Homilia Pe. Ângelo Busnardo XXVI Dom. Comum (O rico e Lázaro)

XXVI DOMINGO COMUM

29 / 09 / 2013

Am.6,1ª.4-7 / 1Tm.6,11-16 / Lc.16,1931

No tempo de Amós o sistema econômico era baseado na escravidão. Aqueles que possuíam grandes propriedades compravam escravos que eram obrigados a trabalhar em troca de casa e comida. Os proprietários viviam na opulência e na preguiça: 1Ai dos que estão tranquilos em Sião, dos que se sentem seguros na montanha da Samaria, dos nobres da primeira das nações, a quem a casa de Israel recorre (Am.6,1). Hoje também existem pessoas que vivem na opulência e na preguiça ou porque ocupam cargos públicos que não exigem presença no local do serviço ou porque são esposas ou filhos de homens ricos que lhes abastecem a conta bancária sem se incomodar onde gastam o dinheiro. Os folgazões do tempo de Amós, se não se converteram, já estão no inferno e as folgazonas e folgazões do nosso tempo, se não chacoalharem a preguiça, também irão parar na churrascaria de Belzebu.

Os folgazões do tempo de Amós se distraíam com instrumentos musicais: 5Improvisam ao som da harpa, como Davi, inventam instrumentos de música. 6Bebem vinho em copos e se ungem com o melhor dos óleos, mas não se preocupam com a ruína de José (Am.6,5-6). As folgazonas do nosso tempo se divertem percorrendo lojas de luxo e salões de beleza.

O dinheiro tem um poder corruptor muito forte. È possível alguém que enriqueceu honestamente permanecer fiel a Deus. Mas o dinheiro abre brechas para tentações que são inacessíveis para os pobres: 10 porque a raiz de todos os males é a cobiça do dinheiro. Por se terem deixado levar por ela, muitos se extraviaram da fé e se atormentam a si mesmos com muitos sofrimentos (Tm.6,10). Quem quiser permanecer fiel a Deus deve cultivar as virtudes da justiça, da fé, da piedade... 11 Como homem de Deus, foge destas coisas. Segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão (1Tm.6,11).

Lembrete: As parábolas, sendo uma linguagem indireta, devem ser analisadas em detalhe para evitar confusões e distorções da mensagem.

“E dizia-lhes: ‘A vós é confiado o mistério do reino de Deus; mas àqueles que são de fora tudo se lhes propõe em parábolas, para que olhem mas não enxerguem; ouçam mas não compreendam; não seja que se convertam e que se lhes perdoe” (Mc 4,11-12).

Em relação à prática da caridade, Jesus não generaliza:

1 - “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; que assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros. E nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”(Jo 13,34-35).

Jesus tem somente onze apóstolos com Ele e diz: “Amai-vos uns aos outros”. Não diz amem todos os judeus, toda a humanidade, todos os povos. Os outros, que Jesus não pediu expressamente para amar, reconhecerão que os apóstolos são discípulos de Jesus, não pelo fato de serem amados pelos apóstolos, mas pelo fato de os apóstolos se amarem entre si.

2 - Jesus lava os pés dos apóstolos, inclusive Judas (cf Jo 13,4-11). Nunca se diz que Jesus tivesse lavado os pés de um doente ou de um pobre. Jesus curou os doentes, mas não prestou a eles serviços além da cura. Untou os olhos de um cego com lodo feito de pó e saliva, mas mandou que ele mesmo se lavasse, em vez de lavar-lhes os olhos (cf Jo 9,6-7).

3 - “O segundo mandamento é: Ama teu próximo como a ti mesmo” (cf Mt 22,33-40). Não posso dizer que toda a humanidade seja meu próximo. É meu próximo aquele com o qual tenho algum tipo de proximidade. Não posso dizer que seja meu próximo um indivíduo que não conheço.

4 - “Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem...”(Mt 5,44). Para alguém ser meu inimigo, ele precisa me conhecer, pois, como poderia me odiar, caluniar, perseguir ou prejudicar se não sabe que eu existo. Para ter metade da humanidade como inimigo, eu precisaria ser conhecido por metade da humanidade.

