No Papa Francisco, recordamos São Carlos Borromeu

Padre Geovane Saraiva*

Diante do clamor e de gemido da criatura humana e da própria natureza (cf. Rm 8, 22), à beira do abismo, não podemos esquecer a lição de ternura, paz, diálogo e otimismo, herança inestimável, deixada por Francisco de Assis, dizendo não a insensibilidade e ao indiferentismo, encarnado pelo Papa Francisco, ao nos dizer em 22/10/2013: “Deus esteve sempre presente na história dos homens. Ele nos salva com ternura, com amor e, sobretudo, com a sua vida”, sejam estímulo e encorajamento sincero, no firme propósito de edificar o Reino, grande sonho do Pai. Não temos alternativa para evitar nossa própria autodestruição, a não ser viver com fé e esperança consequente, tendo na mente, nos olhos e no coração, a vida de milhões de irmãos, excluídos do projeto do Pai, neste mundo em que estamos inseridos, inspirados no sonho e na mística do nosso querido Sumo Pontífice, Jorge Mario Bergoglio.

No qual recordamos São Carlos Borromeu, nascido próximo da cidade de Milão – Itália, em 1538, numa época em decadência, profundamente marcada pela injustiça e pelo nepotismo. Sua mãe era uma mulher de grande fé, associada à piedade, com o privilégio de ser irmã do Papa Pio IV. Ela cuidou com grande amor e dedicação da educação do filho Carlos em todos os sentidos, especialmente no tocante à moral religiosa e os bons costumes. O jovem de coração grande, além da raríssima inteligência e totalmente aberto à realidade do mundo de seu tempo, conhecido por ser um exímio aluno do curso de Direito na Universidade de Pávia, consciente de que as virtudes são excelsas e, neste sentido, Deus o marcou com a virtude de ir ao encontro das pessoas, de acolhê-las e bem tratá-las.

Pio IV o chamou à cidade eterna e o nomeou cardeal e arcebispo de Milão, com apenas 22 anos de idade, mesmo sem ser sacerdote. O jovem Carlos Borromeu recebeu as ordens sagradas – Padre e Bispo. Ao iniciar a carreira eclesiástica, parecia não muito animado, para os que sonhavam com a reforma da Igreja. Mas a partir daquele momento em diante, sua vida se transformou por completo, ao ser marcado por Deus, na sua infinita misericórdia, através das virtudes da ascese, piedade e caridade.

Destacando-se como um bispo extraordinário e grandioso, pela vigilância pastoral e esplêndidas virtudes, mostrando ao mundo o verdadeiro rosto pascal do Senhor Ressuscitado, tornando-se um servo bom e fiel (cf. MT 25, 21), a serviço do Evangelho, construindo e edificando o Reino de Deus, pela fervorosa caridade pastoral, manifestando-a de um modo todo particular na preocupação para com os pobres, na inesquecível peste de Milão, usando de modo implacável todos os meios para minimizar o sofrimento dos preferidos de Deus.

São Carlos Borromeu pertence aos grandes promotores na renovação da fé e dos costumes, não só compreendendo, mas procurando encarnar o que foi sancionado pelo Concílio de Trento. Daí a Igreja o tê-lo como modelo, exemplo e referência, entrelaçados evidentemente pela autoridade, sem jamais esquecer a oração. No seu zelo e caridade de pastor, tinha como princípio pedagógico: “ver tudo, tolerar muito e corrigir pouco” (omnia videre, multa tollerare, pauca corrigere), certamente muito válido para os dias de hoje.

Homem vigoroso pela força e coragem inabaláveis, pela atividade de ensinar, santificar e governar, ocasionando mudança e renovação nos costumes e na mentalidade de seu povo. As procissões que promoveu, suplicando a misericórdia e o perdão divino, considerados de uma importância inenarrável, belo exemplo oferecido ao mundo através grande bispo de Milão, quando ele mesmo acompanhava muitas das procissões, com os pés descalços.

Arcebispo cumpridor de seus deveres, na sua sensibilidade pastoral, não ficando de modo algum na indiferença, a ponto de tornar-se grandioso como bispo e ainda maior como santo; figura humana indispensável, para que a Igreja se levantasse e saísse da inércia em que se encontrava no século XVI, com ampla repercussão na Europa e no mundo inteiro.

Hoje temos a alegria de contar com Papa Francisco à frente da Igreja Católica, o qual a exemplo de São Carlos Borromeu, percebe os sinais dos tempos e, ao mesmo tempo, clama angustiado e sensibilizado por reforma e justiça, dentro e fora da Igreja, provocando um grande impacto e entusiasmo no mundo hodierno. Oxalá ele possa ver em toda a Igreja, a renovação e o rejuvenescimento espiritual, tão sonhado pelo saudoso Papa João XXIII, para o bem da humanidade, que acreditamos ser o grande desejo do Criador e Pai.

Deus infinitamente bom, que nos deu o Papa Francisco, na sua comovedora ternura, nos dê a graça de sempre e cada vez mais compreendermos a vida humana na face da terra, aqui posta em questão no sentido último, a partir de Francisco de Assis, no seu fascínio por Deus e por suas santas criaturas, dizendo-nos que temos que ter força, no sentido de colocar nossos valores e projeto de vida como um todo, acima de nossos interesses, num grande mutirão de solidariedade em favor da humanidade e do planeta, sem jamais esquecer a mística e o exemplo de São Carlos Borromeu. Deus seja louvado em suas santas criaturas!

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

Autor dos livros:

“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);

“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);

“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);

"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos);

"25 Anos sobre Águas Sagradas (coletânea de artigos e fotos).

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 27/10/2013
Código do texto: T4544468
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