A RELAÇÃO ENTRE ALTERIDADE E DIÁLOGO ANTE A REALIDADE CONTEMPORÂNEA MARCADA POR FUNDAMENTALISMOS E INTOLERÂNCIA
A força, a violência, e a guerra não trazem a paz. Uma pessoa pode derrotar outra e não ter paz interior. Um pais pode derrotar seu vizinho três vezes em guerras e estará distante da paz.
Todas as religiões precisam lidar com a educação voltada para a atitude correta com relação à violência. A verdadeira religião ensina autocontrole e que cada um deve lutar contra suas próprias paixões que incitam para o mal, e não lutar contra o próximo. Não se vence a violência fazendo uso da violência. O ódio deve ser vencido com amor, pela conversão do coração do coração e pela remoção das causas da guerra, que são a injustiça, o egoísmo, a inveja e a indiferença diante do sofrimento dos outros.
O extremismo religioso é um equivoco. Não é correto tentar reprimir toda liberdade à diversidade religiosa. De qualquer modo, é uma aventura destinada ao fracasso. A religião deve ser proposta, não imposta. A religião deve brotar do coração humano como uma resposta livre ao apelo de um Deus reconhecido pela consciência em busca da verdade sobre o Criador.
O Diálogo inter-religioso necessita de uma sólida espiritualidade. Antes de ser uma atividade, o diálogo é um encontro e uma exigência da fé cristã. Está enraizado profundamente no mistério trinitário, num Deus que é amor e comunhão. Este é o verdadeiro exemplo e fundamento do diálogo.
Deus comunicou-se à humanidade em vários momentos da história, mas, de um modo único, enviou seu próprio Filho, Jesus Cristo. Ele esvaziou-se a si mesmo e se se solidarizou com o ser humano até o fim (cf. Fl 2, 5-8).
Assim, os cristãos, quando encontram outros crentes, são chamados a ter os mesmos sentimentos de Cristo, para seguir os seus passos.
O cristão tem como compromisso uma constante conversão a Deus. E, junto com as pessoas de outras religiões, busca a face de Deus (cf. SL 27,8)
O cristão, quando entra em contato com o povo das outras crenças, necessita manter uma clara identidade religiosa. O diálogo inter-religioso não exige que o cristão coloque de lado alguns elementos da fé ou da prática cristãs, colocando-os em dúvida. Ao contrário, os outros crentes querem claramente conhecer quem são encontrando.
Dois pontos são fundamentais para o diálogo: a firme convicção de que Deus quer que todos sejam salvos (cf. 1 Tm 2,4) e que dá sua graça também aos de fora dos limites visíveis da Igreja (Lumen Gentium, 16: Redemptor Hominis, 10).
Deus assume uma postura dialógica em seu próprio ser. Ele comunica-se com os seres humanos, com o cosmos e com a realidade ao longo da história. Deus é, por excelência, um “ser dialógico”. Antes de tudo entra em dialogo com as pessoas da Trindade e, depois, estabelece uma relação profunda, escolhendo com interlocutor, a pessoa.
Há diálogo na experiência religiosa, quando pessoas de diferentes crenças comunicam o próprio caminho para Deus. Há diálogo em favor da paz quando há um esforço conjunto de construir unidade e de superar os conflitos. E há, também, o dialogo dos intercâmbios teológicos, em que adeptos das varias religiões comparam e refletem os dados da própria fé. Na experiência de escuta e de comunicação com o outro, o missionário se transforma. Surge um desejo profundo de busca de unidade em Deus e de respeito profundo à diversidade.
Fanáticos e fundamentalistas, sem duvida, desonram o nome da religião. Os políticos, com seus interesses pessoais escusos, ás vezes se aproveitam da religião para atiçar as chamas da intolerância e do ódio.Essa atitude perniciosa somente pode exacerbar as coisas, provocando a escalada da violência.
Guerras catastróficas em todo mundo matam milhões de vidas humanas, pessoas e povos humilhados e torturados, riquezas matérias e culturas destruídas. Queremos paz e não queremos guerras, de qualquer tipo, particularmente as que podem ter conotação religiosa.
A paz porem não é somente a ausência de guerra, daquela guerra declarada com exércitos em combate. Falta paz sempre que a vida humana é violentada. E falta paz quando o homem extingue as espécies animais, quando o equilíbrio da natureza é ameaçado, qualquer que seja a forma em que isso aconteça. Não há paz quando há o desespero por causa do desemprego, da falta de pão, da saúde maltratada, da miséria, do desabrigo, da juventude drogada, da violência em casa e nas ruas, dos encarcerados sem direitos, das crianças sem escola, dos preconceitos contra os diferentes.
