Homilia Pe. Ângelo Busnardo- VI Dom. da Páscoa.

At.15,1-2.22-29 / Ap.10-14.22-23 / Jo.14,23-39

Não se pode contestar ou negar os dogmas, mas nem tudo aquilo que envolve a vida da Igreja é imutável. Há coisas e costumes que, com o passar dos anos, sofreram modificações. A circuncisão foi imposta por Deus quando fez aliança com Abraão na qual lhe prometeu dar aos descendentes dele a posse da terra de Canaã: 10 Esta é a minha aliança que devereis observar entre mim e vós e tua descendência futura: circuncidai todos os homens de vosso meio. 11 Circuncidareis a carne do prepúcio: esse será o sinal da aliança entre mim e vós. 12 No oitavo dia do nascimento serão circuncidados todos os meninos, de cada geração, mesmo os filhos dos escravos nascidos em casa ou comprados de algum estrangeiro, não pertencentes a tua raça. 13 Seja circuncidado tanto o escravo nascido em casa como o comprado a dinheiro. Assim trareis em vossa carne o sinal de minha aliança para sempre (Gn.17,10-13). O objetivo da circuncisão não era propriamente religioso, mas higiênico. Os recursos que o povo tinha, na época, não lhe permitia tomar banhos freqüentes e isto aumentava a possibilidade de transmissão de doenças do marido para a esposa. Como no tempo de Jesus a maioria dos povos não judeus não praticava a circuncisão, ao anunciar o Evangelho aos gentios, os apóstolos simplesmente ignoraram a circuncisão.

O diácono Felipe batizou o etíope, funcionário de Candace, sem exigir que fosse circuncidado: 36 Seguindo o caminho, encontraram água e o camareiro disse : “Aqui existe água, o que impede que eu seja batizado?” 38 Mandou parar o carro, e ambos desceram para a água, Filipe e o camareiro, e Filipe o batizou (At.8,36-38).

São Pedro batizou Cornélio e o grupo rezava com ele sem exigir que fossem circuncidados: 44 Pedro ainda estava falando, quando desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviram a pregação. 45 E os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, ficaram perplexos porque o dom do Espírito Santo tinha sido derramado também sobre os pagãos. 46 De fato ouviam-nos falar em várias línguas e glorificar a Deus. Então Pedro tomou a palavra: 47 “Poderá alguém negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo, como nós?” 48 E mandou batizá-los em nome de Jesus Cristo. Então eles pediram que ali ficasse alguns dias (At.10,44-48).

Ao anunciar o Evangelho em Antioquia, São Paulo e São Barnabé também não exigiram a circuncisão para batizar os homens que se converteram.

A comunidade de Antioquia foi visitada por Judeus convertidos que afirmavam que o batismo não era suficiente para a salvação e que a circuncisão era indispensável: 1 Alguns homens que haviam descido da Judéia ensinavam aos irmãos: “Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podereis ser salvos” (At.15,1). O mal-estar produzido na comunidade de Antioquia resultou na ida a Jerusalém de São Paulo, Barnabé e alguns membros da comunidade e na convocação do Concílio de Jerusalém. O concílio decidiu dispensar a circuncisão. Atualmente também surgem desentendimentos por causa de inovações que não atingem a essência da prática religiosa.

Jesus instituiu a Eucaristia na última ceia após celebrar a páscoa dos judeus que consistiu no consumo de um cordeiro. Jesus e os apóstolos comeram o cordeiro reclinados em poltronas segundo o costume dos banquetes oficiais na época. Terminada a páscoa dos judeus, Jesus consagrou o pão e o distribuiu aos apóstolos sem mandá-los ajoelhar-se e sem colocar o pão consagrado na boca. No momento em que receberam o corpo de Jesus, os apóstolos ainda não tinham sido ordenados. Jesus ordena bispos os apóstolos com a frase “fazei isto em memória de mim: Fazei isto em memória de mim” (Lc.19,19b). A ordenação aconteceu depois da distribuição do corpo de Jesus.

Após a descida do Espírito Santo, os apóstolos começaram a celebrar a ceia do Senhor com a consagração do pão e do vinho no fim da ceia como Jesus tinha feito. Os participantes traziam de casa os produtos que eram consumidos na ceia, inclusive o pão e o vinho que seriam consagrados no fim da ceia. No fim da ceia, o apostolo consagrava o pão e vinho que cada família tinha trazido e era consumido pelos participantes. Nos primeiros séculos, a Igreja foi perseguida e o procedimento eucarístico não foi modificado.

O Imperador Constantino (272-337) deu liberdade à Igreja e, a partir daí, começou o culto público e construção de templos e novos costumes foram introduzidos na celebração da Eucaristia. Enquanto foram usados pães sem fermento do tipo usado pelos judeus para celebrar a páscoa, não foi possível distribuir a Eucaristia na boca. Com a invenção da hóstia do formato e tamanho que usamos hoje foi possível distribuir a Eucaristia colocando o corpo do Senhor na língua. Não tenho a data em que isto aconteceu mas não foi nos primeiros séculos. Para incentivar o respeito à Eucaristia, não sei em qual data, foi introduzido também o costume de ajoelhar para receber o corpo de Jesus. Ultimamente foi introduzido o costume de receber a hóstia consagrada na mão permanecendo de pé.

O importante é receber a Eucaristia de forma respeitosa e em estado de graça. A posição corpo, reclinados na última ceia, sentados no tempo dos apóstolos, ajoelhados ou de pé, na boca ou na mão é secundária.

