Fazer Teologia hoje: revelação, fé, método, interpretação e os princípios fundamentais da revelação cristã.
Valtivio Vieira
Formação do Autor: Curso Superior em Gestão Pública, pela FATEC – Curitiba – PR; Licenciado em Filosofia, pelo Centro Universitário Claretiano – Curitiba – PR, Licenciado em Ciências Sociais, pela UCB – Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro – RJ, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Ciências Humanas e suas Tecnologias; Contabilidade Pública e Responsabilidade Fiscal; Formação de Docentes e Orientadores Acadêmicos em Educação à Distância; Metodologia do Ensino Religioso e Pós-Graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional ambos pelo Centro Universitário Uninter – Curitiba – PR.
Curitiba - PR
2013
Introdução
O termo “teologia”, tal qual conhecemos, não se encontra explicitamente nas Sagradas Escrituras. Originalmente, deriva de dois substantivos gregos: Theós, que significa Deus; e logia, que significa “dito” ou “tratado”. Assim a Teologia é a ciência que estuda os discursos ou tratados sobre Deus e fatos a Ele relacionados.
O teólogo é aquele que fala de Deus, que fala a Deus e é, também, aquele a quem Deus fala. A teologia deve ser aceita por todas as denominações religiosas, por se tratar da explanação da Palavra de Deus, e que o teólogo não é um individuo, que se tranca em seu gabinete e “inventa” conceitos abstratos inacessíveis aos “pobres mortais”; ao contrário, é um profeta que entra na presença de Deus, discerne a Sua voz e a transmite aos homens, tal como recebeu. O teólogo está com o rebanho e não distante dele. A função básica do teólogo é ser útil à igreja em sua edificação doutrinária.
O anseio de todos que trabalham com a teologia, de forma autentica e apaixonada, é de que esta encontre o reconhecimento merecido na educação cristã; e isto se explica: para o homem, que é um ser finito, mortal e rebelado contra seu Criador, assuntos de proporções como a verdade acerca de Deus, do destino humano e do caminho para a vida eterna, jamais podem ser refutados como de pouca importância.
Fazer Teologia hoje: revelação, fé, método, inter¬pretação e os princípios fundamentais da revelação cristã.
A revelação, para o homem de hoje, não traz somente dúvidas sobre uma ou outra verdade. Ou seja, sobre a existência de anjos ou de demônios, sobre a virgindade de Maria, mas uma duvida global sobre a validade de toda a revelação. Mas devemos perceber a necessidade da fé. É preciso dizer sim a esta revelação, sem termos provas cientificas (das ciências exatas e matemáticas). A fé se baseia numa certeza moral.
Mas não é a única dificuldade que enfrenta, hoje, o estudante de teologia diante da revelação. O cristianismo procede da revelação de Cristo, que é o auge, o clímax, o ápice de toda revelação de Deus. Assim, a Igreja afirma que a revelação acabou com os apóstolos. Esta afirmação estática, no entanto, é algo que soa mal aos ouvidos do homem de mentalidade dinâmica. Ela o intranqüiliza lhe faz mal. Ele a aceita a contragosto.
A revelação é apresentada como um ato livre de Deus, no qual Ele dá a conhecer aos homens sua existência e essência, sua vontade e suas obras. Isto ele faz pela natureza: Deus pode ser conhecido como principio e fim de todas as coisas, pela luz da razão, a partir das coisas criadas. Tem-se a revelação natural. mas há certas coisas que o homem não pode atingir pela força de sua razão ou, então, as poderia conhecer com muita dificuldade. Deus intervém para lhes garantir a certeza. Essa é chamada revelação sobrenatural.
A revelação foi dirigida somente aos patriarcas (de Adão a Abraão), a Israel e ao Cristianismo. Confúcio, Buda, Zoroastro e outras grandes figuras religiosas da história não receberam a “locutio Dei”, a palavra de Deus, não podendo, portanto, ser comparados a Cristo e aos Profetas.
A revelação acabou com os apóstolos, em primeiro lugar significa que, em Cristo, temos a plenitude da revelação. È isso que nos testemunha todo o Novo Testamento. Cristo ensina com autoridade (Mc 1,22; 11,28; Lc 4,31-32; Mt 7,28-29), e não como os fariseus e demais doutores que apelam à autoridade de escolas ou de sábios e entendidos. Ele não é um dos mestres, dos professores, dos teólogos. Ele é o Mestre.
Cristo é a plenitude da revelação por ser Ele o filho único, o herdeiro (Mc 12,6) a quem o Pai tudo confiou (Mt 11,27), e que o Pai envia depois dos profetas (MC 12,6; Hb 1,1-2), é o filho amado (Mc 1,11; 12,50). “ Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,25-27).
