PRECISAMOS APRENDER A SER CONDUZIDOS PELO ESPÍRITO SANTO...

Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne”. (Gl 5,16).

A vida natural nos leva ao encontro da morte todos os dias, mesmo que não queiramos; por outro lado, a fé vivida a cada instante nos leva em Cristo Jesus à vida eterna. Esse sempre foi e sempre será o desejo de todo ser vivente, que tem a liberdade de pensar e agir para que a vida seja sempre vida, e por isso, mantém sua fé viva no filho de Deus, que morreu e ressuscitou nos abrando as portas do Reino dos Céus. Ora, mesmo que não tenha fé, ninguém que vive neste mundo deseja a morte ou pensa nela a todo instante; ao contrário, todos, que creem em Deus ou não, desejamos uma vida de saúde, felicidade e paz; a não ser que tudo o que faz da vida o leva morbidamente ao fim.

Em sua carta aos Romanos (cf. Rm 8,1-17), são Paulo, escreve sobre a necessidade que temos de nos deixar conduzir pelo Espírito Santo de Deus, para atingirmos a perfeição desejada pelo Senhor, e que faz parte de seu plano para a nossa salvação. Mas, como podemos ser conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, para obtermos tal salvação, nós que vivemos em meio a tantos pecados e tragédias advindas deles, que às vezes nos sentimos até incapazes de crer? Ora, ao longo da história da salvação, encontramos os patriarcas, os profetas, os reis e todos os santos fiéis que, por seguirem Cristo e se moldar à sua perfeita obediência se deixando conduzir pelo Espírito Santo, fizerem em tudo a sua vontade e desse modo nos revelaram como Deus age para realizar o seu plano salvífico em nossa vida, que significa nos levar ao convívio com Ele em sua glória por toda a eternidade. Vejamos por seus exemplos com Deus agiu, mostrando-lhes como deveriam se portar em sua presença desde já para obterem esse seu divino favor.

Em Abraão, Deus nos ensinou que a fé salvífica, nasce do encontro com Ele e da permanência Nele, por uma especial visita Dele à cada um de nós, como aconteceu com Abraão, nosso pai na fé. “A palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão (um toque interior do Senhor), nestes termos: “Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande”. Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça”. (Gn 15,1.6). Ora, o Senhor é perfeitíssimo em todas as suas obras, ninguém escapa ao seu chamado, à sua visita, até mesmo aqueles que o negam (cf. Is, 40,26). Isto porque Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”. (1Tm 2,4). À Abraão e à sua posteridade na fé, Deus revelou que a sua salvação se estenderia sobre todas as nações e assim aconteceu (cf. Gn 17,1-6).
 
Em Moisés, Deus nos deu a lei perfeita da liberdade, o conhecimento da verdade escrita em tabuas de pedra e nos corações, e assim fez uma aliança de amor com todos fiéis de todos os tempos, e a selou com estes santos mandamentos, de tal modo que seguir os santos mandamentos é seguir o Senhor mesmo. Já em todos os profetas, Deus revelou a ação direta do Espírito Santo, como rezamos no credo: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, Ele que falou pelos profetas”. Por isso, as profecias se cumpriram e se cumprirão até o final dos tempos.

Em Maria, Mãe de Jesus, Deus fez-se cumprir todas as promessas e profecias que havia feito aos seus antepassados no Antigo Testamento; e o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, foi esse regente eterno que realizou o Magnificat do Senhor em sua pobre serva, por isso, “todas as gerações a proclamarão bem-aventurada”, porque o Senhor lhe fez grandes coisas, como o anjo mesmo lhe disse: ”O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”. (Lc 1,35). Pois, como o fez Abraão, ela também acreditou e Deus se fez Carne em seu ventre santo e habitou entre nós. (cf. Lc 1,26-38).

Por fim, Jesus atribuiu ao Espírito Santo todas as suas Palavras e ações e o chamou de dedo de Deus (cf. Lc 11,20; Mt 12,28;Ex 31,18). E ainda nos confidenciou: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei”. (Jo 14,12-14). Também disse, quando formos perseguidos por sua causa: ”Gravai bem no vosso espírito de não preparar vossa defesa, porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários”. (Lc 21,15). Por sua vez, São Paulo, falando sobre nossas orações, escreveu: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus”. (Rm 8,26-27).

Em suma, recebemos o Espírito Santo no Sacramento do Batismo (cf. Jo,3,3.7) para sermos conduzidos por Ele sempre (cf. Gl 5,16-17), por isso, precisamos aprender a ouvir o Espírito Santo em nós, como o ouviam os patriarcas, os profetas, Jesus e os apóstolos e todos os que seguem o Senhor no caminho da vida eterna (cf. At 5,32; Jo 15,26-27). Pois, de fato, se nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo de Deus, seremos herdeiros do Reino dos Céus, porque é para o Reino que Ele está nos conduzindo (cf. Rm 8,9-17). Pois o Espírito é a Verdade e nos ensina toda a verdade a respeito de Cristo que nos dá a vida eterna (cf. Jo 16,13-15; 3,16-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.