KARDEC E A CONSTRUÇÃO DE UMA OBRA
A doutrina espírita sempre será uma fonte inesgotável de informações e pesquisas para aqueles iniciantes que dela tem o primeiro contato como também por aqueles outros estudiosos que sempre obtém novos conhecimentos dada as várias releituras das obras que compõe todo o corpo doutrinário, filosófico e científico do espiritismo.
Segue expandindo seu espaço enfrentando preconceitos, ataques de toda espécie pela pura e simples razão da falta de conhecimento de sua história, pela intolerância daqueles que por fanatismo ou incredulidade insistem na permanência de depositarem naquilo que acreditam a mais absoluta verdade. E aberta ela está para mudanças quando novas descobertas ou pronunciamentos se fizerem desmentir aquilo de verdade que ela defende e propõe frente à quantidade de informações que hoje temos ao nosso alcance.
Algumas posições defendidas e antecipadas pela doutrina vêm se confirmando com o passar do tempo. Uma significativa corrente do pensamento humano admite, pela constatação de inúmeros fatos pesquisados e comprovados, a reencarnação, a comunicação com os espíritos, a possibilidade da vida inteligente fora da Terra.
Kardec afirmou que na confrontação com fatos comprovados pela ciência a doutrina se atualizaria, porem nos aspectos secundários, sem jamais admitir alteração em áreas intocáveis de sua estrutura básica, quais sejam: A existência de Deus, causa suprema de tudo, a continuidade da individualidade em busca da perfeição, e a reencarnação, demonstrando com isso uma grande humildade, o que para muitos de seus detratores poderia ser um “álibi”, uma saída honrosa, uma falta de convicção do que defendia.
Em toda codificação estão contidos os princípios fundamentais e as grandes idéias em constante ebulição. Um trabalho inteligente executado pela coordenação de esforços das duas esferas da vida: a material e a espiritual. Se não responde a todas as nossas indagações é porque esta busca deve ser feita por nós mesmos ante o anseio infinito que temos de nos aproximarmos da verdade que venha a satisfazer a nossa alma plena de inquietações.
O mestre de Lion recebe orientações no sentido da grandiosidade do trabalho a ser realizado e que sofreria oposição sistemática, calúnias, mentiras, preconceitos e que não estava imune ao fracasso, pois seu livre-arbítrio seria respeitado e se se recusasse diante de importante tarefa outro seria designado em substituição à sua pessoa.
Enfrentou com bravura e coragem toda a incumbência determinada pela espiritualidade. Dedicação e empenho representam sua bandeira e sempre teve a plena consciência de sua posição de coordenador do movimento isentando seu nome como “dono da doutrina” que surgia.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e as dúvidas do ponto de vista humano para que os Espíritos as esclareçam numa linguagem simples de fácil compreensão. Homem culto, inteligente, esclarecido nos aspectos religiosos e filosóficos e com inúmeras indagações sem respostas, percebe-se adentrando num mundo novo, fascinante e sem se deixar levar pela euforia, recolhe imenso material anotado metodicamente que não poderia ficar restrito a um nº limitado de pessoas e assim sob orientação dos Espíritos designados à expansão destas informações passa a elaborar toda a codificação e de levar todos estes conhecimentos à opinião pública.
A atenção de Kardec é voltada para os fenômenos descritos pelos amigos. Refratário à princípio, é levado à curiosidade inicial e reflete sobre a possibilidade da existência de uma fôrça inteligente agindo de maneira a produzir tal ocorrência. Motivado pela observação não se intimida nem se entusiasma, pois é criatura equilibrada, sensata, racional e diante da tarefa à qual é solicitado formula um plano de trabalho. Inspirado, ajudado, pelos Espíritos que se reservam à elogios, quando estes verificam pontos falhos sugere que releia o texto para que descubra por si só certos enganos. Trabalha solitária e incessantemente, sem contar sequer com alguém para possíveis sugestões, aconselhamentos. Os benfeitores espirituais somente dão devida assistência de forma restrita nos momentos em que Kardec dispõe de algum tempo de suas poucas horas de repouso, ocupadíssimo que era na batalha do seu dia dia na função de guarda-livros.
O trabalho é pioneiro, construtor de um novo caminho para a criatura seguir em direção à Deus. As arcaicas idéias religiosas, filosóficas, científicas não satisfazem mais o ser que se atormenta ansiando novas perspectivas e esperanças. A doutrina que surge oferece esta proposta; não vem combater nem tampouco eliminar qualquer conceito já existente, apenas reformular a maneira de encará-los coexistindo pacificamente com todas as diferenças.
Todos são livres para pensar, analisar, refletir, criticar e defender suas crenças, suas fé, porém Kardec sugere o desenvolvimento das convicções quando passado pelo filtro da razão. A fé raciocinada.
O tempo é curto e o mestre declina sobre o trabalho incansavelmente. O próximo passa é expor os aspectos das observações, experimentações e conclusões. O mais importante de todos está relacionado com a prática da mediunidade, mecanismo de intercâmbio com o mundo incorpóreo. Nasce assim o “Livro dos Médiuns”.
Surge a necessidade de ordenar os aspectos éticos da doutrina, e baseados nos ensinamentos morais dos evangelhos elabora o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, deixando assuntos controversos para próxima publicação com o “Céu e Inferno”, e questões científicas para a “A Gênese”.
Kardec representa o espírito reformador, ordenador, pesquisador e missionário. Venceu pelo equilíbrio, bom senso, sempre no anonimato e dotado daquela humildade que não se anula, mas vence o desafio da batalha. Sua obra, (que ele afirmava não ser dele e sim dos Espíritos), deve ser estudada em toda sua plenitude e profundidade com o Espírito desarmado e isento de preconceitos e avaliações inconseqüentes e descabidas, e nunca se esquecer de enaltecer a sua atitude diante do trabalho concluído: Um exemplo de grandeza daquele que nunca quis ser grande.