Quanto à plenitude da revelação em Cristo, não há maiores dificuldades para os estudantes. Esta revelação do Cristo chega a nós através dos apóstolos. É uma revelação mediatizada: por meio de Cristo ordenou aos apóstolos que pregassem a todos o Evangelho (MT 28, 19-20; Mc 16,15).
Os que vieram depois não viram mais o Cristo, não ouviram mais as suas palavras, mas as ouvem pelos apóstolos. Por isso, a doutrina de que a revelação terminou com a morte do último apóstolo.
Se Cristo é a plenitude da revelação e se esta vem a nós através dos apóstolos, então nada mais lógico do que a conclusão: a revelação terminou com os apóstolos.
Significa isso que a revelação é estática, é um depósito fixo, acabado? Não. Jesus diz aos apóstolos que Ele vai ao Pai, mas que Ele mandará o Espírito Santo que vai recordar o que Ele disse, que vai introduzi-lo na verdade (Jo 16,14). Muitas coisas os apóstolos não compreendiam enquanto o Cristo estava com eles, mas quando veio o Espírito Santo, aos poucos, foram entendendo o alcance das palavras de Cristo. Quando apareceu o problema se os pagãos deviam ou não observar a lei de Moisés, o Espírito Santo os levou a compreender que não (AT 15, 4-35). No entanto, tudo já estava no acontecimento Jesus Cristo, e o Espírito Santo faz os apóstolos penetrarem profundamente neste mistério. Não se trata de uma nova revelação, mas da aceitação criativa, da reta compreensão da palavra de Deus dita, uma vez para sempre, em Jesus Cristo. Tudo isso mostra que, no tempo dos apóstolos, a revelação continuava.
A revelação continua também após a era apostólica. A história dos dogmas no-lo atesta. Em 1950, Maria é proclamada assunta ao céu. Mas há, de fato, uma nova revelação? Não. Tudo já nos foi dito pelo Pai, em Jesus Cristo, mas é o Espírito Santo que nos vai introduzindo neste mistério. A revelação de Jesus Cristo a realizou, em plenitude, por sua ressurreição e por ela começou uma nova presença. Cristo, por seu Espírito, continua a se revelar, hoje, aqui e agora.
Pode dizer que a revelação acabou com a era apostólica, enquanto no acontecimento Jesus Cristo, testemunhado pelos apóstolos, temos tudo. A revelação continua enquanto o Espírito de Cristo Ressuscitado e o Espírito Santo nos introduzem, cada vez mais profundamente, neste acontecimento.
Mas esta explicação não satisfaz ao homem de hoje. Por isso, se tenta apresentar a revelação de uma maneira mais dinâmica.
Nossa inteligência foi criada aberta para a fé, para o “conhecimento das coisas divinas” e não apenas aberta, disponível, com “potencia obediencional, como diziam os escolásticos, mas situada, potenciada, transformada pelo sobrenatural. Agora natural e sobrenatural não constituem duas dimensões paralelas, antagônicas. O dualismo entre graça e natureza é destruidor da dignidade humana, porque resvala perigosamente para o desprezo da natureza. Tudo o que ele faz se não estiver em estado de pecado, tem a dignidade e o merecimento sobrenatural.
Se a fé é um ato da vontade pela inteligência, compreende-se que quem sinceramente quer crer, já está crendo; não espere a iluminação especial, mas comece a praticar a fé e verá que esta se lhe tornará cada vez mais lúcida e saborosa. A fé se manifesta ou se torna sempre mais clara àqueles que tem a “ousadia” de abraçá-la e de vivenciá-la coerentemente. A fé é um dom de Deus oferecido a todos os homens (cf. 1Tm 2, 4), mas nem todos tem as disposições ou a liberdade interior para aceitá-la. São verdades evidentes para Deus, mas claro-escuras para nós, que temos inteligência limitada. Notemos, porém, que, se a fé ultrapassa a razão, ela não nega nem diminui; ao contrário, eleva-a um plano superior ou ao plano de Deus.
A fé decorre do fato, que deve ser exercitada, para que não se atrofie e morra. Na verdade, muitos cristãos diariamente realizam vários atos de fé, a oração é o melhor e mais rico exercício da fé.
A interpretação na teologia ocorre pela Hermenêutica, que é a ciência da teologia exegética que se ocupa da compreensão de textos e que formula, estuda e critica os métodos de interpretação e o modo de aplicá-los corretamente. O termo procede da língua grega, e traduz diversas palavras, da língua portuguesa, entre elas: interpretar, traduzir, tradução, explicar e explicação.
