O vergonhoso comércio de seres humanos
Pe. Geovane Saraiva*
O comércio de seres humanos é a violação da grandeza dos filhos de Deus, no cerceamento da liberdade e no ignóbil desprezo daquilo que é inexprimível e insondavelmente sagrado, à dignidade dos filhos de Deus. Que nossa súplica seja fervorosa pelos que passam pelo doloroso flagelo do tráfico humano, uma vez que os temos como irmãs e irmãos, todos, filhos do mesmo Pai que está no céu; ao mesmo tempo em que somos chamados a uma grande cruzada e compromisso, no sentido de superar esta chaga, que envergonha a comunidade dos filhos de Deus e toda a sociedade.
É em Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em condição humana, mas que carregou consigo a missão de renovar inteiramente a humanidade, já no início experimentou com seus pais, Maria e José, uma enorme aflição, na condição de refugiado, que vamos encontrar forças para perseguir este tema, Fraternidade e Tráfico Humano, proposto pela Igreja no querido Brasil neste ano de 2014. Ele passou pela dor da paixão, manifestou aos homens sua misericórdia e seu perdão infinito. No mistério pascal, ofereceu a vida eterna, quando gloriosamente partiu para o mais alto céu, abriu-nos a cancela da eterna felicidade.
É evidente que ele quer está conosco, num mundo profundamente caracterizado pelo avanço das novidades, no campo da ciência, da tecnologia, da comunicação e da medicina, sem esquecer a internet, com a força e a eficácia das redes sociais, as quais envolvem e agarram as pessoas no mundo hodierno; como nos tempos passados o foi no campo da arte, da pintura, da escultura, da navegação, da música (...). Neste contexto, nossa civilização jamais pode deixar de colocar o ser humano como personagem principal. Ademais, seria inadmissível a ausência de solidariedade, de não contemplar, ignorar e mesmo prescindir da pessoa humana como imagem e semelhança de Deus, protagonista de sua própria história (cf. Gn, 1, 26-28).
Daí o clamor e o grito por mudanças na direção da conversão. Nesta luta, louvamos e agradecemos ao bom Deus, porque contamos como o aliado número um, o Papa Francisco, dom e sinal visível de Deus, sensível a dor e ao sofrimento humano. Percebemos no dia a dia o quanto ele é precioso, quando se dirige às pessoas de boa vontade, através dos seus pronunciamentos, com frases emblemáticas, numa postura firme e altamente relevante, na sua missão de instaurar e edificar o Reino Deus: “Como gostaria de encontrar palavras para encorajar uma ação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante” (EG, 261).
Nós cristãos e também cidadãos, somos convidados pelo nosso bom Deus a sair da inércia, indiferença e insensibilidade, diante da dor e do sofrimento de uma multidão de irmãos e irmãs que sofrem com tráfico humano. É por ocasião da Quaresma, tempo rico, precioso e favorável à conversão, no qual o próprio Deus quer agir em nós, através do exercício da caridade, no trinômio, renúncia, doação e generosidade, somos chamados buscar meios, no sentido de combater esta prática absurda, vergonhosa e criminosa do comércio de seres humanos.
Que Deus suscite sempre mais pessoas talentosas e de personalidade forte, nos anseios, desejos, inquietações e sonhos, alimentados pela fé em Jesus Cristo, traduzida em gestos e obras, neste tempo especial da Quaresma, com a Campanha da Fraternidade, a tratar deste assunto, o qual envolve toda sociedade. Que as palavras do Papa Francisco em Lampedusa, no dia oito de julho de 2013, nos favoreçam nesta inquietante empreitada, ao afirmar: “Peçamos ao senhor a graça de chorar nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada a dramas como este”.
Fraternidade e Tráfico Humano, tema da Campanha da Fraternidade de 2014, quer deixar marcas profundas, quer ser um aprendizado e aqui vem à minha mente a grandeza do mestre da Renascença, Leonardo da Vinci, na seguinte assertiva: “Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”. Olhar com bons olhos para este tema desafiador é pouco e insuficiente. É imprescindível a conversão do coração, com a qual sejamos levados a um aprendizado, a partir da fé, tendo por base os valores do Evangelho, no dizer do Apóstolo Paulo: “É para a liberdade que Cristo dos libertou” (Gl 5, 1). Assim seja!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com