade. Na presença deles ordenai à rocha que dê suas águas. Farás sair da rocha água e darás de beber à comunidade e aos animais”. 9 Moisés pegou a vara que estava diante do Senhor , como lhe fora mandado. 10 Depois Moisés e Aarão reuniram a assembléia diante da rocha, e Moisés lhes disse: “Ouvi, rebeldes! Poderemos acaso fazer brotar desta rocha água para vós?” 11 Moisés levantou a mão e golpeou duas vezes a rocha com a vara e jorrou água em abundância, de modo que a comunidade e os animais puderam beber (Nm.20,7-11). Por causa desta dúvida, Deus permitiu que Moisés e Aarão morressem no deserto e não introduzissem Israel na terra de Canaã: 12 Mas o Senhor disse a Moisés e Aarão: “Visto que não acreditastes em mim, santificando-me aos olhos dos israelitas, não introduzireis este povo na terra que lhes vou dar” (Nm.20,12).

Ninguém seria capaz de morrer para salvar a vida uma pessoa perversa enquanto tal pessoa continua praticando maldades. Para salvar a vida de uma pessoa santa que fez grandes obras em benefício de muitos talvez alguém seria capaz de sacrificar a própria vida: 7 Com dificuldade alguém aceitaria morrer por um justo; por um homem de bem talvez haveria quem se animasse a morrer (Rm.5,7). Pelo pecado de Adão todos os seres humanos se tornaram escravos de satanás e incapazes de entrar no céu. Apesar de ninguém merecer a salvação, Jesus morreu na cruz e colocou a salvação à disposição de todos: 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, quando éramos ainda pecadores (Rm.5,8). Assim Deus provou que ama os pecadores. Quem se libertou do pecado e permanece em estado de graça tem muito mais motivos para acreditar que é amado por Deus.

Devemos, porém, lembrar que o pecador que agora é amado por Deus, apesar de contar com o amor de Deus durante a vida na terra, se não se converter antes da morte, será condenado por Deus assim que morrer. Ao julgar uma alma logo após a morte, Deus não levará em conta o amor que Ele dedicou a tal alma, mas o amor que essa alma lhe dedicou enquanto estava na terra.

Durante a travessia do deserto, Deus tinha estabelecido que Israel devia centralizar o culto a Javé no monte Garizim e Ebal: 11 Naquele dia, Moisés deu ao povo a seguinte ordem: 12 “Quando passardes o Jordão, estarão de pé sobre o monte Garizim, para abençoar o povo, as tribos de Simeão, Levi, Judá, Issacar, José e Benjamim, 13 e sobre o monte Ebal, para amaldiçoar, estarão Rúben, Gad, Aser, Zabulon, Dã e Neftali. 14 Os levitas tomarão a palavra e com voz alta dirão a todos os homens de Israel (Dt.27,11-14).

Após conquistar a cidade de Jerusalém, Davi, por razões militares, transferiu a sede do reino para esta cidade e a tornou o centro do culto a Javé. Todas as tribos foram orientadas a celebrar as grandes festas judaicas em Jerusalém. Com a construção do templo por Salomão, Jerusalém se tornou um centro de peregrinações para todas as tribos. Mas parte dos samaritanos nunca concordou com a transferência do culto para Jerusalém e permaneceu fiel às instruções recebidas durante a travessia do deserto de centralizar o culto no monte Garizim. Daí vem a rivalidade entre samaritanos e judeus.

Jesus pede água para a samaritana e ela fica surpresa porque os judeus e samaritanos se tratavam como inimigos: 4 Ele tinha de passar pela Samaria. 5 Chegou assim a uma cidade da Samaria chamada Sicar, próxima das terras que Jacó havia dado ao seu filho José. 6 Ali estava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se à beira do poço. Era quase meio-dia. 7 Uma mulher da Samaria veio tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. 8 Os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. 9 A mulher samaritana respondeu-lhe: “Como é que tu, um judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana?” Pois os judeus não se dão com os samaritanos (Jo.4,4-9).

Os samaritanos e judeus viviam em contínuo atrito por causa do local em que o culto a Javé era centralizado: os judeus escolheram Jerusalém para o culto e os samaritanos o monte Garizim. Jesus afirma que a salvação vem dos judeus: 22 Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus (Jo.4,22). O Salvador é Jesus que é descendente de Judá: 8 A ti, Judá, teus irmãos renderão homenagem, tua mão pesará sobre a nuca de teus inimigos. Diante de ti se prostrarão os filhos de teu pai. 9 Filhote de Leão, Judá! Voltaste da caçada, meu filho. Agacha-se e repousa, como leão e como leoa; quem irá despertá-lo? 10 O cetro não se afastará de Judá nem o bastão de comando de entre seus pés, até que venha o leão, a quem prestarão obediência os povos (Gn.49,8-10). Isto está confirmado também pela genealogia de Jesus: 2 Abraão foi pai de Isaac. Isaac, pai de Jacó. Jacó, pai de Judá e seus irmãos (Mt.1,2). Se a samaritana quisesse salvar-se deveria necessariamente depender de Jesus que era judeu.

Apesar de a salvação vir de um judeu, Jesus, o local do culto era secundário porque o Pai deseja adoradores que o adoram em espírito e verdade, independentemente do local em que se encontram: 20 Nossos pais adoraram a Deus neste monte e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”. 21 Jesus lhe disse: “Mulher, acredita em mim, vem a hora em que nem neste monte e nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22 Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. 23 Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade; estes são os adoradores que o Pai deseja. 24 Deus é espírito, e quem o adora deve adorá-lo em espírito e verdade” (Jo.4,20-24). Deus pode ter verdadeiros adoradores no monte Garizim, em Jerusalém ou em qualquer outro lugar do planeta, porque o valor do culto não está ligado a algum lugar físico mas na santidade da pessoa que lhe presta o culto.

Código : domin880

Ângelo José Busnardo

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Pe. Ângelo Busnardo
Enviado por Joanne em 20/03/2014
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