É possível ler um texto das Escrituras e não compreender o sentido ou a mensagem do mesmo. A leitura deve nos conduzir a uma compreensão do texto lido, e que o próprio ato de ler nos leva ao compreender e, compreender, é alcançar, através da inteligência, o significado daquilo que se está lendo. Quando compreendemos o que estamos lendo, percebemos as intenções de quem escreveu e entendemos aquilo que está contido no texto.
Uma leitura bíblica que pode ser chamada de eficaz ou cientifica é aquela que usa uma metodologia capaz de conduzir o leitor ao correto significado do texto.
Cabe a Hermenêutica explicar o texto dentro de sua dimensão gramática, histórica e teológica. A hermenêutica auxilia o estudante das Escrituras, ou da Teologia, a usar métodos de interpretações eficazes e auxilia o interprete na analise criticado texto, do método empregado e da interpretação de um estudo ou exegese de qualquer texto da bíblia.
Cabe a hermenêutica, como ciência da compreensão de textos bíblicos: compreender o sentido dentro de seu ambiente histórico-cultural, considerando as peculiaridades da gramática das línguas bíblicas, bem como da língua na qual o texto original está traduzido; explicar o verdadeiro sentido do texto, utilizando-se de todos os recursos lingüísticos, culturais, históricos e geográficos, subsidiando-se de todos os recursos explicativos possíveis (autor, audiência, condições sociais, religiosas, etc.); Transpor o abismo entre o autor, a audiência, e a cultura das Escrituras com o leitor e a cultura moderna, a fim de tornar a mensagem das Escrituras inteligíveis ao homem contemporâneo.
Em relação à interpretação teológica, compreende-se que sendo a bíblia um livro inspirado por Deus, outros recursos gerais de interpretação não são eficazes para entender as bases sobrenaturais das suas narrativas. Portanto, além dos métodos hermenêuticos anteriores, é necessário uma compreensão teológica dos textos bíblicos. Deve-se considerar também que os termos salvação, pecado, redenção, expiação e Trindade, entre outros, são vocábulos cujos conceitos interpretam-se teologicamente.
Ao estudar a hermenêutica bíblica, devem-se considerar os seguintes itens em relação às Sagradas Escrituras: a autoridade da bíblia, como procedente de Deus; a inspiração da bíblia; a revelação progressiva das verdades bíblicas; as dificuldades bíblicas;
A bíblia não é um livro hermético, fechado, enigmático; ao contrario, é uma revelação da vontade de Deus aos homens. Se por alguns momentos, um fato, doutrina, ou texto parece lançar dúvidas acerca de seu propósito ou mensagem, sem duvida, a progressividade da revelação esclarecerá o que inicialmente parecia contraditório.
Qualquer interpretação das Sagradas Escrituras precisa ser apoiada em sólidas justificativas. Entre os que estão comprometidos com o estudo sério da bíblia, dificilmente há consenso sobre qual a interpretação correta de certos textos conflitantes. No entanto, não é apenas plausível, mas também necessário que todo estudante do Livro Santo (Bíblia) e de Teologia, apresente razões para que as interpretações que sustenta.
Revelação refere-se a qualquer coisa que esteja oculta e que possa ser conhecida ou trazida à luz, podendo ser pessoas, objetos, ou até mesmo conceitos.
Nas escrituras Veterotestamentárias a palavra hebraica que traduz o termo revelação é gãlãh, esta palavra é freqüente usada para comunicar à revelação que Deus faz de Si mesmo às pessoas (Am 3.7). Por sua vez, a palavra grega apokalypsis, usada no Novo Testamento, está associada à idéia de tornar conhecido o evangelho (Gl 1.12) e o próprio Deus (Rm 1.18). Assim, as escrituras descortinam uma teologia da revelação de Deus, que estuda a revelação e a manifestação que Ele faz de Si mesmo e de sua vontade aos homens.
Segundo as Escrituras, Deus é conhecido somente através da sua auto-revelação. À parte da sua iniciativa em auto revelar-se, Deus não poderia ser conhecido pelo homem.
A auto-revelação ocorre por dois motivos: o fator implícito: aqui a revelação de Deus é motivada no próprio Deus devido a Sua natureza infinita, sendo por isso, incognoscível ao homem, ou seja, impossível de ser conhecido pelo homem tendo base seus próprios méritos intelectuais. Chama-se implícito, porque esta revelação emana do próprio Deus. Portanto, compreendemos que Deus é tão infinito, e por isso incompreensível, que se não houver revelação da parte d’Ele aos homens, jamais poderia ser conhecido.
