PERDÃO E AUTO PERDÃO
Perdoar é divino, perdoar-se é uma necessidade humana.
Perdoar é melhor para quem perdoa do que para o perdoado. Quando você perdoa é uma atitude de "bola para frente". Limpa o caminho da vida, corta as ancoras que te puxam para baixo, fica livre para voar. Adoça as amarguras, dorme-se melhor.
Pode ser difícil perdoar, há o dito popular "quem perdoa é Deus" outro ainda, "Perdoo, mas não esqueço", aí não houve perdão. É até razoável não esquecer, conforme a ofensa, mas quando se diz "perdoo, mas tenho memória" é porque não houve perdão. Perdoar é bom.
A internet, sempre ela, trouxe a tona uma história antiga de dois amigos que caminhavam no deserto, de repente um deu um tapa no rosto do outro, o agredido pegou uma varinha e escreveu na areia “hoje meu amigo me deu um tapa no rosto”. Mais a frente aquele amigo o salva de uma areia movediça. E, então ele escreveu em uma rocha “hoje o meu amigo salvou minha vida! O amigo sem entender, perguntou: Por que escrevestes uma coisa na areia e a outra na rocha? Este respondeu: uma ofensa de amigo a gente escreve na areia, pois o vento logo apagará assim como o tempo diluirá a mágoa. A bondade escrevi na rocha, pois esta não pode ser esquecida. Bonito! Mas não é um sentimento natural, tem que ser exercitado.
Auto perdão.
Perdoar-se é uma necessidade. Pessoas suicidam-se porque não conseguem o auto perdão. Lembrem-se na literatura do antigo Japão e até recentemente um ministro do governo de lá praticou o “harakiri” de vergonha pelos seus atos de corrupção descobertos.
Li alguns tratados sobre perdão e auto perdão, não achei nada ainda sobre o perdoado. Penso que o perdão deve ser aceito e colocada uma pedra sobre a questão. Será que é necessário que o ofensor peça perdão para o ofendido para que ele aconteça? Creio que não, muitas vezes o agressor nem sabe que ofendeu, mas melindrou o outro. Veja as questões culturais, religiosas, etc. Uma fala é mais agressiva do que a outra, exemplo a língua japonesa em confronto com a alemã. Uma pessoa pode discutir religião sem se emocionar, para outro a simples discussão religiosa já é ofensiva. Temperamentos diferentes em confronto geram ofensas, muitas vezes insensíveis ao ofensor. Lembro-me do meu pai, quantas pessoas se sentiam ofendidas por ele, e ele não entendia por que! Ele nem sempre precisava do perdão do ofendido. É fala comum "eu, pedir perdão, por quê? Não fiz nada!" Mas o ofendido fica remoendo aquilo. Entender o ofensor facilita o perdão, compreender que o tom da discussão é cultural ou temperamental.
Quanto ao auto perdão é mais complicado, exige-se o auto conhecimento, a humildade para aceitar a sua imperfeição, e o arrependimento sincero e a própria aceitação do auto perdão. Quando o crente, aqui no sentido amplo, pede o perdão divino se aproxima da tentativa de se auto perdoar. Quando não é muito convicto de sua fé fica complicado para ele.
É comum aquela oração repetitiva "Senhor perdoa a multidão dos meus pecados" feita diuturnamente, perdão por atacado. Até aceito que poderia ser assim se fosse “desculpa”, que alguns entendem ser sinônimo de perdão, eu entendo que desculpa é de menor hierarquia, é para pequenas ofensas. Tipo assim “ O gente! desculpem-me o mau jeito”. Pode ser no atacado e não há necessidade de se perturbar o DIVINO. Mas, para o perdão e o auto perdão não gera efeito. Para que sejam aceitos tem que ser específico, sincero e com a disposição de que não se repita a ofensa.
Outras ilações sobre o perdão:
Perdão é um mandamento bíblico?
Procurei na bíblia o texto dos 10 mandamentos e nada achei sobre o perdão. Mas na oração que Jesus ensinou aos apóstolos está lá "Perdoai as nossas dividas assim como perdoamos aos nossos devedores", logo se quisermos ser perdoados temos que perdoar, é um grande mandamento, quase condição "sine qua non" para ir-se ao céu.
Uma senhora que bordejou as igrejas evangélicas, mas por não ter aprovação dos filhos e do marido resolveu continuar na igreja católica, disse-me “nunca pensei em auto-perdão, peço o perdão a Deus e pronto, está resolvido o meu problema, estou perdoada, sigo a minha vida, nunca pensei nisto”. Creio que pode ser reflexo da igreja católica em que o "pecador" ia ao confessionário recebia a pena que pagava com algumas rezas e estava com o caminho calçado para o céu. É só ir regularmente ao confessionário.
Sem considerações religiosas, penso que o perdão e o auto perdão tem grande poder liberatório. Aqueles que conseguem exercê-los estão liberados da vingança e de remorsos. Quer maior libertações do que estas?
Deve ter valor curativo, não só de doenças da alma, mas por reflexo do corpo também.