FÉ E RAZÃO

Dou início a este artigo falando, sucintamente, do exagero da fé. Veja que com base na fé se dizia, até o início do século 17, que a terra não se movia ao redor do sol, mas era este que se movia ao redor da terra; até que veio Galileu Galilei (1564-1642) e provou que Nicolau Copérnico estava certo quando disse que a terra girava ao redor do sol (teoria heliocêntrica), e por causa dessa verdade científica acabou sendo condenado pelo Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição) a abjurar publicamente as suas ideias e à prisão por tempo indefinido.

Em nome da fé, vemos, no Paquistão, a existência de crianças-bombas que são iludidas pelo talibã com uma série de “prazeres celestiais” como recompensa pelo “sacrifício”, onde é dito para elas que “no céu elas viverão em meio a festas, e na companhia do Santo Profeta”.

É com base nessa mesma fé cega que a Al-Qaeda, do falecido Osama Bin Laden, cometeu o ataque suicida de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas, na cidade de Nova York; e alimenta o seu exército de homens-bombas e de terroristas suicidas, os quais continuam ainda, mesmo após o seu falecimento, a ser uma ameaça à paz.

Em nome de Deus muitos são enganados e ludibriados por falsos profetas que usam o nome santo de Deus para se enriquecerem.

Em nome da fé muitos vivem acorrentados e acham que precisam de intermediários que orem e roguem por eles, quando o certo é que tudo isso pode ser feito diretamente a Deus; e muitos são, ainda, ameaçados de irem para o inferno se não pagarem seus dízimos.

Sei que em nome da fé ocorrem muitas coisas maravilhosas, e que todos esses deslizes e absurdos foram ou são consequência de uma fé cega, que é condenável e deve ser reorientada em direção ao conhecimento da Verdade.

O EXAGERO DA RAZÃO.

Há, por outro lado, aqueles outros que, negando a existência de Deus, usam – ao contrário – somente a razão e pensam que só a ciência explica tudo e é a detentora da verdade.

É o caso, por exemplo, do cientista Richard Dawkins, autor do livro “Deus, Um Delírio”, através do qual ele ataca e agride todos os crentes dizendo que as ideias religiosas são ridículas ou perniciosas e que Deus é um delírio, e que a religião leva à violência, é anticiência e ensina uma crença totalmente irracional.

De uma parte há muitos cientistas que alimentam essa ideia, esquecendo-se de que as grandes questões da vida permanecem sem respostas e que a ciência, a par de todo o seu progresso, tem sim seus limites em razão de haver perguntas que ela não pode responder.

Mas, há também – de outro lado – muitos cientistas que creem em Deus. Para citar só um, está aí o doutor Francis Collins, notável biólogo evolucionista e diretor do Projeto Genoma Humano, autor de “A Linguagem de Deus: Um Cientista Apresenta Evidências de que Ele Existe”.

As evidências indicam que existe algo divino lá fora. Ou talvez lá dentro, como sustentou o cientista e cosmólogo Paul Davies, autor de Goldilocks Enigma.

Mas, existe guerra entre ciência e religião? Embora complexa a relação entre ambos, a resposta, com certeza, é não. É que a natureza está aberta a muitas interpretações legítimas. Ela pode ser interpretada, entre outras, de forma ateísta, deísta e teísta, mas não exige ser interpretada por nenhuma delas, afirma Alister Mcgrath&Joanna McGrath, in “O Delírio de Dawkins, editora Mundo Cristão,SP,2007,p.63.

Diante de um mundo de profundas descobertas científicas, é maravilhoso poder usufruir dos avanços tecnológicos que nos levam em direção a muitas descobertas no tratamento e cura de doenças que ainda atemorizam a humanidade. É certo que a ciência avança , mas os cientistas – assim como todos nós – não devem se tornar escravos da razão, principalmente porque o homem não é somente razão, mas também coração, sentimento e emoção, como já dizia B.Pascal.

A fé, sozinha, fanatiza e leva à radicalização extrema; enquanto a razão, sozinha, leva à arrogância. A razão é conhecimento adquirido da ciência; enquanto a fé é conhecimento de Deus e provém de quem crê.

Mas, tanto a luz da razão quanto a luz da fé, ambos provém de Deus e, por isso, é preciso fé e razão juntos. São inseparáveis; uma complementa a outra. Afinal, é Deus quem dá o dom do conhecimento e permite as descobertas e o avanço científico que deve ser usado a bem da transformação do mundo e a serviço do homem, e não contra o homem.

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eldes@terra.com.br