Há falta de paz, ainda quando eu não respeito a mim mesmo, ao outro, à natureza, a Deus, rompendo alguma ou algumas das relações essenciais que me constroem positivamente como pessoa e constrói o outro, a sociedade, a natureza.
A paz verdadeira é fruto do amor e da justiça, e ao mesmo tempo que é dom é conquista. É um dom oferecido por Deus, e por isso, é diferente da paz que o mundo concede que se firme no domínio do mais forte ou no equilíbrio sempre perigoso das forças em confronto. Paz é o resultado das relações marcadas pela justiça, pela solidariedade e pelo amor. A paz tem seus ingredientes já inscritos por Deus dentro de cada pessoa.
Entretanto, enquanto os governos podem se esforçar para negociar e formular propostas de paz e as religiões se empenham em promover a paz, o verdadeiro arauto da paz, em última análise, é o homem como individuo. Quem está em paz consigo mesmo aprende a viver em paz com os outros.
Paz é o desejo do coração humano. A aspiração humana livre orienta-se para o respeito aos próprios direitos pessoais e aos direitos dos outros, e para o reconhecimento de que todo ser humano é um individuo único que jamais deve ser reduzido a um meio ou considerado como mero instrumento. Antes deve ser respeitado e aceito como pessoa, como sujeito de direitos e deveres. Todos os povos, línguas, culturas, religiões e grupos sociais compreendem a paz e têm uma palavra especial para ela.
Uma religião oferece uma cosmovisão a uma comunidade especifica e, assim, segrega-a do resto da humanidade. Desse modo, ela é um terreno fértil para preconceitos, visões unilaterais, intolerâncias e antagonismos.
As Igrejas Cristãs tem uma grande responsabilidade nesta tarefa histórica de educar para a paz e para o diálogo, pois, são portadoras do Evangelho de Jesus, que é Evangelho de liberdade, do amor e da paz. Elas tem a missão de testemunhar, juntas, no exemplo entre elas de respeito, ajuda e paz, Jesus Cristo, para quem o outro desconhecido e caído nas diferentes beiras dos caminhos, é o próprio que abre a porta para o verdadeiro amor a Deus (Lc 10, 29-37); para quem a pessoa amada vale até mesmo doação da própria vida (Jo 15,13). E, além disto, as Igrejas são reveladoras da presença do Reino de Deus no meio de nós e, ao mesmo tempo, do convite permanente para novos passos em direção ao Reino de Deus, que é Reino de verdade e justiça, de amor e paz, que pode avançar sempre na terra, pois seu limite, sem limites, é a perfeição da Trindade.
Cometer um ato de violência contra uma pessoa inocente é exatamente o oposto de amar essa pessoa. Neste sentido uma religião que prega a violência ou a guerra é uma farsa, uma negação da essência da religião.
Em geral, ações que levam a tensões, violências ou guerras podem ser atribuídas ao orgulho, à intolerância, ao egoísmo de pessoas ou de grupos, à cobiça, à inveja e ao desejo de vingança. São exatamente essas situações que a religião tem por função atender, cuidando para não se tornar vítima ou instrumento delas.
O Diálogo inter-religioso é um encontro sincero de uma pessoa profundamente convencida de sua própria fé com um fiel de outra religião. Esse diálogo pressupõe a posse confiante e serena da própria identidade religiosa e uma participação tão eminente na comunidade de fé, que a pessoa pode ser nomeada embaixadora dessa comunidade.
Uma relação verdadeira com Deus somente pode gerar amor e harmonia nas relações de cada um com os seus semelhantes, principalmente entre as religiões. A paz é um processo continuo, sem fim. O dialogo entre religião e cultura e entre as próprias culturas pode favorecer esse processo e, destruindo as estruturas dos preconceitos, promover a paz, o entendimento e o amor.
Para enfrentar esses desafios e prevenir discórdias entre os seres humanos de orientações religiosas diferentes, as religiões do mundo devem fazer um grande esforço para educar os seus fieis nas virtudes básicas que podem favorecer a construção da paz.
REFERENCIA
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras. São Paulo: Vida Nova, 1992.
BIBLIA SAGRADA. São Paulo: Edições Loyola, 1994
BITTENCOURT, Estevão. Ciência e Fé na história dos primórdios. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1995.
BURNS, Bárbara. Costumes e Culturas: uma introdução à antropologia missionária. 3ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.