Já o fator explicito: este fator diz respeito à limitação e vulnerabilidade do homem para conhecer Deus em sua natureza incomensurável; não parte de Deus, mas da finitude da natureza humana (Êx 33.20; Jo 1.18). O ser humano é tão pequeno diante da grandeza de Deus, que não é capaz de raciocinar sobre o Criador se não houvesse a iniciativa de Deus em imprimir nele um código de fé.
Deus deu-Se a conhecer ao homem, a fim de direcioná-lo ao objetivo central a que foi criado: conhecê-lo, amá-lo e adorá-lo (Is 43.7); Sl 22.22)
A revelação de Deus deve ser entendida como o instrumento de imediata comunicação de Deus ao homem. Na revelação, Deus ajuda os homens a compreenderem sua natureza e propósitos (Dt 4.29; Jr 33.3). Isso é verificável, pois, após a queda da humanidade no pecado, de acordo com o relato das Escrituras, os homens passaram a agir em estado de ignorância e alienação em relação à pessoa de Deus (Gn 3.1-10; 6.5; Sl58. 3). O apostolo Paulo apresenta a condição pecaminosa da humanidade nos seguintes termos: “ não há quem entenda, não há quem busque a Deus “ (Rm 3.11). Logo, os que possuem algum conhecimento de Deus e estão verdadeiramente a buscá-lo é porque, primeiramente, foram alcançados por Deus, ou seja, foram alvos da sua comunicação.
Algumas afirmações dogmáticas sobre a Revelação de Deus: As escrituras pressupõem não apenas que Deus pode ser conhecido, mas que realmente é conhecido, porque Ele se revela a si mesmo; O conhecimento de Deus, revelado ao homem, satisfaz a fome da natureza espiritual; O conhecimento de Deus, revelado resulta em adoração e obediência inteligente à sua vontade; Deus pode ser conhecido à medida que se revela a si mesmo nas suas comunicações aos homens; O conhecimento de Deus é o discernimento da natureza divina por parte do conhecedor, que fica habilitado a reconhecer as verdadeiras manifestações ou revelação da natureza e da vontade do senhor; As Escrituras ensinam a impossibilidade de se conhecer a Deus e sua natureza trascendental (Jô 11.7; 1 Tm 3.16) e a finalidade das Escrituras é a de fazer Deus conhecido por suas atividades na história e nas experiências que homens fieis tiveram com Ele (Rm 1.19)
A maneira antiga de ver representa as outras religiões como naturais, como não reveladas. Não houve “Locutio Dei”. A nova colocação, procurando sair do ghetto e influenciada por uma mentalidade mais ecumênica, aceita que todas as religiões são reveladas. Em todas elas esteve presente o Logos. Todos receberam a proposta de Deus, o impulso transcendente e eles responderam.
As duas maneiras de considerar estão de acordo em afirmar que, em Cristo, nós temos a plenitude da revelação. Sendo, ao mesmo tempo, Deus e homem, n’Ele temos a melhor proposta e a melhor resposta. Mas há um modo diferente de enfoque como a revelação continua. O modo antigo acentua que a revelação acabou com os apóstolos. Há uma continuação sim, mas do implícito ao explicito. Somente um aprofundamento. Calca-se demais sobre o depósito, o elemento estático. A maneira nova acentua que a revelação continua pela história, pelos sinais dos tempos, pela consciência.
O Antigo Testamento e o Novo Testamento são normativos enquanto eles são uma resposta tão boa à proposta de modo que se tornaram modelo como nós, hoje, devemos dar a nossa resposta a Deus. Esta posição nos faz compreender melhor erros morais, históricos ou geográficos na Sagrada Escritura, pois é também uma resposta humana. Por outro lado, chega-se facilmente a uma relativização demasiada da Sagrada Escritura, certamente não intencionada pelos defensores da nova posição, embora se diga que ela deva julgar se os sinais dos tempos são, de fato, a voz de Deus ou simplesmente vozerio humano e se aquilo que a consciência diz vem, de fato, de Deus, ou de uma carga atávica acumulada em seu inconsciente pessoal e coletivo, ou da família e sociedade. É importante que o homem de hoje, da maquina, da técnica, descubra a Palavra de Deus no dia-a-dia, nos momentos de tragédias.
