Em defesa da Igreja Católica

EM DEFESA DA IGREJA CATÓLICA

Miguel Carqueija


“Ser católico é bom demais!”
(Padre Paulo Ricardo, palestra transmitida pela TV Canção Nova em 27 de outubro de 2012)


É comum, nos tempos que correm, a gente deparar, pela imprensa, tv, internet etc. com criticas contundentes aos católicos, à Igreja como um todo, e aos padres de um modo geral. Tais críticas, não raro, assumem um caráter panfletário, pornográfico e intolerante, repleto de ódio, a tal ponto que, se fôssemos às últimas conseqüências de tais ataques, deveríamos concluir que a Igreja Católica deveria ser fechada á força e todos os católicos recalcitrantes (especialmente os padres) levados ao pelotão de fuzilamento.
Será que a Igreja Católica é tão ruim assim?
Examinemos, primeiramente, o que possa haver de negativo no ambiente católico, com a ressalva de que muitos adversários passam do particular para o geral, e das falhas de alguns (falhas reais, imaginarias ou exageradas) pretendem condenar com um impiedoso “juízo final” (e como precisávamos de Nelson Rodrigues vivo para responder...) toda a instituição católica, ou todos os padres como classe (tenho lido, sim, criticas de todo impiedosas e ferozes).
É ridículo pretender que uma instituição que é formada, na Terra, por homens, só apresente membros perfeitos e irrepreensíveis. Qualquer um de nós sabe, desde criança, que no próprio grupo original de doze apóstolos escolhidos por Jesus Cristo — gênese do primeiro episcopado — havia um traidor. Quando eu próprio era criança aconteceu, no Brasil, o rumoroso caso de um padre que matou o seu bispo a tiro de revólver — e nem por isso eu deixei de ser católico.
Agora pegam essa história de pedofilia para denegrir a Igreja, de maneira covarde e canalha. Com certeza, um padre que pratique abusos contra menores tem de responder pelos seus atos. Mas, além do fato de que o Vaticano vem agindo com severidade (o próprio Papa Bento XVI tomou a frente do assunto; cfr. “Luz do Mundo”), é verdade também que a pedofilia e outros maltratos a crianças constituem verdadeira maldição do século, e o número de sacerdotes implicados é ínfimo diante do total de pedófilos. Praticamente qualquer outra categoria (especialmente a dos parentes próximos tais como pais, tios e padrastos) os possui mais que o clero. Diante do ataque de um protestante, o notável Padre Paulo Ricardo, no programa “Escola da Fé” do Professor Felipe Aquino, lembrou corajosamente que “estatisticamente há mais acusações de pedofilia contra pastores protestantes que contra padres católicos”.
Ora, já tem sido constatado que o furor contra a Igreja utilizando o caso dos padres pedófilos como pretexto, é desproporcional. Se realmente as pessoas que estampam na mídia infâmias como dizer que a Igreja é “um ninho de pedófilos” quisessem combater essa aberração, teriam de ampliar o alcance de sua mira: redes de pedofilia pela net, quadrilhas que exploram o “turismo sexual” com a prostituição infantil e até os movimentos para legalizar (sic) a pedofilia. Sabe-se que na Holanda há políticos propondo isso. Nos EUA, há muitos anos atrás, havia uma associação de pedófilos publicando até seu periódico, coisa permitida por um conceito distorcido de democracia. A mídia também foi muito complacente com Roman Polanski, até hoje impune pela justiça dos homens (e ele é culpado assumido).
Outra acusação ridícula: de que a Igreja é “riquíssima”, que o Papa vive no luxo etc. Houve um filme, décadas atrás, que passava essa idéia: “As sandálias do pescador”. Os graves problemas do mundo foram “resolvidos” quando o Papa resolveu leiloar os tesouros do Vaticano. Não sei como fizeram com os afrescos...
A idéia em si é estúpida, pois são tesouros artísticos que já nem valerão tanto se foram retirados do Vaticano (sem dano...) e espalhados pelos quatro cantos do mundo. Seria o mesmo o governo francês colocar em leilão as peças do Louvre para socorrer os pobres da França ou de outros lugares.
Nunca vi nada de mais nas roupas do Papa, trajes rituais que nada têm a ver com luxo e ostentação. Sem duvida, não se espera que o Pontífice viva como mendigo, esfarrapado e sem segurança; aliás ele também é chefe de estado. Pode-se observar luxo e ostentação na realeza européia, ou mordomias inadmissíveis entre os políticos brasileiros. Com a Igreja a coisa é muito outra.
Não só o Papa é uma pessoa simples, como não lhe faltam os sacrifícios físicos: jejuns, cansaços em tarefas que já não são para a sua idade... em João Paulo II isso ficou evidente, no holocausto de seu corpo, atingido nos últimos anos pelo terrível Mal de Parkinson. Nós mal podemos imaginar o sacrifício aceito por aquele ancião recurvado, tão diferente do vigoroso Cardeal Karol Wojtyla quando de sua eleição para o Papado. E, no entanto, aquele ancião enfermo e alquebrado presidiu longas e cansativas cerimônias e viajava.
Bem, a Igreja não é riquíssima, até porque ela não funciona como uma multinacional, uma mega-empresa. Há muitos institutos católicos pelo mundo — paróquias, colégios, editoras etc. — que lutam com sérias dificuldades financeiras.
Talvez alguém objete que, sim, paróquias, missões e rádios católicas podem ser pobres, mas que o Vaticano é rico. Ora, o Vaticano arrecada e redistribui recursos pelo mundo inteiro, mantém inclusive a importantíssima Pontifícia Academia de Ciências, não se pode imaginar o Papa como uma espécie de Tio Patinhas eclesiástico, acumulando dinheiro vivo num imenso reservatório, para nadar nas moedas. Os recursos do Vaticano estão em circulação e sustentam obras de caridade, educacionais, hospitalares etc. e não são riquezas estéreis.
Sabemos que ninguém fez mais caridade que a Igreja, ao longo de dois mil anos; que ninguém, como ela, amparou, exercitou e estimulou a Ciência, a Arte, a Cultura, a Literatura e as Obras Sociais. A Igreja salvou a civilização da Europa quando o Império Romano ruiu; ela elevou a Música, a Arquitetura, a Pintura; promoveu a imensa obra cientifica que foi a Reforma do Calendário; afastou a Astronomia dos velhos conceitos da ciência pagã, através de Copérnico, Galileu e tantos outros sábios (Copérnico era sacerdote). Foi ela quem desenvolveu uma admirável Doutrina Social, apontando soluções para os gravíssimos problemas trazidos pela Revolução Industrial. Foram pessoas da Igreja, como São Vicente de Paula, o Santo Cura D’Ars, São João Bosco, São Damião de Veuster, a beata Madre Teresa de Calcutá, a beata Irmã Dulce etc. que demonstraram o que é pertencer à Religião do Amor, o que é esparzir pelo mundo o amor, a tolerância e a sabedoria, sacudindo o mundo, reformando a sociedade.
Não existe, sobre a face da Terra, nada mais maravilhoso que a religião católica.

Rio de Janeiro, 8 de janeiro a 8 de fevereiro de 2012.


(imagem do google)