Onde está Deus?

Aos 37 anos ainda faço perguntas como se fosse uma criança em fase de descoberta. É como minha filha de oito anos, por exemplo, que certa vez fez um questionamento simples, dizendo que não entende serem as coisas mais gostosas as que mais fazem mal. Se Deus criou tudo, e isso inclui as comidas, por que não acontece o contrário?

As frases do tipo “Deus sabe o que faz”, “foi melhor assim”, “Deus opera em silêncio”, “Não se apresse, Deus tem o tempo certo...”, “a demora é porque Deus está preparando o melhor pra você”, muitas vezes não se aplicam. Se pensar assim, passo a me sentir um boneco, preso a cordas como uma marionete, e o que eu tiver que viver será o que Ele definir pra mim.

Mas, se Ele me deu inteligência, e discernimento para fazer minhas escolhas, sou livre para fazer o que quiser. E se eu tivesse sido criada por uma família que não acreditasse em força superior, e não tivesse me passado ensinamentos religiosos, eu não viveria? Não haveria vida sem Deus?

E se a vida nada mais é que uma passagem, por que não posso viver sem o medo do castigo, aceitando a dor com resignação, como um meio de evolução espiritual ou preparação para o outro plano (a vida eterna), onde está minha liberdade de filha Dele?

Não são poucas as dúvidas que tenho com relação à existência de Deus. Que sacrilégio! Tenho meus questionamentos, e alguns momentos que posso considerar repletos de revolta.

Cresci ouvindo minha mãe dizer que a Ele pertence o nosso destino. E que, bem assim como diz a Bíblia, “viemos do pó e ao pó voltaremos”. É como se a vida a mim não pertencesse. O que vivo, seja bom ou ruim, deve ser atribuído a Ele. Acontecimentos ao longo da minha trajetória têm me feito render louvores e glórias ao Seu nome. Agora, por exemplo, vivo uma fase maravilhosa (só falta eu me casar, rs) mas algumas perdas me fizeram sofrer buscando explicações que eu não sei se existem.

Ao falecer a minha mãe, há alguns anos, não entendi o que os firmes em sua fé me diziam. Acreditavam no reencontro. Diziam que Deus sabe o que faz, e que a morte era o fim daquela dor que matava minha mãe há meses, para que sã renascesse no outro mundo, naquele em que não haverá nem pranto, nem dor, nem morte.

E eu me perguntava por que essa era a melhor solução. Não seria também uma saída a cura, nesse plano? Diante de tanto poder de decisão, minha mãe poderia ter se curado do câncer que a levou e hoje estar com seus cabelinhos brancos, vivendo a alegria dos netos e dos bisnetos, em meio aos seus nove filhos.

Tenho medo de declarar essas coisas. Há pessoas que se benzem, como se eu estivesse cometendo algo merecedor de castigo. Mas, se Deus existe, sabe que não estou fazendo maldade alguma, não quero confrontá-lo, apenas busco o entendimento.

“Ele conhece o meu coração”.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 25/07/2013
Reeditado em 25/07/2013
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