O prefácio de A MORTE DA MORTE NA MORTE DE CRISTO
Paulo Sergio Larios
Estou estudando sobre a Expiação, que é a doutrina Biblica que nos afirma que Cristo Jesus não morreu por todos os homens, mas apenas para os que crêem nele e andam segundo os seus preceitos. Cristo morreu na Cruz apenas para a Igreja, não para todo o mundo, isso é um engano maligno. Observe que J. I. Packer acusava que já estava acontecendo a “mudança” do Evangelho, desde 1959, retroagindo a 100 anos - descentralizando o Evangelho em Deus e centralizando nas necessidades do homem. A Igreja deixa de ser religiosa e passa a ser antropocêntrica. Esta mudança de foco dá origem a uma mudança de conteúdo. Andamos numa corda bamba. O Evangelho está absurdamente em crise, e o evangélico está irremediavelmente descaracterizado. O que pregamos, não é Evangelho, ou o é, vergonhosamente diluido, em leite, com muita, mas muita água. Não temos o alimento sólido, como diz Paulo, mas o leite e pior, diluído, ao máximo, com muita água.
Extrato do Artigo lntrodutório, escrito pelo Dr. J. I. Packer, para “A Morte da Morte na Morte de
Cristo", de autoria do Dr. J. Owen. na edição da Banner of Truth Trust, 1959.
A Morte da Morte na Morte de Cristo é um trabalho polêmico, cujo objetivo é mostrar,
entre outras coisas, que a doutrina da redenção universal é anti-bíblica e destrutiva do
evangelho. Há, portanto, muitos a quem ele não será de interesse. Aqueles que não vêem
necessidade de uma exatidão doutrinária e não têm tempo para debates teológicos que
mostrem as divisões entre os assim chamados evangélicos, podem perfeitamente lamentar sua
reaparição. Muitos podem achar o próprio tom da tese de Owen tão chocante que se recusarão
terminantemente a ler este livro. Algo tão apaixonante é prejudicial, e temos muito orgulho de
nossos chiboletes teológicos. Mas espera-se que esta reimpressão encontre leitores de espírito
diferente. Há sinais, hoje em dia, de um novo surgimento de interesse na teologia da Bíblia:
uma nova prontidão para testar tradições, para examinar as Escrituras e para pensar
seriamente sobre a fé cristã. É para todos que compartilham desta prontidão que é oferecido o
tratado de Owen, na confiança de que irá nos ajudar em uma· das mais urgentes tarefas que a
cristandade evangélica está enfrentando hoje - a restauração do evangelho.
Esta última afirmação poderá chocar algumas pessoas, mas parece ser justificada pelos
fatos. Não há dúvida de que os evangélicos encontram-se, hoje, num estado de perplexidade e
instabilidade. Em assuntos como a prática do evangelismo, o ensino da santidade, a edificação
da vida da igreja local, o cuidado do pastor pelas almas e o exercício da disciplina, há evidência
de insatisfação generalizada com o estado de coisas e, igualmente, uma incerteza
generalizada quanto ao caminho que se deve seguir. Trata-se de um fenômeno complexo, para
o qual muitos fatores têm contribuído; mas, se formos à raiz do problema, verificaremos que
todas essas perplexidades devem-se, principalmente, ao fato de havermos perdido o poder do
evangelho bíblico.
Sem perceber isso, temos barganhado esse evangelho durante quase cem anos por um
produto substitutivo que, embora pareça bastante semelhante nos detalhes, é algo
completamente diferente no todo. Eis as nossas dificuldades: o produto substitutivo não atende
aos fins para os quais o evangelho autêntico provou-se, nos dias passados, tão poderoso. O
novo evangelho falha patentemente em produzir reverência profunda, arrependimento
profundo, humildade profunda, um espírito de adoração, um cuidado para com a Igreja. Por
que? É nossa opinião que a razão está em seu próprio caráter e conteúdo. Ele falha em tornar
os homens centralizados em Deus nos seus pensamentos e tementes a Deus em seus
corações, porque não é isto que ele está visando fazer principalmente. Uma forma de
estabelecer a diferença entre o novo e o velho evangelho é dizer que o primeiro está excessiva
e exclusivamente preocupado em "ajudar" o homem - a ter paz, conforto, felicidade, satisfação
- e pouquíssimo preocupado em glorificar a Deus.
O velho evangelho foi útil também - muito mais, de fato, que o novo - mas
incidentalmente, por assim dizer, pois sua primeira preocupação sempre foi glorificar a Deus.
Ele era sempre e essencialmente uma proclamação da soberania divina em misericórdia e
julgamento, uma convocação para inclinar-se a adorar a Deus, o Todo-poderoso, de quem o
homem depende para todo o bem, tanto em natureza como em' graça. Seu centro de
referência era inequivocamente Deus. Mas no novo evangelho, o centro de referência é o
homem. Isto equivale a dizer que o velho evangelho era religioso numa forma que o novo
evangelho não é.
Enquanto o principal objetivo do velho era ensinar os homens a adorar a Deus, a
preocupação do novo parece limitada a fazê-los se sentirem melhor. O assunto do velho
evangelho era Deus e Suas atitudes para com os homens; o assunto do novo é o homem e a
ajuda que Deus dá a ele. Há um mundo de diferença. A completa perspectiva e ênfase da
pregação do evangelho têm-se mudado.
Esta mudança de interesse deu origem a uma mudança de conteúdo, pois o novo
evangelho tem, com efeito, reformulado a mensagem bíblica nos supostos interesses de ser
"prestativa". Portanto, os temas da incapacidade do homem natural para crer, da eleição
gratuita de Deus como a principal causa da salvação, e de Cristo morrer especificamente por
Suas ovelhas, não são pregadas. Estas doutrinas, seria dito, não são "prestativas"; elas
levariam os pecadores ao desespero, sugerindo-lhes que não está em seu próprio poder o
serem salvos através de Cristo. (A possibilidade de que tal desespero poderia ser salutar não é
considerada; é tomada como ponto pacífico que não pode ser, porque é muito destrutiva para
nossa auto-estima). Seja como for, o resultado dessas omissões é que parte do evangelho
bíblico está agora sendo pregada como se fosse o todo desse evangelho; e uma meia-verdade
disfarçando-se de verdade completa torna-se uma inverdade completa.
Dessa forma, apelamos aos homens como se todos eles tivessem a habilidade de
receber Cristo a qualquer momento; falamos de Sua obra redentora como se Ele não tivesse
feito nada mais, ao morrer, do que tornar possível que nos salvemos a nós mesmos
simplesmente por crermos; falamos do amor de Deus como se não fosse mais do que uma
prontidão geral para receber qualquer um que se volte e creia; e nós descrevemos o Pai e o
Filho, não como soberanamente ativos em atrair pecadores a Si mesmos, mas como que
esperando, impotentes, “à porta de nossos corações" para que Os deixemos entrar. É inegável
que pregamos assim; talvez seja isso que nós realmente cremos. Mas é necessário dizer, com
ênfase, que este conjunto de meias-verdades torcidas é algo diferente do evangelho bíblico. A
Bíblia está contra nós quando pregamos dessa maneira; e o fato de que tal pregação tem-se
tornado quase uma prática padrão entre nós, mostra apenas quão urgente é que revisemos
este assunto. Recuperar o velho, autêntico e bíblico evangelho, e fazer com que nossa
pregação e prática estejam somente de acordo com esse evangelho, é, talvez, nossa.
necessidade mais premente. E é neste ponto que o tratado de Owen sobre a redenção pode
nos ajudar.
Amém!