Palavras que ferem como corte de navalha, porém necessárias
-“... Uma geração perversa e adúltera me pede um sinal...”
“... Raça de víboras...”, “... Vós tendes por pai o demônio...”, “... As prostitutas vos precederão no Reino de Deus...”.
As frases acima (há muitas outras semelhantes) estão registradas nos evangelhos e foram proferidas pelo Mestre da Verdade à época de seu Ministério terreno. Pensando bem, são frases chocantes e devastadoras, se levarmos em conta que elas tinham como alvo o povo escolhido de Deus àquela época – os Judeus. As palavras foram dirigidas especialmente aos escribas e fariseus, dois dos mais respeitados e influentes grupos religiosos da época de Cristo.
Os escribas, doutores da lei, eram especialistas em bíblia e cabia-lhes a responsabilidade de interpretar e ensinar as Escrituras ao povo, por esta razão gozavam de grande prestígio e influência na sociedade judaica.
Os fariseus eram um grupo religioso “puritano”, jugalvam-se superiores aos demais e faziam questão de demonstrar santidade exterior. Como os escribas e fariseus, Jesus tivera a mesma educação religiosa que eles, professava a mesma fé e, obviamente, era também judeu.
Nem mesmo o parentesco espiritual e o “status” que esses grupos exerciam na sociedade, impediram que o Mestre fosse extremamente rigoroso e justo com eles. É possível que membros desses grupos dissessem –“Quem pensa que é esse carpinteiro pra nos ofender dessa forma?”. Eles não compreendiam que, para Jesus, aquilo que eles supervalorizavam não tinha valor –“status”, poder, religiosidade, politicagem, riqueza, prestigio... Jesus estava preocupado com a mudança interior de cada um. “Se não tiveres o coração como de criança, não verás a Deus...", “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus...”, “Quem manda, seja como quem serve...”, “Quem quiser ser o maior, que seja o menor...”, “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”... Em nenhum momento, em nenhuma circunstância Jesus pregou outra atitude a não ser “a mudança do coração”. Aí residiu o grande conflito entre o Mestre e os religiosos da época. Eles buscavam “as coisas deste mundo”. Jesus queria lhes mostrar que eles deveriam “abrir mão” de tudo aquilo que os aprisionava “e, assim, passarem a adorar a Deus “em espírito e verdade”. Para Jesus, o Reino dos Céus, que os Judeus também queriam, não poderia ser construído sem sentimentos nobres –como sinceridade, amor, justiça.. – a ausência de tais sentimentos provocou a “queda” do primeiro casal, deve ter pensado Jesus.
"Escribas e fariseus hipócritas". Hipocrisia. Primeira causa da indignação do Mestre. As atitudes e comportamentos dos escribas e fariseus não estavam de acordo com a religiosidade deles. Faltava-lhes sinceridade. Fingiam virtudes que não possuíam. Pregavam “coisas que não praticavam”. “Fazei tudo o que eles dizem, mas não façais nada do que eles fazem...”, disse amargamente Jesus. Por causa da hipocrisia deles, Jesus afirmou: - “as prostitutas vos precederão no Reino dos céus...”. Que tragédia. Para Jesus, as prostitutas eram mais dignas e sinceras que eles. E haja dor e decepção no coração do Senhor da Verdade.
Um outro motivo parece ter sido a profunda ingratidão e incompreensão por parte dos líderes religiosos sobre a Providência celeste. Sobre isso, Ele disse certa vez: -
“Se vocês acreditassem em Moisés, acreditariam também em mim, pois de mim escreveu ele...”
Portanto, a decepção que seu próprio povo lhe causara fora também uma das razões para que Jesus utilizasse essas frases devastadoras contra, principalmente, os lideres religiosos. Parece-me terem sido estes, os dois principais motivos que levaram Jesus a indignar-se contra eles, a ponto de declarar: “... Vós tendes por pai o demônio e vós quereis fazer os desejos de vosso pai...”.
Que horror! O povo escolhidos de Deus, havia trocado de pai. Imagino com que dor amarga no coração Jesus foi obrigado a fazer essa declaração. Segundo o próprio Jesus, o povo a quem Deus houvera escolhido, havia trocado de pai. E era um pai terrivelmente cruel. “Jesus deu as características dele”... - “Ele foi homicida e traidor desde o princípio...” Ao fazer esta declaração, lágrimas de decepção dor, angústia e amargura devem ter corrido pela Sua face sulcada de rugas. Sim, rugas produzidas pela exposição excessiva ao sol escaldante do deserto. Aqueles a quem Deus havia investido todo sacrifício e esforço para prepará-los a fim de cooperarem e apoiarem Sua missão, agora eram um de seus adversários, deve ter pensado Jesus.
Imagino que nesse tenso momento, o “HD” de Jesus processou e trouxe à mente dEle o sofrimento do povo no cativeiro da Babilônia, a escravidão no Egito, o sofrimento de Noé, Abraão, Moisés... de tantos outros, porque todos os trabalhos de Deus e dos profetas do Velho Testamento se resumiram nele - Jesus.
Mas o povo, principalmente, os líderes, não foram capazes de compreender isto. Por isso, as palavras do Mestre não eram só devastadoras. Já era um juízo para um povo que se negava a compreender a vontade dEle e a de Deus.
Por isso chorou. Chorou amargamente.
Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues
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Texto publicado inicialmente 05/05/2009 no Blog sinto muito ,mas preciso falar