Se Jesus me tivesse pedido de amar toda a humanidade, me teria pedido algo relativamente fácil. Sem nenhum esforço, eu poderia cumprir mais de 99,9999% do pedido de Jesus, porque, durante esta vida, uma porcentagem altíssima da humanidade não terá nenhum contato comigo. Amar aquele que nunca teve nem terá contato comigo é muito fácil. Jesus pede para amar a Deus, o próximo e o inimigo, exatamente aqueles que, ou por bem ou por mal, estão sempre em cima de mim.

Ao ordenar a prática da caridade, Jesus é radicalmente preciso e restritivo. A parábola do RICO E LÁZARO também confirma isto. O rico é condenado por ter abandonado Lázaro que se instalou na porta de sua casa (v 20). Em ponto nenhum da parábola, o rico é acusado por não ter assistido os pobres da região em que morava. Apesar de a parábola não afirmar, é evidente que, se o rico não assistia ao Lázaro que jazia à porta de sua casa, não assistia nem mesmo os outros pobres.

Por que, apesar de não se pedir contas ao rico pela falta de assistência aos pobres em geral, se lhe pede contas por ter abandonado o Lázaro?

Quem era este tal de Lázaro? Teria ele tido alguma relação com o rico antes de ficar doente?

Através de uma análise do personagem Lázaro e do diálogo entre o rico no inferno e Abraão na mansão dos mortos, pode-se concluir que Lázaro foi um funcionário importante do rico (administrador, mordomo ou algo equivalente):

1 - Lázaro era mendigo por estar doente, não por preguiça. É claro que o rico não iria deixar um funcionário doente, coberto de feridas, conviver com sua família por medo de contágio.

2 - Um mendigo comum não insiste em permanecer perante uma casa que não lhe dá nada, antes percorre as casas onde sabe que lhe darão alguma coisa. A parábola insinua que o rico não o socorria, mas Lázaro permaneceu à sua porta até morrer. Se, antes de adoecer, Lázaro trabalhou para o rico, não era mendigo comum. Não havendo um sistema de previdência como hoje, era obrigação do patrão socorrer o empregado doente. Por isto, Lázaro exige ajuda da casa para a qual trabalhou e não recorre às outras casas para as quais não tinha trabalhado enquanto tinha saúde.

3 - Os cães vêm lamber-lhes as feridas (v 21). O detalhe dos cães parece secundário, mas serve para comprovar que Lázaro trabalhou para aquela casa, de outra forma os cachorros não o conheceriam e o atacariam, em vez de lamber-lhes as feridas. Se um cão convive com alguém permanece amigo, mesmo que esta pessoa fique coberta de feridas.

4 - Lázaro devia exercer uma função de destaque na casa do rico, pois, se fosse um simples empregado braçal, não seria conhecido pelos cinco irmãos do rico. O rico pede a Abraão que envie Lázaro de volta para tentar converter os cinco irmãos e fala expressamente:

“Se alguém do reino dos mortos for ter com eles, converter-se-ão”(Lc 16,29b). Para que Lázaro, ao ser visto pelos cinco irmãos, pudesse ser identificado como alguém que vem do reino dos mortos, devia ter sido conhecido por eles durante a vida. Se uma pessoa desconhecida lhes surgisse na frente dizendo vir do reino dos mortos, com uma mensagem do irmão falecido, não teriam acreditado se tratar de um morto.

Em seu pedido a Abraão de enviar Lázaro à terra, o rico não fala expressamente em ajudar os pobres, mas em conversão: “Não, Pai Abraão, mas se alguém do reino dos mortos for ter com eles, CONVERTER-SE-ÃO” (Lc 16,29b). Devemos, em primeiro lugar, nos preocupar com a conversão das pessoas. Aquele que se converte praticará espontaneamente a caridade; aquele que ainda não está convertido, mesmo que ajude os pobres, não será capaz de ir além da filantropia.

código : lazaro

Ângelo José Busnardo

Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 25/09/2013
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