SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO – UMA INTRODUÇÃO

Valtivio Vieira

Formação do Autor: Curso Superior em Gestão Pública, pela FATEC – Curitiba – PR; Licenciado em Filosofia, pelo Centro Universitário Claretiano – Curitiba – PR, Licenciado em Ciências Sociais, pela UCB – Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro – RJ, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Ciências Humanas e suas Tecnologias; Contabilidade Pública e Responsabilidade Fiscal; Formação de Docentes e Orientadores Acadêmicos em Educação à Distância; Metodologia do Ensino Religioso e Pós-Graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional ambos pelo Centro Universitário Uninter – Curitiba – PR.

Curitiba - PR

2013

INTRODUÇÃO

Para Marx, a religião nasce da miséria e, além disso, ajuda a manter o estado da miséria. As classes pobres deixam de viver esta vida concreta, para viver uma outra, a espiritual, que não existe. É neste contexto que devemos entender a religião enquanto ópio do povo: ela anestesia as massas populares e evitam insurreições e outras espécies de rebeldia.

Em relação, a religião e sociedade, Max Weber, mais precisamente na sua obra: A ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, a interpretação do processo de racionalização ganha um sentido mais nítido quando Weber se propôs a estudar a esfera religiosa. Mais especificamente, o autor tinha um especial interesse na forma como certas seitas religiosas do Ocidente conduziram à racionalização das condutas dos fieis considerando-as como um dos fatores possíveis na transformação das práticas econômicas e na constituição da estrutura das sociedades modernas.

Para Durkheim, a essência da religião está na separação entre o sagrado e o profano. A parte sagrada constitui-se de crenças e ritos que formam aquilo que denominamos religião, e o profano e as praticas da vida cotidiana, a economia e até mesmo a família.

Mircea Eliade, enfatiza a realidade diferenciada do sagrado como oposição ao profano e que se distingue deste último qualitativamente, visto que remete às relações simbólicas com os quais o homem religioso impregna de significados o mundo.

Segundo Berger, os grupos religiosos transforma-se em monopólios em competitivas agências de mercado. Já a religião para Bourdieu é vista como sistema simbólico.

SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO – UMA INTRODUÇÃO

A Sociologia é a ciência que estuda a sociedade, e a religião faz parte da sociedade, desta forma a sociologia realiza a pesquisa e o estudo da religião, e destacam-se alguns sociólogos no processo de estudo sobre as manifestações religiosas.

Karl Marx nasceu em 5 de Maio de 1818, em uma família judia convertida ao protestantismo, na cidade de Trier, região da Renânia, e morreu em Londres, em 14 de Março de 1883.

Estudou Direito na Universidade de Bonn e doutorou-se em Filosofia na Universidade de Berlim. Nessa universidade, mediante a influencia da Filosofia Clássica Alemã, mais precisamente do pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) e dos chamados jovens hegelianos de esquerda, particularmente Bruno Bauer (1809 – 1882), Marx escreveu, em 1841, uma tese de Doutorado sobre as Filosofias da natureza de Demócrito e Epicuro, filósofos materialistas da Antiguidade.

Para Marx, quando um Estado não se separa da religião, fundando uma teocracia e não uma república laica, não se estaria obstruindo sua racionalidade?

Karl Marx denuncia o caráter alienante e escravizador da religião, para ele, a miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É ópio do povo.

Marx quer demonstrar que a alienação religiosa é conseqüência da alienação terrena, material-econômica. Marx tenta explicar que a religião faz parte da superestrutura e que sustem o estado de coisas existente. “Bem –aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Lc 6,20).

Podemos nos perguntar: se os padres inventaram a religião, quem inventou os padres? Quanto ao Marxismo: não é um ópio ainda pior? A religião deixa viva esperança num mundo melhor, no além. O marxismo não dá esperança nem para este (paraíso terrestre que nunca se realiza), nem para outro mundo.

Karl Emil Maximilian Weber, mais conhecido como Max Weber, nasceu em 1864, na cidade de Erfurt, na região da Turíngia, sendo primogênito de oito filhos. O pai de Weber era de uma prospera família fabricante de tecidos, composta de refugiados luteranos do Império Austríaco.

