“Cântico dos cânticos” e sua análise oculta
 

 
“Eu sou morena, mas formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão”. (Cant. 1:5)
“Eis que é a liteira de Salomão; estão ao redor dela sessenta valentes, dos valentes de Israel, todos armados de espadas, destros na guerra, cada um com a sua espada a cinta, por causa dos temores noturnos”. (Cant. 3:7-8)
“Há sessenta rainhas, oitenta concubinas, e virgens sem número. Mas uma só é a minha pomba, a minha imaculada; ela e a única de sua mãe, a escolhida da que a deu à luz. As filhas viram-na e lhe chamaram bem-aventurada; viram-na as rainhas e as concubinas, e louvaram-na” (Cant. 6:8-9).
 
 


            O livro do “Cântico dos cânticos” é muitas vezes pouco estudado, sendo apenas atribuído a uma referência ao casamento, e na relação entre Deus e Israel, ou a Cristo e sua Igreja. Também os personagens são atribuídos a dois ou três, a bela donzela e sua paixão por Salomão, ou, entre três personagens, que seria a donzela, seu amado, pastor desconhecido e Salomão narrando, como um poeta. Vemos que talvez uma interpretação que ninguém se refere é que essa mulher seja apenas símbolo da sabedoria, e daí a mais bela e desejada. Sendo ainda escrito por Salomão (ou copiado...) e assim de um homem que buscava acima de tudo a sabedoria. Suas inumeráveis esposas e concubinas o deixariam entretido, e não vejo que estaria correndo apaixonado atrás de uma trabalhadora rural de vinhas. E claro fica que o texto se refere não a carnalidade de Salomão, mas as ordens de anjos, e por isso do elevado número de “soldados” e “mulheres”, e de sua lembrança. Mas é a escritura sagrada mais bela.
            Peimeiro que um livro chamado “Os originais da Bíblia”, lembra que a tradução original talvez seja “preta” em vez de morena, e assim um amor inter-racial. Também aqui nesse livro há poemas de casamento da Síria, onde tal cerimônia durava em torno de 7 dias, então lá populares. E comparar uma bela jovem a uma égua do faraó é algo bem cultural de uma época, semelhante às comparações atuais de uma bela mulher a uma máquina automobilística. O nome original é “Shir ha Shirim”. A palavra para beleza em hebraico, “hadar” pode ser também por troca de letras significar “que habita”, segundo livro judaico Sepher ha Bahir.
            Já no livro do Zohar, a respeito de cabala, vemos as passagens onde há a referência aos 60 soldados ou 60 rainhas, 80 concubinas etc, como uma forma de falar dos anjos. Também quando se fala nas oitenta concubinas, e assim caminha uma visão mística desse texto. Para tanto, 60 miríades de anjos, ou de nefilim ou gigantes. Salomão significa Rei da Paz, e certos escritos não judeus falam de que é “portal para o Sol”. E vinhedo é Israel, conforme Isaías 5:1-3, sendo a nascente fechada, as águas do firmamento mais alto, onde as águas se congelam, e onde repousa sobre as cabeças das “bestas santas” (hayot), ou os anjos, as rodas de Ezequiel e semelhantes. Também no versículo 11 do capítulo 6, fala-se na vinha que cresce como os espíritos sensuais, ou qliphot, espécies de demônios que ocultam a luz, os habitantes da árvore do bem e do mal. O número de 60 então são os anjos de geburah, ou da dimensão da justiça de Deus. As 80 concubinas se refere aos demônios, que fazem um trabalho de certo ocultamento da luz, estão na esquerda ou “outro lado”. A pomba se refere a virgem, a Presença Divina, ou Shekinah. Um termo simples como a própria Sulamita, nada mais é que o mesmo nome Salomão com certa adição de letras (Shelomo-Shelomith).
            O texto ganha muitas vezes uma dimensão tântrica, ou mesmo gnóstica, então de uma espiritualidade sexual. As concubinas significando em muito certa fornicação, pelas qliphot, que seria o que na Idade Média era tratado como súcubos, espécies de vampiros sexuais. Também lembra muito o Imperador Amarelo, e suas experiências com essa energia da vida, também o qual possuía muitas esposas. Fato é que esse teatro descrito no livro tem muito mais que uma mera relação de paixão, casamento ou mesmo divina e “distante”. Assim a regra deveria ser certa castidade onde existe algum “amor” intocado, e para aquele que busca a sabedoria como Salomão, a compreensão talvez esteja no Sol, que dá a energia vital e certo princípio que não deve ser abusado. Também um livro que só era permitida a leitura em idade madura, assim como Ezequiel, entre os estudos judaicos. O motivo talvez seria não confundir a espiritualidade com sensualidade. Vale que o Cântico dos cânticos é a escritura sagrada mais bela, e que é também “habitação” a aquele que busca a sabedoria.