O livro sagrado do povo de Deus
Padre Geovane Saraiva*
Digamos que a Bíblia é a Cartilha, a gramática ou enciclopédia do povo de Deus, que de modo correto, orienta o ser humano, nas diversidades de dons, talentos, carismas e funções. Ela foi escrita num passado distante, por pessoas que viveram determinados contextos, diferente do nosso, mas isso não importa. Ela é sempre atual e sua palavra é eterna. Por isso mesmo, Deus quer através dela, enriquecer suas criaturas. É graça divina contar com esse didático e pedagógico livro, ontem, hoje e por toda eternidade, na palavra de Josué: “Que o livro desta Lei esteja sempre nos teus lábios: medita nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de agir de acordo com tudo que está escrito nele. Assim serás bem sucedido nas tuas realizações e alcançarás êxito” (Js 1, 8).
Na Bíblia Sagrada encontramos a grande ordem expressa por Jesus, tendo sua origem em Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo, a partir do mistério da encarnação e da redenção, que podemos chamar de mistério pascal, isto é, realização plena da humanidade, no comunicado à Igreja, de que ela é missionária, é enviada com a seguinte finalidade: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando- as a observar tudo quando vos ordenei” (MT 28, 19-20); e ainda: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra (At 1, 8).
No Novo Testamento, a missão refere-se, em primeiro lugar ao Pai, que envia seu Filho Jesus, com encargo de realizar sua santa vontade e ao mesmo tempo consumar a obra do nosso bom Deus (cf. Jo 4, 34). Por sua vez, Jesus envia os doze, envia outros discípulos e também envia as discípulas, com a mesma missão de serem testemunhas, no anúncio da boa nova da salvação até os confins da terra.
Nossa missão, decorrente do batismo, é para que sejamos pessoas marcadas pela graça de Deus, no anúncio e no testemunho, com a tarefa de transformar a realidade, marcada pelo pecado e por todo tipo contradições, com o dever de fermentá-la e transformá-la numa nova civilização, apresentando ao mundo sinais de esperança e solidariedade, não através de belas palavras ou de pregações bonitas e milagrosas, mas acima de tudo, pela prática e pelo testemunho. Deus leva em conta à mística, bem com o testemunho e o modo coerente de viver.
A esperança de que a salvação chegou, no consolo definitivo de Israel tem seu ponto mais elevado no mistério de uma criança, na sua encarnação, morte e ressurreição. Pedro, Tiago e João, diante do contexto do mistério do Filho de Deus transfigurado, na montanha sagrada, ficam deslumbrados, de tal modo, que manifestam a vontade construir três tendas. Podemos compreender a alegria deles como algo fascinante, num ardente desejo de que aquele acontecimento extraordinário permanecesse e se perpetuasse, ao ser revelado lá o rosto do filho amado do Pai. “Eis o meu filho amado, em quem pus toda minha afeição, escutai-o” (MT 17, 5).
Olhando para realidade da transfiguração, nós cristãos, precisamos sempre mais nos conscientizar da nossa missão, do nosso compromisso de mudar e transfigurar o mundo, nunca nos afastando da ordem do Mestre, de sermos operários da sua vinha, na vida que nos foi dada por Deus, certos de que, “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Gl 6, 14).
A ordem de Jesus é para se realizar em nós, ao abraçarmos seu projeto de amor, que nos faz lembrar o grão de trigo, que cai na terra e morre para produzir o fruto desejado (cf. Jo 12, 24). O maravilhoso nisso tudo é termos Deus Pai, na sua bondade infinita para conosco, sempre pronto a nos oferecer a oportunidade de recarregar nossas baterias, ao mesmo tempo em que quer afastar de nós todo tipo de tentação, sobretudo, a tentação do imediatismo e a da falta paciência e da não aceitação da cruz, sempre necessário e imprescindível, como o próprio Jesus afirma: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (MT 16, 25).
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com