Tornou-se um advogado bem-sucedido, tido como um homem pragmático e acomodado, de tendência política monarquista e adepto do nacionalismo e do militarismo. Sua mãe era de uma família de refugiados religiosos, no caso, calvinistas, e também próspera economicamente. Era uma mulher extremamente devota, que queria imprimir em seu primogênito uma concepção severamente protestante do mundo.

Em todas as religiões há uma técnica de salvação que garante aos fieis mais qualificados ou devotados um renascimento, por meio de uma luta contra os apetites ou afetos da natureza humana: ética de virtuosos.

Em seu livro: A ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, Weber tomou como um desafio interpretar a arrancada do processo de modernização ocidental, argumentando a partir de uma tese central: a de que as idéias puritanas, representadas pelas religiões protestantes

Religiões protestantes teriam influenciado o desenvolvimento do capitalismo moderno. Ou seja, investiga tanto as razões do capitalismo haver se desenvolvido inicialmente em países com forte presença do protestantismo, como fato de parcelas significativas dos mais prósperos trabalhadores qualificados e empresários professarem algumas das variadas seitas protestantes.

Por sua vez, é importante lembrar que esse moderno capitalismo, objeto de investigação construído por Weber, constitui-se sob a dominação racional-legal e seus desdobramentos efetivos na orientação da conduta.

No entanto, a moderação do consumo, o incentivo à poupança, a contabilidade racional, o balancete ao final do mês, a maximização de lucros através do planejamento, entre outras ações racionais, não teria nascido junto com a expansão monetária.Isto é, não é mera expansão do comércio e da industria, por si só, que cria o capitalismo.

Melhor ainda, na interpretação de Weber, esse “espírito” do capitalismo teria sido influenciado, na origem, pela “ética vocacional do protestantismo ascético”. Essa ética teria permitido o avanço da secularização da vocação ao trabalho, repudiada, por exemplo, pela Igreja Católica, que incentiva somente o sacerdócio e o mosteiro como instrumento de salvação. Ao mesmo tempo, teria coibido a propensão ao consumo desenfreado do homem, característica presente em todas as sociedades. A avidez pelo ouro, a ganância, a especulação e o oportunismo sempre existiram, mas foram consideravelmente reduzidos sob o capitalismo, porque já haviam sido alvo de ataques pela religiosidade puritana.

Em diversas seitas protestantes, o fiel, independentemente de sua condição financeira, para estar seguro quanto à salvação, deveria trabalhar sem descanso em nome de uma vocação, ou de um chamado divino. Pelo qual glorificava a Deus por meio de sua atividade produtiva.

Essa ética protestante, que via o trabalho humano como manifestação da glória de Deus, abnegada de suas conseqüências econômicas, representou os anseios que mais tarde norteariam os homens de negócios, os empresários, os técnicos e demais administradores, os trabalhadores urbanos e mesmo a parcelas do campesinato.Nesse sentido, a Reforma protestante teria sido responsável por um dos maiores impulsos racionalizadores a que o homem pode presenciar, embora não tenha tido como objetivo promover o capitalismo. Pelo contrário, a riqueza era, aos olhos de Lutero e Calvino, algo pernicioso, dificultando a solidariedade comunal ao favorecer o individualismo. Contudo, Weber dá a essa aparente contradição uma resposta sociológica, diferenciando dois momentos de uma ação social: entre a teoria oficial e a conduta efetiva, há uma longa distância. Muitas vezes, o resultado de uma ação não condiz com a sua intenção original. Um determinado principio valorativo pode ter efeitos contrários aos esperados.

Emile Durkeim, pensadores mais influentes do pensamento sociológico. Nascido em 15 de Abril de 1858 (Epinal – Lorraine), era o mais novo de cinco filhos de uma família originária da Alsácia. Seu pai, Möise Durkheim, era rabino de Epinal e se responsabilizou pela educação religiosa de seus filhos.

