Comemorar aniversários, onde está o erro? (Lições em Mt 14.1-12)
Algumas interpretações sectárias e tendenciosas repelem festas de aniversários só porque – dizem – Faraó (Gn 40.20-22) e Herodes (Mt 14.6-12), nesses dias natalícios, em que se comemoraram festas de aniversários, esses Soberanos cínicos, determinaram mortes de alguém. Diante disso, chegaram à conclusão de que não se deve celebrar tais festas, pois, segundo seus conceitos, a Festa de “Níver” (aniversário) é um dia maligno e não é digno de ser festejado. Usam eles do critério de impingir a alguém a denominada “culpa por associação de idéias”, então, em tal caso, deveríamos não celebrar nada em virtude das coisas ruins que ocorreram nesses dias. Esquecem-se os que assim pensam que, no dia em que o Faraó egípcio comemorou seu aniversário em que mandou enforcar o padeiro-mor, também fez um gesto louvável, pois, nesse dia, anistiou o copeiro-mor, soltando-o do cárcere (Gn 40.21). Não houve então norma ou padrão para se chegar a uma tal conclusão com fatos antagônicos!
Pra começo de conversa, é preciso lembrar que Jó festejava os natalícios de seus filhos, com banquetes (Jó 1.14) e cultos (Jó 1.5).
O dia do nascimento de João, o Batista, foi dia de prazer (Lucas 1.14) e alegria, como também o foi o de Jesus (Lucas 2.13 e 14). Por quê não celebrar? Onde a proibição?
Mas, juntamente com as refutações à precária questão (ou tese) de “Dia Maligno” levantada pelos já citados intérpretes (anônimos) – a de realizar festas ou celebrações em dia de aniversários, extraio do texto mateano (Mateus 14.1-12) as seguintes lições:
1- “Quem vê cara, não vê coração”. Todos conheciam Herodes, o Grande, mas nem todos conheciam a sua linhagem, como até hoje muitos ainda não conhecem. Ele era rei da Judéia, reinando de 39 a 4 a. C. Foi o pai de Herodes Antipas (tetrarca da Galiléia e avô de Herodes Agripa I, rei de 37 a 44 d. C. (Aparecendo em Atos 12). Ele foi feito rei da Judéia pelos romanos. Era homem enérgico e talentoso, bastante empreendedor na administração de Jerusalém, onde remodelou o 2º templo (que alguns passaram a denominá-lo de 3º templo), trazendo grande esplendor para aquela cidade, que foi centro de cultos na época do ministério terreno de Cristo. Dizem alguns intérpretes bíblicos (alegoristas, os da linha de Filo de Alexandria (20 a. C. – 42 d. C), “o mais influente expoente do método alegórico para a literatura patrística”, Clemente de Alexandria (150 – 215 d. C) e Orígenes (185 – 254 d. C.), que este Herodes, “representava a carne na sua amizade contra o Senhor”, porque, sendo descendente de Ezaú (edomeu ou edomita) – Gn 36.9 – (Ezaú foi o irmão gêmeo de Jacó, com o qual já lutava desde o ventre de sua mãe), “foi um dos monstros mais licenciosos, cruéis e sem escrúpulo de toda a antiguidade. Teve nove esposas e muitos filhos. Além de degolar todos os meninos em Belém (Mateus 2.16), matou, num ataque de ciúme, a Mariane, sua mulher predileta e três de seus filhos. Depois de matar seu filho Antípater, morreu, comido de vermes, em maneira semelhante a seu neto Herodes Agripa I. (Atos 12.23).
2- Homens eminentes se precipitam em palavras e erram notadamente.
Herodes, em plena festa, havia feito um juramento a Salomé, filha de Herodias (esta Herodias era amante do rei Herodes). Salomé mostrou-se talentosa na “dança do ventre” ante os olhos dele (Herodes), que não pensou duas vezes, foi logo prometendo dar-lhe “tudo o que pedisse”. (Mas a mãe Herodias previamente a instruiu em pedir a cabeça de João, o Batista, pois este costumeira e diariamente a molestava com suas palavras, dizendo que ele, Herodes, estava vivendo com a pessoa errada!). O rei teve que
cumprir o pedido da enteada, mandando maniatar (algemar) e prender o pobre profeta e posteriormente degolá-lo, apenas para atender aos caprichos de alguém que, há tempos, alimentava no coração uma vingança! Palavras precipitadas e impensadas podem gerar radicalismo e morte para vítimas que não o merecem! Herodes errou e muito, a dosagem da pena foi a extrema, sem base legal, sem crime algum, apenas por questão de orgulho próprio, querendo provar que a palavra de um soberano não pode voltar atrás! (O poder de legislar, condenar e ordenar a execução daquela crueldade ficavam nas mãos dos Soberanos daquela época!).
E quanto ao profeta, o que dizer de suas ações? Ele, por sua vez, ficava fustigando a vida particular dos outros! Logo com quem ele foi se meter! Seria este o erro de João, o Batista? Teria ele sido autorizado por Deus para entrar nestas questões conjugais alheias? O texto bíblico não nos dá nenhuma base para que ele assim agisse antes de morrer. (Ou seja, o fato dele imiscuir-se no problema conjugal da vida alheia sem ter sido pelo menos convidado a opinar). Seria o caso de se aplicar ao profeta precursor de Cristo o provérbio de Salomão que diz: “Quem se entremete em questões alheias é como alguém que toma um cão pela orelha”).
3- “Quanto maior o gigante, maior será o tombo”.
Herodes se julgava grande, mas a precipitação das palavras fizeram-no quebrantar-se. Saiu-se bem como homem de palavras, mas pecou por aplicar pena radical, para atender pedido de quem também não se controlava emocionalmente. Teve sua imagem feita na história e na posteridade como alguém que agiu a mando de mulheres.
4- Não se dá aquilo que não nos pertence.
Herodes fez tal qual o Diabo, que, arvorando-se em “dono do mundo”, ofereceu a Jesus os reinos do orbe terrestre, sendo que ele mesmo não é dono de nada, porque “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). Aí está, nada pertencia a Herodes, nem mesmo o “pedaço de mau caminho”, onde ele administrou na Galiléia e depois foi estendido em parte, na Judéia! Coitados, ambos, o Diabo e Herodes, cometeram o crime de apropriação indébita.
O advogado e professor universitário de Brasília, em seu “Código Penal Bíblico”, citando Átila J. Gonzales”, diz que “Alexandre, após onquistar os persas e os medos e fazendo entre outras nações inúmeros tributários, doou, em testamento, seu reino aos amigos destacados e leais. Na verdade, tal doação fora feita com bens alheios. Pelo Direito brasileiro, o ato através do qual alguém converte coisa alheia em uso indevido, em benefício próprio ou de terceiro, chama-se apropriação indébita”.
5- Maligno não é o dia, mas o coração humano.
Assim foi Faraó do Egito e assim foi Herodes. Maldosos, malignos e monstruosos, nada impedindo que hoje se façam comemorações e festas em favor de quem aniversaria, devendo tudo ser feito “para a glória de Deus” (1 Co 10.31). Em teologia este assunto é Adiaforismo (coisas ou questões indiferentes e que podem ser toleradas), não havendo mandamento a favor, como também não há mandamento contrário. O mau está no coração. O profeta Jeremias, “o maior psicólogo de todos os tempos”, disse em seus oráculos (Jr 17.9): “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas e perverso, quem o conhecerá?” . Portanto, meus amigos, não é o dia de aniversário que é mau, mas as pessoas é que se tornam boas ou más!
Muniz Freire, 06 de novembro de 2013 - Fernandinho do forum