Olho por olho e aspecto da tradição Oral e talmud
Olho por olho e aspecto da tradição Oral e talmud
“Se alguns homens brigarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, não resultando, porém, outro dano, este certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e pagará segundo o arbítrio dos juízes;mas se resultar dano, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”. (Ex: 21:22)
Vemos ao ligar a TV algum apresentador de programa policial falar do talião, e justificando o direito de matar ou se vingar de determinado bandido. Mesmo em cursos jurídicos, na parte de história e introdução do Direito, há o equívoco de interpretar superficialmente as leis judaicas, em específico o que se entende por talião. Mas não se leva em conta a jurisprudência judaica, o Talmud, aspectos práticos e mesmo místicos da passagem referente ao chamado ‘olho por olho’. Numa dinâmica cristã, afasta-se mais ainda a interpretação literal dessa passagem bíblica.
Primeiro que a Tradição Oral comentando esse dispositivo fala em compensação econômica, nos casos de se existir esse dano, quando não premeditado. Segundo que várias regras anteriores, e por hermenêutica, indicam a possibilidade do resgate. Desta feita, vemos que apesar de aceitável naquela época a pena de morte, a mesma apenas dependeria da Justiça, e não de vingança privada e nem de opinião de jornalistas de programa policial. Ademais, isso sem levar em conta o aspecto cristão, onde se deve amar os inimigos, e perdoar setenta vezes sete, dar a outra face, o que revela mais ainda a dimensão espiritual das Escrituras Sagradas, e na forma de tornar o homem melhor, e não incentivar mortes e vinganças.
E não se aceita a testemunha única, mesmo na Bíblia. Assim atesta Números 35:30, e em passagens próximas se trata do resgate. Vela lembrar que a Torá é lei geral e que necessita da tradição oral para sua hermenêutica, e assim surgem os sábios e a tradição talmúdica. Jesus provou conhecer essa tradição oral e em muitos momentos parecia contrariar a lei, como em relação ao Sábado, mas apenas estava interpretando. Sabe-se que mesmo judeus trabalhavam no sábado, se este serviço fosse por exemple relativo ao culto, ao sacerdócio etc.
Há uma história interessante contada por Hilel, onde se vê um crânio flutuando nas águas e não se sabe quem é o assassino. Esse caso explica bem o olho por olho. Pois opera mesmo que não haja a justiça humana, existe a justiça de Deus, e assim a providência dá conta do caso. Também podemos pensar no guilgul, na reencarnação, e assim o sujeito que assassinou paga em vidas futuras o mal que vez a pessoa da qual restou apenas o crânio. E essa explicação ganha um tom místico e certeiro, uma vez que o poder Judiciário não consegue dar conta de todos os crimes. E nem se deve apoiar a vingança e o excesso, uma vez que a Escritura manda amar o próximo, e perdoar. Assim como há perdão das dívidas e tudo mais na mesma letra. Também, por outro lado, para os iníquos há o Geena ou inferno, e assim vemos a justiça divina operar em algum lugar. Logo, o “olho por olho” prova que podemos contar com a justiça divina e que não devemos defender a iniquidade.