Cristo é o auge da revelação e o ato revelador por excelência é a sua ressurreição. Por ela, Cristo está presente, de maneira especial, no cosmos (Cristo cósmico), na sua Igreja, nos sacramentos, no ligar a Bíblia à vida. Somente quem vive em intima união com o mistério, os sacramentos, recebe a revelação. A Eucaristia é o sacramento por excelência e, portanto, a revelação por excelência. Somente o homem possuído pelo Cristo e seu Espírito, vê as coisas com os olhos da Sagrada Escritura. Somente este homem vai conseguir ligar a Bíblia à vida. Somente quem vive em intima união com o mistério, somente quem vive a partir do mistério verá, em tudo, a diafania de Deus, Deus continuando a se revelar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ato de fé é ato livre, não somente porque deve ser isento de qualquer coação externa, mas também porque o objeto da fé não é evidente por si, é sempre claro-escuro (Deus Uno e Trino, Jesus Deus e homem). Na falta de evidência o intelecto não é obrigado a dizer sim; ele somente o diz se à vontade o move. Por isto o ato de fé é ato da inteligência movida pela vontade; esta, por sua vez, somente aceita crer se está livre das paixões desregradas ou se a vida afetiva do sujeito não é obcecada por preconceitos que se oponham as verdades da fé.
Donde se vem o ato da fé mobiliza a pessoa como um todo, depende não somente do conhecimento, mas também da liberdade interna de cada individuo. Assim vemos como abraçar a fé está ligado à vida moral da pessoa, está tão ligado que mesmo uma pessoa de fé, se vem a relaxa em sua vida moral, pode ir perdendo a fé aos poucos, para aderir a uma outra “filosofia” que justifique a sua vida relaxada. Quem não vive como pensa, acaba pensando como vive.
Há uma forte tendência no meio cristão de não apenas diminuir o valor do ensino teológico; procuram ainda ignorá-lo de todo, julgando como algo desnecessário ou até mesmo inútil. No entanto, insistimos em afirmar que o ensino teológico é imprescindível ao ser humano na busca de respostas para questões elementares, como por exemplo: Quem sou eu?; De onde vim? E Para onde vou?.
Parte-se da premissa que convicções firmes, produzem um caráter firme; uma crença bem definida produz uma convicção bem definida. Tal qual a espinha dorsal é a parte fundamental do corpo, do mesmo modo um sistema definido de crença é parte imprescindível na religião.
Destaca-se pelo menos três razões por que a teologia e seu estudo são importantes: porque fala de Deus e dos fatos a Ele relacionados; Porque esclarece como o homem pode reatar e estreitar seu relacionamento com Deus e Porque instrui, de maneira sistemática, como agradar a Deus e fazer a Sua vontade.
Não é errado dizer que, é mais urgente viver a vida cristã do que simplesmente conhecer as suas doutrinas; porém, ressalta-se que não pode haver experiência cristã enquanto não houver conhecimento das doutrinas cristãs.
Para os que resistem o estudo das doutrinas bíblicas, ou seja, à teologia, dizemos que até é correto pensar que as estrelas surgiram antes da astronomia, qua as flores existiram antes da Botânica, que a vida existia antes da biologia, que Deus existia antes da teologia. Entretanto, os homens, num estado de ignorância, desenvolveram idéias supersticiosas em relação às estrelas, e o resultado foi a pseudociência da astrologia. O mesmo ocorre em relação às plantas, conferindo-lhes poderes que não possuíam, e o resultado foi à feitiçaria. Finalmente, em função de idéias distorcidas a respeito da Pessoa de Deus, formulou-se conceitos totalmente opostos às Sagradas Escrituras, e o resultado não poderia ser outro senão as heresias.
O homem evoluiu nos seus conceitos acerca das coisas e então surgiu a astronomia com suas verdades plausíveis acerca dos corpos celestes e somente então pode desmoralizar os mitos astrológicos. A botânica surgiu para que fosse possível realizar estudos comprobatórios acerca das plantas, e vários mitos defendidos na feitiçaria foram desmoralizados. Com a teologia não foi diferente, haja vista que o estudo minucioso das verdades bíblicas depurou as falsas idéias difundidas acerca de Deus e de seus caminhos.
Diante do exposto, descreve-se pelo menos quatro quesitos que justificam a necessidade da teologia: É um instrumento apologético muito eficaz no combate ao erro; Desenvolve o caráter cristão e prepara o estudante para o santo oficio da Palavra e o conhecimento doutrinário é uma parte do equipamento de quem ensina a palavra de Deus.
REFERENCIA:
BANCROFT. Emery H. Teologia elementar. 6. ed. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1989.
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras. São Paulo: Vida Nova, 1992.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz para o Caminho, 1990.
BIBLIA SAGRADA. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
BRAATEN, Carl. Dogmática Crista. São Leopoldo: Sinodal, 1990.
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
WILEY, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.