As questões referentes às forças anômicas que pesam sobre os indivíduos foram retomadas na obra publicada em 1912, As Formas Elementares da Vida Religiosa. Nessa obra, o autor toma como objeto de analise a religião, para demonstrar que esta não remete apenas e unicamente à crença num deus, mas em um sistema de crenças e praticas instituídas socialmente. Nesse sentido, as crenças e praticas religiosas somente adquirem forma numa sociedade que lhe atribui um sentido. A religião é vista acima de tudo como um fenômeno coletivo. Ainda que possamos afirmar que este trabalho seja um estudo sociológico da religião, ou até mesmo um teoria geral da religião, o autor elabora uma teoria sociológica do conhecimento, no qual mostra como o homem produz interpretações que lhe permitem compreender e interpretar seu mundo.

Partindo daquilo que considera a mais simples e mais primitiva manifestação religiosa, o totemismo, o autor afirma que é possível fundamentar uma teoria geral das formas religiosas superiores a partir do estudo das manifestações religiosas primitivas.

Para Durkheim, a religião não se refere a crenças num ser sobrenatural, mas acima de tudo refere-se a um sistema de crenças e práticas sociais. Se no totemismo os homens cultuam a propriedade através do sagrado o mesmo pode acontecer em sociedades modernas quando há estados de tensão ou fragilização da ordem social.

Para Durkheim, na sua teoria sociológica: o individuo tem o sentimento de uma profunda dependência em relação à sociedade.Ela lhe concede tudo. Ela lhe concede a cultura, a civilização; ela é a lei do seu pensamento, principio de sua ação; ela cria o fenômeno religioso. Cônscio de sua dependência, o homem começa aderir à sociedade fazendo dela uma divindade. Quer dizer que o homem projeta para o além, numa divindade, o seu sentimento de dependência da sociedade. O homem é anterior à sociedade. Se a religião fosse contra a natureza do homem, ela não poderia subsistir. Ela já teria desaparecido.

Mircea Eliade, enfatiza a realidade diferenciada do sagrado como oposição ao profano e que se distingue deste último qualitativamente, visto que remete às relações simbólicas com os quais o homem religioso impregna de significados o mundo. Desse modo, o homem percebe o sagrado, pois este é um ato de manifestação simbólica do transcendente. O autor indica o termo hierofania, que corresponde à própria revelação de algo sagrado e possui um quadro de referencia abrangente, pois indica tanto a sacralização de todo e qualquer objeto, como a manifestação do transcendente pessoal. Então, o sagrado impõe a assertiva da manifestação de uma ordem diferente, de uma lógica que não pertence a este mundo, e essa diferença contextualizada constitui o dilema pelo qual percebe-se o sagrado.

A manifestação do sagrado transforma qualquer coisa em outra coisa, qualquer ser em outro ser: além de encontrar uma ordem distinta em toda relação com o mundo. Fundamentalmente, as coisas ditas sagradas são outras, muito embora permaneçam as mesmas.

Deste modo, o sagrado e o profano seriam duas modalidades de existência assumidas pelo homem na sua historia. São, pois, maneiras de ser no mundo e no cosmos e, por isso, a referência do sagrado posiciona o homem diante de sua própria existência, razão pela qual, de modo abrangente, a reflexão sobre o sagrado interessa tanto às ciências humanas como a filosofia.

Para Eliade, a manifestação do sagrado contribui para uma nova semântica de relações, assim caracterizada: O homem religioso imprime ao mundo sensível uma descontinuidade que reclassifica qualitativamente os objetos e ao sacralizar o mundo, o homem religioso atribui a significação plena de um espaço sagrado em oposição a todo o resto, como sendo sem forma e sentido.

Ao delimitar conceitualmente o sagrado, Eliade busca uma estrutura e uma morfologia baseadas em uma gama diversificada de sacralidade ou fatos santos. Assim, segundo ele, a diversidade de expressões do sagrado torna relativo o conceito de hierofania, o qual somente é delimitado porque toda e qualquer hierofania é histórica. Muito embora separadas pelo contexto único de cada momento na história, as hierofanias possuem escalas de abrangência do local ao universal.

Berger, sendo italiano de nascença, mas criado na Áustria, em Viena, mas toda a sua formação acadêmica ocorreu nos Estados Unidos. Berger em sua teoria são influenciadas pelo pensamento de Marx, Durkheim e Weber.

