O Primeiro e Impossível Mandamento
           
   
         Qual será o artifício que provocou a humanidade para refletir a respeito deste primeiro e enigmático mandamento: ¨ Amarás ao teu Deus sobre todas as coisas. ¨
            A pergunta que nos incomoda é: como amar aquilo que não compreendemos, que não vemos, que cada um sente ou percebe de uma maneira tendo alguns que não sentem nada? Como amar o invisível, o etéreo, o permanente que não se mostra claramente aos nossos olhos tão acostumados ao que nos é palpável?
            A humanidade ocidental atravessa uma das suas maiores crises morais. Ao tempo em que vemos notáveis progressos técnico-científicos, nota-se um crescente questionamento humano a desafiar as crenças ancestrais na existência do Criador. Chegamos a um ponto crucial em que o Divino é colocado contra a parede.
            A angústia humana em busca de suas origens parece não ter fim. O ateísmo praticante, fundamentado nos rudimentos do materialismo, distancia o homem desta questão e o aproxima de nuances de teor mais prático, dentre eles: no que toco e a ciência, por seus efeitos demonstra existir, eu creio.
            Colocamos, deste modo, uma ciência que busca o material a tornar-se o principal móvel no desnudar do que é intangível, invisível e que não pode ser explicado ou compreendido por nossas técnicas ainda limitadas.
            O conceito de Deus, suas formas e descrições modificam-se enquanto o Ser Humano acumula descobertas. O Universo, ao contrário do que poderíamos supor, neste crescer torna-se ainda mais amplo e misterioso. Os enigmas parecem morrer, dentro do plano terreno, enquanto a ciência evolui, mas este avançar no cosmos nos embaraça e confunde.
            Quais são os limites do Cosmos? Quantas estrelas existem? Quantos planetas poderiam abrigar vida como a nossa? Qual a forma final do Universo? Teria este um limite? Tudo isso foi criado ou surgiu ao acaso em uma explosão? Esta última tese tudo encerraria, mas ao invés de explicar e acalmar, perturba ainda mais. Seria o acaso tão poderoso a fim de ordenar, de elaborar, de tecer leis tão precisas no plano material a sedimentar todas as ciências? A nossa própria lógica refuta esta tese e o materialismo morre ao nascer, assim como a fé cega em um Deus parcial, apaixonado, mimado e vingativo. E a dúvida segue na encruzilhada.
            Somente a nossa transcendência em pensar, em extrapolar o que não entendemos pela lógica vem a nos preservar da loucura que esta busca infunde. Muito mais útil ao homem será perguntar-se: o que eu sou? ¨ Decifra-te primeiro ou te devoro¨ : diria a nossa moderna esfinge.
            Nos labirintos da descoberta do Criador, urge ao homem, primeiro, definir que Deus o habita. Em que ele crê? No que pensa e sente todos os dias? Este sentimento que o domina, que o leva a decidir é o seu Deus. O deus humano é mutável, instável e volúvel, assim como nós o somos. Para alcançar o entendimento de um Deus Superior é necessário ao Ser Humano tornar-se superior ao que é. Aqui nasce o desafio que vale a vida: superar-nos a nós mesmos. Eis um trabalho eterno...
 
(Jurandir Araguaia é escritor, palestrante motivacional espírita, ex-fiscal-ambiental/Goiânia, Auditor Fiscal/Go, Professor de Ed Física e Adm de Empresas, site:www.jurandiraraguaia.com)