1 Coríntios 1, 13
O capítulo 1, versículo 13 da Carta de Paulo aos Coríntios é uma das partes mais conhecidas e mais belas do Novo Testamento. Constantemente podemos ver entre os artistas o uso dessa passagem, mais popularmente na canção "Monte Castelo" de Renato Russo.
É certo que a canção não fez com que a passagem ficasse mais linda, ela é linda por ela mesma, pois é um momento de muita inspiração por parte de Paulo. Não conheço pessoa que se depare com esse pequeno pedaço de texto da carta de Paulo que não se emocione.
Bem, e do que se trata 1 Coríntios 13? Em uma palavra: amor. Sim, simplesmente de amor. E isso depois do apóstolo no capítulo anterior ter discorrido sobre a diversidade de dons espirituais que Deus distribui entre os cristãos. Todos os dons estão atrelados ao amor. Os dons têm sua validade no amor. É como se o amor fosse o selo de certificação do dom. Em outras palavras, o dom pode até existir, mas não ter autenticidade.
O interessante também em 1 Coríntios 13 é que o apóstolo não só relaciona os dons mencionados no capítulo anterior, mas ele também se refere a atos, a ações que chamamos de caridade. Um exemplo encontra-se no versículo 3: "Ainda que eu dê aos pobres tudo que possuo (...), mas não tiver amor, nada disso me valerá" (Estou usando a Bíblia na Nova Versão Internacional - NVI). Eis uma situação interessante, quer dizer que se alguém doar todo seu dinheiro aos pobres isso não é prova de um ato de amor? A doação de uma fortuna aos pobres não autentica o amor, não revela o amor? A pessoa que abre mão de sua riqueza para satisfazer as necessidades dos mais carentes pode não ter o amor como motivação?
Vejo mundo afora muitas organizações governamentais e não governamentais preocupadas com os desvalidos do mundo. Vejo indivíduos, grupos religiosos e não religiosos que se dedicam em amenizar as dores dos mais necessitados. E isso pode não ser uma prova de amor. Sim, pode ser. Muitas ações de caridade visam uma auto-promoção, uma auto-vanglória. Vejo isso muito entre grupos espiritualistas e cristãos em geral. Os primeiros costumam acusar os cristãos de não se preocuparem com o próximo. E para os espiritualistas em geral a religião (ou qualquer outro nome que eles deem) é o amor ao próximo. Bem, o amor ao próximo é mandamento para todos. Só que a maioria das pessoas que professa esse mandamento não sabe o que é o amor. Por isso o apóstolo escreveu 1 Coríntios 13.
Quando as caridades são usadas como disputas perdem sua validade. No versículo 4, o apóstolo escreve: "[O amor] não inveja, não se vangloria, não se orgulha". Se as ações de caridade têm por motivação, inveja, vanglória, orgulho, são anuladas, não têm proveito algum. Elas são "como o sino que ressoa ou como o prato que retine" (V. 1). A motivação da caridade tem que ser o amor. E o amor não são os atos. O problema é que invertemos a lógica do amor. O amor não é gerado pelos atos, é o amor que gera os atos. Melhorando, os atos autênticos de caridade são gerados pelo amor. Por isso é necessário toda vez que fazermos alguma ação de caridade meditemos sobre a motivação dessa ação. O que nos motiva? Estamos sendo impelidos pelo amor para amar? Ou estamos usando máscaras de amor para disputar quem ama mais?
Para encerrar. O apóstolo Paulo que quando vier o que é perfeito entenderemos tudo de maneira perfeita. Conheceremos a Deus como Ele nos conhece. No entender do apóstolo o amor é Deus, o amor tornou-se carne no Filho de Deus, Jesus. A carta de Paulo é para todos aqueles que professam sua fé e esperança em Jesus. E ele quer dizer para a igreja que todas as suas ações de caridade têm que ser motivadas pelo amor, ou seja, por Jesus. Se todas as ações não tiverem como fundamento Jesus elas de nada valem para Deus. Elas não passam de auto-promoção, de inveja, disputas, etc. Em resumo, se as pessoas querem conhecer o que é o amor, primeiro devem conhecer a Deus, pois todas as práticas bondosas não podem revelar o verdadeiro amor. Mas só o verdadeiro amor pode garantir ações autênticas de caridade.