O grande mal no nosso tempo é que uma porcentagem alta daqueles que hoje comungam, de pé ou ajoelhados na mão ou na boca, recebe a Eucaristia em pecado mortal, cometendo um sacrilégio. Cheguei a esta conclusão atendendo confissões e induzindo as pessoas que confessam comigo pela primeira vez a fazer uma revisão dos pecados cometidos no passado. Se as pessoas não forem ajudadas a rever os pecados cometidos no passado, muitos que fizeram sexo fora do matrimônio e casaram em pecado mortal cometendo um sacrilégio não confessem estes pecados e comungam em pecado mortal. Entre os pecados não confessados está também o aborto, uso da pílula do dia seguinte e uso do DIU (dispositivo intra-uterino) que pode provocar um aborto por mês.

A maneira de receber a comunhão é secundária. Portanto, erra o padre que recusa dar a comunhão para as pessoas que ajoelham e querem receber a hóstia na língua. Erra também o católico que não comunga porque o padre não dá a comunhão para as pessoas que querem recebê-la na língua e de joelhos. Na minha missa, ambos são bem vindos, contanto que estejam vestidos adequadamente e mantenham uma postura respeitosa.

Os sacerdotes que exerciam o ministério no templo de Jerusalém eram obrigados a usar paramentos especiais para presidir as cerimônias. A indumentária sacerdotal está descrita no capítulo 39 do livro do Êxodo.

Jesus sempre se vestiu como se vestiam os homens do tempo dele. Celebrou a primeira missa, instituiu e distribuiu a Eucaristia com a mesma roupa que tinha usado durante aquela quinta feira. Os apóstolos também não usavam roupas especiais para celebrar a Eucaristia. Séculos depois, quando a Igreja foi autorizada a celebrar cultos públicos, foram introduzidos paramentos específicos para as cerimônias litúrgicas. As indumentárias vistosas que são usadas atualmente pelo papa, cardeais e bispos foram introduzidas na época em que a Igreja se tornou também uma potência política e os bispos eram ao mesmo tempo autoridades religiosas e governadores de províncias. Não tenho nada contra as indumentárias papais, cardinalícias e episcopais. A batina usada pelos padres também nunca foi usada ou exigida por Jesus e nada tenho contra os padres que continuam a usá-la, mas não faz parte da essência do sacerdócio. Quem critica os padres que continuam a usar a batina está errado e quem critica aqueles que não a usam também não está certo.

Deus instalará na terra a nova Jerusalém, o reino que pedimos no Pai Nosso, livre do sofrimento e da morte: 2 Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu do lado de Deus, ornada como uma esposa se enfeita para o esposo (Ap.21,2). Jesus estará presente quando Deus restaurar o novo paraíso terrestre e poderá ser visto por todos: 3 Ouvi uma voz forte do trono, que dizia: “Eis a tenda de Deus entre os homens. Ele levantará sua morada entre eles e eles serão seu povo e o próprio Deus-com-eles será o seu Deus (Ap.21,3). Porém as almas das pessoas que já morreram não farão parte desta nova Jerusalém, porque estarão no céu, no purgatório ou no inferno.

No fim do mundo que acontecerá no último dia, todas as almas voltarão para a terra para a ressurreição do corpo e participar do julgamento final. O purgatório acabará e sobrarão apenas céu e inferno. Esta nova visão da Jerusalém que desce do céu representa de uma forma materializada o local onde irão morar as pessoas salvas ressuscitadas: 10 Levou-me em espírito a um grande monte bem alto e mostrou a cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus. 11 Tinha a glória de Deus, seu brilho era semelhante à pedra mais preciosa, como uma pedra de jaspe cristalina. 12 Tinha um muro grande e alto e doze portas. Sobre as portas, doze anjos e nomes escritos. São os nomes das doze tribos de Israel. 13 Da parte do oriente três portas, da parte do norte três portas, da parte do sul três portas e da parte do poente três portas. 14 O muro da cidade tinha doze pedras fundamentais. Sobre elas os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (Ap.21,10-14).

Obviamente, no céu não haverá templos e não será necessário algum tipo de luz para iluminar: 22 Não vi nela templo algum. O Senhor Deus Todo-poderoso é seu templo e o Cordeiro. 23 A cidade não tem necessidade de sol nem de lua que a iluminem. Pois a glória de Deus a ilumina, e sua luz é o Cordeiro (Ap.21,22-23).

Muitos acreditam e afirmam que amam a Deus. Mas na realidade, poucos amam a Deus. Somente aqueles que observam os mandamentos amam a Deus: 23 Jesus lhe respondeu: “Se alguém me ama, guarda minha palavra; meu Pai o amará, viremos a ele e nele faremos morada (Jo.14,23). Jesus afirma que Ele mesmo permaneceu no amor do Pai, porque observou os mandamentos dele: 10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu também guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor (Jo.15,10). Portanto, aquele que afirma que ama a Deus mas não observa os mandamentos é um mentiroso.

O Pai, Jesus e o Espírito Santo são três pessoas divinas que formam um só Deus. Pela natureza divina as três pessoas são iguais. Mas Jesus se rebaixou ao assumir a natureza humana através da encarnação: 6 Ele, subsistindo na condição de Deus, não pretendeu reter para si ser igual a Deus. 7 Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se solidário com os homens. E, apresentando-se como simples homem, 8 humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte da cruz (Fl.2,6-8). Antes da morte e ressurreição, Jesus estava efetivamente numa situação inferior ao Pai, apesar de ser igual a Ele pela natureza divina. O Pai e o Espírito Santo não estavam sujeitos ao sofrimento e à morte, enquanto o Verbo Encarnado, por ter assumido um corpo feito de terra amaldiçoada (Cf.Gn.3,17), precisava sofrer e morrer para recuperar a posição que possuía antes de se encarnar.

Código : domin837

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Angelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 01/05/2013
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