Segundo Berger, os grupos religiosos transforma-se em monopólios em competitivas agências de mercado. Berger destaca que as religiões adaptam suas mensagens para atrair e encantar a clientela. Neste sentido, há uma forte tendência do ecumenismo, assim como existem empresas do mesmo ramo e que atarem clientes.

Para Berger, a religião foi aprendida como sistema simbólico ou superestrutura ideológica, tendência que revela uma secularização desse campo e um crescente distanciamento do sagrado como categoria de análise.

Para Berger, a relativização da perspectiva de hegemonia do processo de secularização reside no fato de que, em escala global, o processo ocorrido na Europa Ocidental não é um paradigma no mundo.Todavia, aquilo a que assistimos durante a década de 1990 representa muito mais um reavivamento da religião. O fenômeno adquiriu varias nuanças, como a desclericalização na Europa, a revolução islâmica no Irã em 1978, e expansão islâmica na África, a mundialização do budismo com seu crescimento no Ocidente, o aumento dos movimentos cristãos fundamentalistas, de um lado, e de religiões universalistas como a fé bahá’í de outro.

A religião para Bourdieu é vista como sistema simbólico, pois, a mesma não se restringe a uma modalidade social, mas, além dessa premissa, também se configura como um sistema simbólico reunido em torno da experiência do concreto, não somente na dimensão da sociedade, mas também na de cada individuo.

Bourdieu lembra que a semiologia trata todos os sistemas simbólicos como apenas instrumentos de conhecimento e comunicação. No entanto, cabe ressaltar que essa premissa restringiu-se ao campo fonológico da língua e, nesse sentido, há o perigo de impingir ao objeto uma teoria da função, de articulação lógica e social de representações coletivas e, principalmente, formas de classificação religiosa.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Para o Marxismo, a religião é a superestrutura do poder econômico. Existe o capital e este precisa defender-se. Para isso existe o exercito, a policia, o estado e a religião. Por isso ela é contra o povo. A religião diz: é preciso obedecer ao estado, ao patrão, mesmo que eles nos explorem. Não se deve revoltar, mas é preciso obediência e paciência, depois, no céu, Deus vai recompensar. Nada de luta de classes. Por isso, a religião é o ópio do povo. O progresso do Socialismo acabará, necessariamente, com a religião.

Como analisou o sociólogo alemão Max Weber, em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, haveria inclusive uma relação entre essa ética – que valoriza o trabalho e a busca da riqueza -, e o desenvolvimento do capitalismo nos países onde predominava o protestantismo. Mas esse sentido de trabalho ficou restrito as classes que conseguiram acumular capital e investir nas atividades produtivas.

A religião para Durkheim é um sistema solidário de crenças e de praticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas: crenças e práticas que unem numa mesma comunidade mora, chamada igreja, todos os que a elas aderem.

Mircea Eliade enfatiza a realidade diferenciada do sagrado como oposição ao profano. O sagrado impõe a assertiva da manifestação de uma ordem diferente, uma lógica que não pertence a este mundo, enquanto o profano, por sua vez, é o que não é religioso ou o que não tem propósito religioso. Portanto, o sagrado e o profano seriam duas maneiras de existência do homem.

A contribuição de Bourdieu, por sua vez, na formação de um campo religioso com especificidades próprias e de certo modo típicas e autônomas, relaciona-se diretamente à ligação entre o desenvolvimento e a racionalização das religiões universais e o processo de estruturação da cidade moderna e da vida urbana.

Diferente de Eliade, que descreve sobre o sagrado e o profano, Bourdieu descreve como ocorre a gestão do sagrado.

REFERENCIA

BITTENCOURT, Estevão. Ciência e Fé na história dos primórdios. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1995

BIBLIA SAGRADA. São Paulo: Edições Loyola, 1994.

DAMIÃO, Valdemir. História das Religiões: sua influência na formação da humanidade. Rio de Janeiro: CPAD, 2003

ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: M. Fontes, 1995.

FILHO, Sylvio Fausto. Espaço Sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: IBPEX, 2008

MATHER, George A.; NICHOLS, Larry A. Dicionário de religiões, crenças, e ocultismo. São Paulo: Vida, 2000

Valtivio Vieira
Enviado por Valtivio Vieira em 18/09/2013
Código do texto: T4487308
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