Abraão e Sara segundo o hassidismo e a cabala
Abraão e Sara segundo o hassidismo e a cabala
“Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”. (Gen. 12:1)
“Deus, porém, disse a Abraão: Não pareça isso duro aos teus olhos por causa do moço e por causa da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência”. (Gen. 21:12)
“E morreu Sara em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã; e veio Abraão lamentá-la e chorar por ela”. (Gen. 23:2):
Quando lemos as passagens referentes a Abrão e aos fatos que decorreram em sua vida, quase sempre nos atemos apenas a fatos históricos, sem nos apercebermos da dimensão mística do texto. Assim vemos filmes e livros falarem do assunto, e relatarem apenas um aspecto superficial da história, sem contudo isso acabar servindo as pessoas. Quando muito se percebe o aspecto moral dos patriarcas, e mesmo sua fidelidade a Deus, mas sem contudo isso aproximar de nossa pessoa, haja vista serem pessoas que viveram há muitos anos atrás. Ficamos assim limitados na interpretação do texto, ainda mais que não temos acesso ao hebraico, e nem a significado das palavras e nomes, o que já revela muito. Isso está muitas vezes em níveis de interpretações e chave, as quais se encontram na tradição oral e na cabala. Uma vertente judaica que fala no aspecto místico do judaísmo é o hassidismo (ou chassidismo), com grandes mestres e sábios rabinos.
Após ler um escrito chamado Tania, e mais recentemente estar lendo Likutei Sihot, percebo a grande profundidade mística em versículos que antes pareciam apenas fatos históricos, sem uma ligação com as pessoas que hoje vivem. Mas há sim uma relação íntima e profunda. O fato de Abrão ter se tornado Abraão era antes um mistério. Quando muito se falava, era que esta era vontade de Deus. Fato é que isso se deu com a circuncisão, e que na verdade é uma circuncisão do coração. Ademais, a adição da letra “He”, que tem valor 5, faz do patriarca alguém de pleno controle de seu corpo, uma vez que isso significa os 5 sentidos. E Abrão soma 243, e já Abraão soma 248, que são os 248 órgãos do corpo, que estão sobre o poder desse homem.
Em verdade, Abraão simboliza a alma, e o trajeto dessa por diversos níveis espirituais. Quando se escreve: “Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”, se fala em “Pai” como sendo uma esfera da árvore da vida, uma sefira, da cabala, que chama Hochmá, e “a casa de” simboliza Biná, a esfera/sefira que se poderia chamar de Mãe. São níveis espirituais elevados dos quais a alma descende, para viver no corpo físico (Sara), para assim cumprir a Torá (Bíblia) e as Mitzvot (Mandamentos). Assim Abraão simboliza a alma e Sara o corpo, e por isso Sara morre, porque o corpo morre e a alma permanece ligada ao corpo. Hochmá e Biná estão mais próximas da luz de Deus, no Grande Rosto. Assim descende das dimensões mais elevadas, de emanação, criação e formação (Atzilut, Briah e Yetzirah), até chegar a dimensão física de Assiah, na esfera de Malkut, ou Reino.
Já Sara morre em Quiriate-Arba (Kriat-Arvá), que significa “a cidade dos quatro”, ou melhor, ao corpo composto de 4 elementos. Pois o cumprimento dos mandamentos só é possível a quem está em corpo físico. Deste modo Percebemos a missão cósmica de Abraão, Sara e as minúcias relatadas em Gênesis 12 e 21:12, de tal feita que nos resta a reflexão desse serviço a Deus e do retorno a Deus, de modo que a alma faz o juramento antes de nascer. Para tanto, não se trata apenas de um relato de homem meramente circuncidado, uma vez que a circuncisão maior seja a espiritual, daquela que tira o prepúcio do coração. E Deus apareceu a Abraão e pode aparecer a qualquer um que O busque, apesar de que a presença divina (shekiná) seja mais acessível a um justo (tsadik).