A ORELHA DE MALCO RESTAURADA

"E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos a espada? E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou."

Um dos que estavam com Jesus feriu o servo do sumo sacerdote com sua espada, e cortou-lhe a orelha direita. Esse fato aconteceu quando o traidor, Judas, aproximou-se de Jesus para beijá-Lo, conforme combinado. Jesus, ao presenciar aquela cena de incontinência emocional, repreende o agressor, dizendo: "Basta. E tocando-lhe a orelha o curou.". Por desconhecimento da Palavra de Deus, muitos diziam que, quem teve sua orelha decepada, foi um soldado romano.

De acordo com o Evangelho de João, mais detalhista, o nome daquele que sofreu a agressão era Malco, um levita, futuro sacerdote, e, do agressor, Simão Pedro. Como sempre, esse apóstolo tentava resolver tudo de maneira atabalhoada e confusa, ainda não compreendera a missão de Jesus nesta terra e nem a sua própria, como um discípulo do Senhor. Mais uma vez, Jesus o repreende: "Mete a tua espada na bainha; não beberei eu do cálice que meu pai me deu?".

Os que se posicionavam contra Jesus e ali estavam presentes eram os principais dos sacerdotes, capitães do templo e os anciãos. Estavam cheios de si mesmos, executando, conforme seus pensamentos humanos, um grande serviço para Deus: mas, o poder das trevas imperava neles e entre todos.

Segundo os historiadores, Malco acompanhava o sumo sacerdote para aprender dele o ofício, e seria ungido em breve. O sacerdote tinha de ser perfeito fisicamente, e não poderia lhe faltar uma orelha, muito menos, a direita. Era uma tragédia para quem estava aguardando a maior unção, a realização de seu grande sonho, de representar o povo diante de Deus. Seria o fim de uma brilhante carreira.  A Lei de Moisés exigia a perfeição para o exercício do sacerdócio (Lv 22:17-23).

Mas Jesus sabia de tudo, se tocou com o desespero no coração daquele homem, além do que, não necessitava de quem o impedisse de cumprir sua missão de redimir a humanidade. O Senhor, especialista em restituir sonhos, repreende Pedro e lhe recupera a carreira.

Simão, inicialmente, pergunta "Senhor, feriremos a espada?". Pela natureza de Pedro, antes de sua real conversão, intempestivo como era, não esperou a resposta do Mestre, que, seguramente, seria negativa. Pela emoção do momento, não seria difícil que ele, fosse apoiado, saísse distribuindo lances de espada e decepando cabeças. Mas não era esse o plano do Santo de Israel: "Mete a tua espada na bainha.".

Meter a espada na bainha tem um sentido bem mais profundo: o de recuar, quando estamos nos jogando numa atitude impensada; retroceder, quando enveredamos por caminhos perigosos; parar para pensar, antes de tomarmos uma atitude duvidosa; conter-se. Essa foi a pior opção para aquele que veio nos ensinar a oferecer a outra face às investidas do agressor.

O Senhor não se abaixou, pegou o pedaço da orelha do servo do sumo sacerdote que caíra no chão e o recolocou, mas, tocou-lhe no lugar e refez o órgão. E é assim que o Senhor faz conosco: despreza a nossa porção corrompida que se espalha pelo chão e, pelo toque em nosso coração, somos refeitos, reconstituídos, restaurados em excelência, porque é Deus de amor.

O Senhor também disse "deixai-os", por conhecer a ignorância daqueles homens letrados, mas desprovidos do verdadeiro conhecimento de Deus que produz discernimento e compreensão dos caminhos projetados por Ele, através da sabedoria concedida pelo Espírito Santo: eles não sabem o que fazem. E disse "basta", porque pregou o amor e contra a violência e um ato de agressão, apenas, pode desencadear uma tragédia sem fim e não era e não é esse o plano de Deus.

Que possamos ser reestruturados no amor de Deus, que nosso coração partido pelas dores seja restaurado, que nossa alma carente seja reconciliada com o Pai, o Deus do impossível. Amém por isso!

(Lucas 22:49-51 e João 18:10)